Ontem dei com este artigo que me chamou logo a atenção, e que não é mais que um comentário a um outro artigo, sendo este, por sua vez, um comentário ao comentário de um artigo. Mas isto tem mais que se lhe diga, pois além daquele comentário ao comentário inicial, há ainda os comentários dos leitores, que mereceriam da minha parte (e de muita outra gente que os lesse) um rotundo "sem comentários". Mas pronto, comentários ainda não pagam imposto, portanto vamos comentar (pena que "mentar" não faz qualquer sentido, senão teria um cu-qualquer-coisa para fazer uma chalaça).
O artigo original foi publicado no Times londrino, e
fica aqui o link, mas vou adiantando que para ler na íntegra é preciso ser assinante, e para ser assinante do Times é preciso ser muito, mas mesmo muito cabeçudo - e digo isto com a segurança de que ninguém que esteja a ler estas linhas é assinante do Times. Sei lá, seria o mesmo que a Simone de Oliveira fazer de voz convidada do último single dos Moonspell. No entanto fica aqui o primeiro parágrafo daquele artigo, que dá logo para entender que o gajo que assina aquela prosa tem um ou outro problema mal resolvido com esta ou aquela pessoa ou pessoas:
Portuguese cooking is the worst on earth. Or, at least, the worst of any warm nation on earth. Obviously, Irish cooking could give it a run. Or Polish. But in its leaden, oversalted blandness, the cuisine of Portugal is, at best, what English cooking would be if we had better weather.
Pronto, aqui está, e o autor é um tal de Giles Coren, crítico de culinária, que apesar do nome não dizer muito tem 270 mil seguidores no Twitter. Isto vale o que vale, há pessoas que seguem tanta gente no Twitter que nem em dois tempos de vida conseguiriam ler tudo o que por ali vai, mas tratando-se de crítica de culinária e posto nestes termos, é grave, e mais grave ainda se torna quando em causa está o bom nome (e comida) de um restaurante e do seu chefe, neste caso Nuno Mendes e o seu Taberna do Mercado, situado no Old Spitalfields Market, na Commercial Street. Estão a ver Covent Garden? Pois, então devem estar a alucinar, pois não é nada normal estarem a ver um local a milhares de quilómetros daqui à frente dos olhos, mas fica um bocado longe de lá. Mas quem for pela crítica deste Coren-coiso, não vai querer saber onde fica, pois o tipo escreve horrores quer do local, quer da comida portuguesa em geral. E não, não está a ser sarcástico naquele parágrafo que transcrevi - dali só vai piorando. Coitado.
E sei tudo isto não por ter lido aquele artigo, mas sim por ter lido
este, mais à medida do meu bolso para pagar o que o evento da imprensa online quis que fosse gratuito. A autora é uma tal Lucy Pepper, que segundo a sua nota biográfica disponível na edição online do Observador, é inglesa, vive em Portugal desde 1999 e é ilustradora, desenhista, cartoonista e etceterista. Podem ver
aqui a sua página pessoal. No seu artigo, Lucy explica-nos quem é Giles Coren, e porque é ele uma besta. Bem, não sei até que ponto o português escrito desta autora lhe permite elaborar um texto tão cuidado e com um recurso a um estilo tão coloquial, mas existe uma versão em inglês do mesmo logo em baixo, portanto...
who cares? Fiquei mais descansado depois de o ler, pois assim confirmei as minhas suspeitas iniciais: Giles Coren cheira a cocó, e isto explica-se pela sua dieta, que consiste na totalidade disso mesmo: cocó.
Agora vamos pôr as coisas em pratos limpos, que eu sei lá quem andou ali a comer antes, e a cacostomia pode ser contagiosa. Adiante. Os ingleses são um bocado parvos. Pronto, já disse. Além disso são ligeiramente palermas, com a mania das grandezas, e de que mandam no mundo, e que eles é que sabem, eles é que viram, eles é que fritam, assam, e levam-me ao bocejo. Mas atenção que digo isto com carinho, e nada me move contra os ingleses, que diacho. Chamo-os de palermas da mesma forma que chamo os alemães de nazis ou os russos de bêbados - são o que são, pronto, o que fazer perante as evidências. Daí que é possível que no texto da Lucy Pepper se note alguma daquela arrogância, ou pelo menos para nós que somos "pão-pão, queijo-queijo", e entendemos assim, e que é daquelas coisas que carece de um estômago forte para aguentar às vezes. Mas para quem tomou a vacina anti-britânica e é imune a estas "custard pies" que os tipos debitam de vez em quando, a pretensa arrogância da senhora não é nada, e reparem que eles nem pensam que estão a ser arrogantes, atenção; tudo o que cada um deles acha "o máximo" é mesmo "o máximo"...para eles, apenas.
Nós os portugueses não cometemos o pecado da arrogância - e porque haveríamos nós de o cu meter (bingo!)? Se os ingleses não têm razões para sê-lo, nós ainda ficamos a dever algumas razões que levámos fiadas. Contudo temos o defeito da iliteracia, seguido de uma boçalidade que nos faz "levar tudo à frente" sem que exista uma razão para tal. E notem como digo "nós", incluindo-me eu próprio nesse rol. Apesar de não reconhecer em mim esse defeito em particular, tenho outros defeitos, e por isso não me dou ao luxo de me achar superior a ninguém. Falsa humildade da minha parte? E que tal ""pau enfiado pelo recto acima" da vossa parte, que põem defeitos em tudo, e apesar de pobrezinhos ainda são mal agradecidos. Ah pois é, senão vejam isto:
Aí está. Mais uma vez optei por não ocultar a identidade dos autores dos comentários, e além de apenas o primeiro se identificar em condições, suponho que estes pessoas queiram que o mundo saiba que estão cheios de razão, e...ALDRA! Pronto, pronto, acalmai-vos, eu sei, têm o direito à opinião, mesmo que esta seja no sentido de agredir mais alguém. Porreiro, pá. O primeiro e único a identificar-se nesta sequência é o Tiago Magalhães, que faz aquilo com que tenho deparado muito ultimamente, e que seria objecto de estudo da Psiquiatria, caso este ramo da medicina não o descartasse como sendo "piegas e inútil": NÃO LEU, e mesmo assim acha-se no direito de opinar em duas linhas que "é mau" - o velho "nunca comi mas não presta, portanto não quero que mais ninguém coma", uma máxima que vai tendo cada vez mais adeptos e seguidores.
Segue-se o comentário de um tipo que para se identificar usa algo que nem cabe na categoria de pseudónimo, pelo que fica para a história como "anónimo". Este anónimo é um tipo bera, do piorio, e fico surpreendido que mesmo assim prefira não se identificar, pois parece ter orgulho da sua enorme boçalidade. Não era para ir atrás dele pedir-lhe batatinhas, tipo "olhá lá pá, então isso é assim?", e agora pensando bem nem devia levantado esta questão - que se lixe, por mim podia-se auto-intitular Barão do Faz-com-a-mão, que será um nome que lhe assenta que nem uma luva, caso seja mesmo assim que trata toda a gente, fazendo uma psicografia não encomendada, onde encontra todo o tipo de "complexos" e detecta na autora intenções que só alguém que tenha partilhado a intimidade com ela poderia identificar com aquele grau de certeza. Mais um "destroyer", que ainda por cima nem contribui para a discussão, enfim.
A seguir chega um comentário pleno de redenção, supostamente da autoria de um Miguel Narciso Viana - e porque não? Sensato, cordial, disciplinador, sem no entanto tentar dar uma de paternalista, e sobretudo tocando no ponto chave: é desonesto comentar sem se ler, ainda para mais se for no intuito de apenas minar o conteúdo do artigo ou a credibilidade da sua autora. Certamente que alguém com os fígados especialmente avinagrados por esta cronista em particular ia ler o texto e encontrar mil e motivos para "pegar" com ela. Ou não, pois sabendo eu "o que a casa gasta", iria pegar em algo para depois usar completamente fora de contexto, ou fazer alguma interpretação alucinada de uma ou de outra passagem. Quem combina o fel com o mel, sabe fazer melhor; só fel não dá certo.
Depois um pouco mais abaixo dá-se o regresso ao corte-na-casaca sem ter tido uma única aula do curso de alfaiate. O Parte-Molas, que tem nome de gatuno saído da Crónica dos Bons Malandros, resolveu embirrar com o gosto da Lucy Pepper, que "ainda não consegue comer açorda" - recorde-se que a autora não é originalmente portuguesa, dizendo "ter-se apaixonado pelo nosso país quando o visitou pela primeira vez". Aparentemente isso não chega para convencer estes tipos que ela não é alguma "agente infiltrada" que os "bifes" enviaram para "dizer mal de nós", como se tal fosse necessário para que eles o fizessem de qualquer jeito. Olhando para estes comentários mais motivos encontram para o fazer, digo eu. Mas respondendo ao irrespondível, e aproveitando para deixar mais uma pérola de sapiência: sabe o que é que eu acho da Pepper não gostar de açorda? Acho óptimo, pois na feliz ou infeliz eventualidade de me encontrar no mesmo sítio que ela, com a barriga a dar horas, e tudo o que há para se comer é uma dose de açorda, adivinhe quem sai de lá com fome? Pista: eu não sou, com toda a certeza.
Se certeza alguma tenho é que estes comentários são prova de um certo atraso que ainda existe no que toca em aceitar que alguém de fora venha ter uma opinião própria, e à luz da sua matriz e da sua origem sobre aquilo que é nosso.É algo que ainda se pode atribuir a vários anos de isolamento, e à persistência de um certo jeito marialva de se achar "o maior", e tratar os estrangeiros sempre com uma reserva sabe-se lá do quê: "olha-me este...querem lá ver, ah? com que então...ai é, cantas bem mas não me encantas, ó camone...tu daqui não levas nada". O próprio Lord Byron apaixonou-se pelo nosso país, nomeadamente por Sintra, e assim continuou apaixonado, apesar de ter relatado "episódios desagradáveis com os portugueses" (os portugueses oitocentistas da primeira metade do século eram todos parecidos com personagem do Zé Povinho, retratado 50 anos mais tarde pelo Rafa Bordas Pina). E há mais, querem ver?
Este é um livro que Lucy Pepper fez em colaboração com a jornalista Célia Pedroso sobre gastronomia portuguesa, onde pretende, e passo a citar, "reparar uma grande falta de informação culinária para turistas que visitam Portugal". Certamente que alguns vão dizer que está a ser arrogante, que já havia um qualquer que os turistas desconhecem completamente mas existe portanto são todos umas bestas, ou ainda que o título "Eat Portugal" é uma "esperteza saloia" da sua parte, pensa que estamos todos a dormir, e por isso usa o nosso país para "elevar a sua auto-estima". Pensando bem, é isso que ela faz, mesmo sem tentar de todo. Olha Lucy, bom trabalho, obrigado pela explicação quanto à crítica idiota do palerma do teu compatriota, e olha, sabes o que mais? Manda estes gajos à fava, ou como se diz no teu país de origem: "Send them to the faver beans".
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