domingo, 11 de novembro de 2012

Viva o S. Martinho


(...) Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto. Um dia um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe esmola e, como não tinha, o cavalariano cortou seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte. Durante a noite o próprio Jesus lhe apareceu em sonho, usando o pedaço de manta que dera ao mendigo e agradeceu a Martinho por tê-lo aquecido no frio. Dessa noite em diante, ele decidiu que deixaria as fileiras militares para dedicar-se à religião.

Hoje comemora-se no calendário cristão o dia de S. Martinho de Tours, bispo daquela cidade francesa, nascido na Hungria. Assim como S. Sebastião, um soldado romano que se converteu ao crisitanismo. Coisas de há quase mil anos, hoje em dia pouca é a gente que vê Deus, ou conversa com Ele, e depois converte-se. Quem sabe se Deus desistiu, ou tem mais que fazer. Imaginem que Stalin, Hitler ou Mao tinham "conversado" com Deus? As vidas que se poupavam, os horrores que se evitam. Duvido que muita gente saiba a origem desta celebração que se assinala a 11 de Novembro. O S. Martinho é normalmente uma desculpa para se dedicarem a coisas sazonais, como comer castanhas ou bacalhau, beber água-pé ou jeropiga. Sobretudo é um pretexto para a bebedeira, que é o que a minha gente gosta. Duvido que muita gente vá à igreja neste dia prestar homenagem ao santo.

Recordo os S. Martinhos passados com um sorriso. Iamos a casa de uma das avós, comíamos castanhas (cozidas, domage, temperadas com erva-doce), e bebíamos jeropiga, água-pé ou aniz escarchado. Sim, mesmo os mais novos. Quando o dia de S. Martinho caía num dia de semana, no dia seguinte a malta estava de ressaca na escola. Uma colega minha vomitou uma vez na aula de Ciências - e tinhamos qualquer coisa como 11 ou 12 anos. Isso mesmo. Em Portugal é giro que pré-adolescentes bebam álcool. É uma coisa cultural. Fica bem. É festa. É uma homenagem - mesmo que inconsciente - a S. Martinho de Tours. Se bem que pouca gente saiba de quem se trata.

Quando estudava na primária, fazíamos um magusto, e a nossa professora pedia-nos para "trazermos castanhas de casa". E trazíamos. Depois fazíamos uma fogueira no pátio da escola e comíamos as tais castanhas, junto com as professoras. Alguns colegas queixavam-se que "as professoras 'mamavam' as castanhas que comprávamos". Eram os deliciosos tempos do pós-PREC, em que se sentia ainda na margem sul onde pontificava a Aliança Povo Unido (APU), uma das metamorfoses do Partido Comunista depois do 25 de Abril. São recordações que me fazem sentir que a festividade de S. Martinho tem o cheiro do povo, do sebo e do chulé, a mesa suja das cascas de castanhas e do tintol entornado. Que viva o S. Martinho, portanto.

1 comentário:

Anónimo disse...

povo, sebo, chulé, tintol, vomitado, povo, pessoas,
realmente, só porcaria