quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Pretensa pertença



Arquitecto Rui Leão: "photo bomb" mucho?

"...e lá está gajo a atacar falar outra vez a da Agnes Lam", é o que estão a pensar já alguns leitores. E permitam-me que tenha tomado a liberdade de editar aquela diatribe inicial, que com esta história da legislação do assédio sexual começo a ficar seriamente preocupado. Não pela ideia em si, que é bastante válida e uma benção para as vítimas deste tipo de humilhação, mas num território onde foi noticiado ainda esta semana que há duas "artistas" lá para a zona norte da cidade que ficam junto das passadeiras para peões e depois saltam para à frente de automóveis em marcha lenta alegando que "foram atropeladas na passadeira" e depois reclamando uma indemnização, até do Menino Jesus dá para desconfiar. Em todo o caso tenho algo a acrescentar ao habitual mono-analítico "diz-nos alguma coisa que a gente não saiba" da senhora/menina/comunicadora/professora/candidata à AL/etc. etc.. E parem de me tratar como se fosse eu o culpado por ela ser assim! E já agora pedia aos senhores que dizem que ela me deu uma tampa quando nem a conheço pessoalmente. Em suma: não se projectem nem aos vossos "apetites" na minha pessoa, se não se importam. Agradecido.

Na edição de hoje do HM, Agnes Lam começa por nos servir as habituais "pataniscas do óbvio", mas desta vez com um ligeiro atraso: "o problema é a habitação". Hmmm...e eu pensar que entre 2007 e 2009 as rendas andavam a aumentar no quadrúpulo e quintúpulo dos preços e a partir daí só podia baixar. Faz sentido, mas pelos vistos ando distraído e não estou a par do preço das rendas. Obrigadinho pela informação. O original, a novidade, a surpresa chega das comparações que faz com o nosso vizinho aqui ao lado, a RAEHK, onde segundo ela, os jovens nascidos depois de 1990 não perspectivam poder adquirir habitação própria, devido aos preços proibitivos, e alguns "vivem em gaiolas", aquelas camas tipo beliche onde paga apenas pelo espaço onde se fica deitado, não sendo seguir permitido utilizar o chão por debaixo da cama. Não é uma situação de todo nova, pois recordo-me ainda em 2000 de visitar um amigo em Tsim Tsa Chui, que vivia num quarto com pouco mais de dez metros quadrados e casa-de-banho comum no fundo do corredor do andar, e pagava por isso 10 mil HKD por mês - numa altura em que ainda se alugava um "duplex" em Macau por metade desse preço. Na altura do grande "boom" do imobiliário, há seis anos, falei com um agente imobiliário de Hong Kong sediado em Macau que me dizia que "enquanto não chegar perto dos preços de Hong Kong, o preço da habitação em Macau não vai parar de subir". Isto foi o que vi e o que me disseram. Convido qualquer perito a desmentir-me, a até fico grato por dar mais qualidade aqui à barraca.

Em Macau, e a menina Agnes sabe disto melhor que eu pois moveram para lá a Universidade onde ela trabalha, não há gaiolas mas há a Ilha da Montanha, que mais cedo ou mais tarde será uma extensão de Macau, e há Zhuhai, mesmo aqui ao lado, e vai-se preparando a abertura completa das fronteiras, para ser mais fácil ir e vir. Portanto, a população com esse problema da aquisição de habitação tem duas hipóteses para constar da alteração do endereço postal. Agora isto da pertença, bem, vamos medir a temperatura. Passe-me aí o termómetro para espetar no rabiosque dos pacientes. Não, querida, o termómetro mesmo, não o MEU termómetro. Isso...pronto, um no rêgo de Macau, outro no de Hong Kong. E parece que este último ficou "au point" mais rapidamente - deve ser da febre altíssima que na verdade nunca chegou a baixar. Os honconguenses, como disse o seu antigo professor JRD na segunda-feira no Telejornal, nunca gostaram da China, e não se identificam com os compatriotas do continente. São assim, e pronto, o que é que se pode fazer? Nem que tivessem todos "chalets" e "villas" à volta de Admiralty e Causeway Bay com dois congoleses a abaná-los com uma folha de palmeira equanto bebem um suco de açaí esticados numa rede de corda tunisina eles estariam satisfeitos. E é só isso. Ah o termómetro de Macau vai estar pronto logo que mudemos de parágrafo. Vamos a isso.

Portanto, portanto...tépido, como costume. Não gosto é nada da cor destas fezes; aparenta vir a levar uma dieta muito variada. Os tais "jovens de Macau" nascidos depois de 1990 tinham apenas dez anos em 2000, e como é que vão ter sentido de pertença a uma realidade que nasceu depois deles, para a qual não contribuem, e tudo o que sabem do tempo dos portugueses ou lhes é (mal) contado, ou aprendem (mal) na escola. E que referência vão ter eles em termos de "pertença", se os próprios tipos que os governam têm segundas residências na Austrália, Canadá e Estados Unidos, e para onde mandam sempre os filhos para estudar, dizendo-lhes que "se aguentem por lá até novas ordens"? Deve ser porque depositam uma confiança cega no futuro de Macau. O seu colega Larry So (outro que me faz saltar da cadeira e gritar alto "ai não me diga, a sério?") veio no outro dia no mesmo jornal dizer que "em Macau vai acontecer alguma coisa". Sim, e pelo menos para mim basta que eu não fique deitado na cama o dia todo para que aconteça alguma coisa, e mesmo que ficasse ainda iam acontecer "coisas" do foro excretório, e quem sabe digestivo. Mas pronto, não me vou armar em espertalhão e sei muito bem o que ele quis dizer; posto isto, discordo completamente. Acontecer o quê, exactamente? Um mini-Occupy Central? Não creio que o fiasco seja algo assim tão motivador. O que provavelmente vai acontecer vai ser a mesma coisa que acontece com as temperaturas quer do mercado imobiliário, quer dos respectivos rabiosques: quando em Hong Kong subir, em Macau pode ser que fique pelo menos mais morninho.

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