domingo, 24 de novembro de 2013

O rei dos chuchas


Esta semana a actualidade noticiosa em Portugal ficou marcada pela manifestação dos agentes das Forças de Segurança, que foram protestar junto do Parlamento na noite de quinta-feira contra o Orçamento de Estado para 2014. Os ânimos estiveram exaltados, e os polícias chegaram mesmo a galgar as escadas de S. Bento, uma imagem a fazer lembrar o filme "Braveheart". Podia ter sido igualmente épico, não fossem já oito da noite. Fosse durante o horário de expediente e tinham acagaçado os srs. deputados que aprovaram o infame orçamento em causa. A polícia de choque foi chamada a intervir, e acabou tudo em paz, não se repetindo o célebre episódio dos "secos e melhados" dos anos 80.

Das reações aos protestos da classe da polícia, a mais mediática terá sido a do ex-presidente Mário Soares, que aproveitou mais esta sacudidela no executivo de Pedro Passos Coelho para enunciar uma nova teoria do caos, dizendo que "é preciso ter noção de que a violência está à porta", e ainda que "Portugal está à beira de uma nova ditadura". Soares pediu a demissão do Presidente da República e do primeiro-ministro, recomdando inclusive que o façam "pelo próprio pé", e assim evitem "uma onda de violência". Do lado do Executivo a resposta veio do vice-PM Paulo Portas, que considera as declarações de Soares graves, e que com elas "legitima, ainda que indirectamente, o uso da violência". Indirectamente? Isto é o Portas a ser bonzinho. O que quer dizer "saiam pelo próprio pé senão há violência", senão isso mesmo?

Não fosse Mário Soares um senhor com uma certa idade, a quem o barulho das folhas a cair deve incomodar, e desconfiava que anda a escutar o disco "Sex and violence", do grupo "punk" britânico Exploited. Para uma plateia de outros "chuchalistas", Soares não incitou à violência, não senhora. Foi mais do tipo "se levarem na tromba não digam que não vos avisei", pois já conseguiu prever com a sua bola de cristal que Cavaco e Passos iam ser corridos ao pontapé, em vez de sairem pelo próprio pé. Os "chuchalistas" aplaudiram. Mário Soares, o Mao Zedong do PS, pode até engasgar-se com uma pipoca e começar a estrebuchar, que os seus admiradores batem palmas. Suspeito que ainda o vamos ter a concorrer a umas próximas presidenciais, e pode ser que desista quando tiver 120 anos. Depois de morrer é embalsamado e depositado num mausoléu ao lado da sede do Largo do Rato.

Não me recordo de Soares ter ficado tão preocupado com uma eventual onda de "violência" durante os períodos de insatisfação generalizada que se registaram no governo anterior a este, liderado pelo seu afilhado, o Zé Trocas. É engraçado que diga que estamos à beira de uma nova ditadura, pois se bem me lembro foi o Trocas que andou a perseguir jornalistas, a ordenar buscas a jornais e a mandar cancelar noticiários da TVI. E por falar em Zé Trocas, aí temos outro bom exemplo do cromo "lusitanus". Depois de ter chefiado dois executivos que nos conduziram a toda a velocidade para o precipício, aparece agora na RTP "escandalizado" com o actual governo. Ainda não o ouvi a dizer que "fazia melhor", mas isso deve ser porque ainda lhe resta um pinguinho de vergonha na cara. O próprio Soares sabe bem o que é isso de ser corrido do Governo, pois aconteceu-lhe o mesmo duas vezes. Not once but twice. Depois disso foi o que se viu, e agora ainda mexe. Bem dizia a minha avózinha que "a maldade conserva".


Não posso deixar de achar cómico quando oiço Mário Soares tão preocupado com a situação dos portugueses, ou com a austeridade. Estamos aqui a falar de alguém que aufere uma reforma de 500 mil euros anuais, nasceu no seio de uma família nobre, criou em 1991 uma Fundação com fins socioculturais incertos, mas que recebe milhões do Estado em financiamento. Sim, ele sabe do que fala, certamente. É verdade que "lutou" contra a ditadura, esteve preso sim, mas exilou-se em França em 1970 e voltou depois do 25 de Abril de 1974, depois dos seus "camaradas" lhe terem deixado a papinha toda feita. O "pai da democracia" é um democrata dos quatro costados, e odeia ditadores. Quando recebeu das mãos do ditador Mobutu Sese Seko o Grande-Colar da Ordem Nacional do Leopardo do Zaire, não lhe cuspiu na cara apenas porque estava com a boca seca, coitadinho. Estava "Seko", como o Mobutu.

O mais irónico é o facto de tudo o que Mário Soares é como politico, deve-o aos seus inimigos e adversários. É "monumento" à liberdade e democracia graças a Salazar, ganhou as primeiras presidenciais graças a Álvaro Cunhal, que lhe deu o voto dos comunistas, e realizou dois mandatos tranquilos graças aos governos de Cavaco Silva, que com o dinheiro dos fundos europeus levou Portugal a um período de prosperidade e desenvolvimento como há muito não se via. Ele bem tentou deixar-nos mais cedo na miséria, enviando de Belém para S. Bento cabazes cheios de vetos presidenciais, especialmente durante o seu segundo mandato. Enquanto Cavaco vai entrar para a História como o presidente da austeridade, Soares fica conhecido como o peixe-palhaço dos presidentes, montado num elefante na India, ou sentado num cadeirão em Belém a fumar um charuto.

Já que agora lança a nova teoria do caos com esta manifestação das forças de autoridade, recordo-me de alguns episódios caricatos envolvendo Soares e a polícia. Uma vez durante a sua presidência, seguia o "querido líder" dos chuchas num autocarro quando é apanhado num engarrafamento. Irritado coma demora, tira a cabeça de fora da janela e começa a berrar com o pobre agente da Brigada de Trânsito que tentava fazer o seu trabalho o melhor que sabia: "ó seu guarda, vamos lá a deixar passar, vá!". E não foi essa a única vez que Soares achou que está acima da lei. Ainda recentemente foi apanhado a conduzir a 199 km/h, e disse ao agente que o autuou para "mandar a multa para o estado, que eles pagam". O povo acha graça; outro qualquer ia malhar com o couro na choldra, mas "Soares é fixe". Aquando das suspeitas do seu envolvimento no tráfico de marfim e diamantes de África, sairam os restantes "chuchalistas" em sua defesa: "Mário Soares é um cidadão acima de qualquer suspeita". Aí está, não custa nada enganar os tolos: bastam papas e bolos.

A maioria dos portugueses, especialmente os mais desinformados, olham para Mário Soares como carinho e tratam-no com uma certa familiaridade. É o Marocas, o tio de toda a gente mas que se esquece de mandar uma prenda nos anos. Os mais atrevidos chamam-lhe o "Bochechas", que mais parece o nome de um cão daqueles tipo o buldogue. De facto Soares lembra um pouco o Mastife Francês, mas com um sotaque francês ridículo. O "cidadão acima de todas as suspeitas" completa 89 anos no próximo mês, uma idade respeitável. Não lhe nego o direito de participar da vida pública, seja qual for a sua idade, mas este personagem já há muito devia ter pendurado as chuteiras da oratória. Há uns vinte anos, diria eu. Se Soares eventualmente escrever as suas memórias o título devia ser: "Como enganar meio mundo e acabar com uma reforma de 500 mil euros anuais". Sucesso garantido, e quem sabe se o Marocas já tem um esboço lá gaurdado na mesma gaveta onde guardou o socialismo?

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