sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Angola não é halal


Uma notícia no mínimo curiosa que marcou a semana na actualidade informativa: Angola ter-se-á tornado no primeiro país do mundo a banir o Islão! Ouviram bem, baniram o Islão. Um país islâmico que decide banir as outras religiões já nem chega a ser notícia, mas isto é uma novidade de deixar qualquer um de boca aberta. Segundo a Comunidade Islâmica de Angola (CIA, curiosamente), foram destruídas no país oito mesquitas, os fiéis têm sido impedidos de orar, e as mulheres que usem o véu islâmico são perseguidas. Há ainda notícias que dão conta de agressões a muçulmanos, e durante a destruição de uma mesquita em Luanda no início do mês foram queimadas 120 cópias do Corão. Organizações de direitos humanos condenaram o sucedido, naquilo que consideram um "acesso de loucura" por parte do regime angolano. O governo de Luanda diz que tudo não passa de um exagero, mas a CIA garante que só não foram destruídas mais mesquitas devido ao mediatismo dado a estas notícias.

Angola é o maior país católico da África austral, e esta proibição do Islão deve-se a um detalhe meramente técnico. De acordo com a lei angolana, uma religião só é reconhecida se tiver um mínimo de 100 mil fiéis em pelo menos 12 das 18 províncias do país, uma medida que visa combater a proliferação de seitas com intenções duvidosas. Acontece que existem apenas 90 mil islâmicos numa população de 18 milhões, e o pedido de reconhecimento foi rejeitado juntamente com o de outras 193 organizações religiosas que não cumpriam os requisitos. Actualmente existem apenas 83 confissões religiosas reconhecidas em Angola, todas elas cristãs. David Já, president da CIA e líder da comunidade islâmica em Angola, diz que a falta de reconhecimento da crença impede-os de rezar nas 78 mesquitas que existem um pouco por todo o país.

A notícia espalhou-se como fogo em palha seca, e causou a ira de muçulmanos um pouco por todo o mundo. Na imagem em cima vemos um grupo de palestinianos a queimar uma bandeira de Angola - queimar bandeiras é o passatempo favorito dos palestinianos, uma espécie de desporto nacional. O regime de José Eduardo dos Santos, que se encontra actualmente hospitalizado e suspeita-se que esteja a sofrer de cancro, tem adoptado recente uma postura de confrontação a roçar a arrogância. Basta recordar o recente mau-estar em os governos português e angolano devido aos processos judiciais a correr na justiça em Portugal contra altas individualidades do governo daquela ex-colónia portuguesa, que levaram o próprio José Eduardo dos Santos a anunciar o fim da cooperação estratégica entre os dois países. Só que desta vez estão a comprar uma briga contra um inimigo perigoso, o Islão, e é bom que tenham a consciência de que estão a mexer num vespeiro.

A confirmarem-se os factos, não posso senão condenar a atitude do governo angolano, que demonstra assim intolerância com as minorias religiosas, mas não deixa de ser irónico que o Islão se venha agora queixar de...intolerância. Quer dizer, quando um país islâmico proíbe todas as outras confissões, é "normal", mas agora que provam do seu próprio remédio, vão a correr queixar-se ao tio. Uma religião que nega às mulheres os mais básicos direitos civis queixar-se do facto de não deixarem mulheres noutros países usar o véu é risível, e não me recordo de ver as tais organizações de direitos humanos se insurgirem com tanta veemência contra os ataques a igrejas católicas na Indonésia, ou igrejas coptas no Cairo. É caso para dizer que um dia é da caça, o outro é do caçador. E que outro sítio melhor para ir a caça que Angola?

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