quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Nuzinho, nuzinho, com a mão no bolso


Têm sido frequentes em Macau os casos de polícia envolvendo um tipo de criminalidade no mínimo curiosa. Trata-se de chantagem com recurso às novas tecnologias, e se resulta – quando resulta – é porque infelizmente em Macau ainda existe muita gente complexada. E burra. Começa sempre com uma conversa inocente entre um jovem e uma jovem numa daquelas salas de conversação que requerem o uso de uma câmara instalada no computador. Entusiasmam-se, tiram a roupa, e a vítima – normalmente o homem – realiza a sua fantasia, que neste caso suponho que será ficar nu em frente a uma mulher. Acho pouco. Do outro lado grava-se a conversa e as imagens, e mais tarde exige-se do exibicionista uma soma em dinheiro para não divulgar a inconfidência.

O caso mais recente envolveu um jovem de 20 anos, que depois de ter sido filmado em pêlo pela chantagista, esta pediu-lhe dois mil dólares norte-americanos (16 mil patacas) para não divulgar a gravação na internet. O jovem começou por transferir 10 mil patacas, mas a chantagista exigiu mais dez mil, e sem liquidez para corresponder à chantagem, resolveu contar tudo à polícia. Agora pergunto eu: e se tivesse o dinheiro? Certamente pagaria. E quantos não terão já pago? É por isso que existem tantos “artistas” deste tipo na net, que se aproveitam do excesso de pudor das suas vítimas. Entre os lesados temos muitos homens, mas temos também algumas mulheres. De todos estes há mesmo quem se disponha a pagar para que não sejam reveladas simples conversas onde revelam detalhes íntimos das suas vidas. Por vezes nem é preciso aos criminosos estar na posse de fotografias ou de vídeos.

Agora, o que faria eu nesta situação? Em primeiro lugar, nunca me envolveria em tamanho caldinho, até porque não tenho sequer câmara de vídeo no PC e não frequento este tipo de salas de conversação deprimentes. Na possibilidade de um em duzentos ziliões de alguém ficar na posse de imagens minhas completamente nu e decidisse fazer chantagem,dizia-lhe para ir em frente, força, e do que está à espera. Partindo do princípio que se trata de um desconhecido, a sua única finalidade é a extorsão, e recusando-me a ser extorquido, essas imagens não valem um tostão furado. O que ganha essa pessoa em divulgá-las se me recuso a pagar pelo seu sigilo? Caso as publique realmente, posso processá-la, passando-lhe a batata quente para as mãos. O que vai ela dizer em sua defesa? Que tentou fazer chantagem e eu não acedi?

Portanto nem tudo é tão mau quanto parece nestas circunstâncias, e basta ter um pouco de cabeça fria. E que mal tinha divulgar imagens de nus? Desde que eu não apareça nu a matar alguém, no meu local de trabalho ou a vender crack a criancinhas do jardim de infância, pouco me importa. Permitam-me a arrogância, mas o que é bom é para ser visto. Quem tem vergonha do seu corpo não se submete inicialmente a ficar nu em frente a um desconhecido. Quando vejo a fotografia de uma mulher nua ou uma imagem de pornografia, não julgo as pessoas, não divulgo a terceiros, não entro em contacto com os seus familiares, colegas ou entidade patronal. Só me diria respeito se fosse o meu filho ou filha, a quem devo a função de educar, e mesmo assim apenas enquanto forem menores de idade. E essa coisa do pudor já começa a cheirar mal. Não se esqueçam que foi completamente nus que todos viemos ao mundo.

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