Comemora-se hoje o 10 de Junho, dia de Portugal, Camões e das Comunidades. Se em Portugal os nossos compatriotas não encontram muitas razões para festejar, e espera-se que aproveitem o feriado para mais uma vez expressar o seu (justificado) descontentamento, para nós que estamos no estrangeiro é um dia especial. É comovente que nos seja dado um dia para reflectir sobre a nossa origem, a nossa História, os nossos antepassados, enfim, tudo o que a nossa pífia existência significa. É o que mais se aproxima da busca pelo sentido da vida que intriga o Homem desde que lhe foi dado o dom do raciocínio. Neste dia somos portugueses, acima de tudo. Ser português é um privilégio. Somos 10 milhões num mundo de mais de 7 mil milhões de alminhas. Somos uma elite de menos de 0,5% da população mundial. Não é português quem quer. Fomos escolhidos a dedo, meus amigos.
O dia 10 de Junho era feriado em Macau até 1999, e deixou de ser depois da transferência de soberania. Os feriados religiosos portugueses, desde os finados à Nossa Senhora da Conceição transitaram para a RAEM, uma decisão sensata derivada pelo respeito pelos usos e costumes do território contemplados no segundo sistema. Mas não custava nada deixar ficar também o 10 de Junho. Seria simbólico e simpático. Não reconheço no nosso dia nacional uma carga política tão significante que ofenda os partidários do anti-colonialismo. Afinal uma parte significativa da população (ainda a sua maioria, acho) tem nacionalidade portuguesa, mesmo que para muitos se resuma ao passaporte. Teria um significado histório, sobretudo. Mas deixem para lá, pois para mim é sempre feriado: meto um diazinho de férias e sinto-me cidadão da RAEM na mesma com Portugal no coração.
O dia começa com o içar da bandeira no Consulado Geral de Portugal, com a presença das individualidades representantes das instituições de matriz portuguesa. Segue-se a romagem à gruta de Camões, no jardim e praça com o mesmo nome, onde se deposita uma coroa de flores no local onde o autor dos Lusíadas se abrigou durante a sua passagem pelo Oriente. Faço questão de marcar presença todos os anos neste evento, e mais ainda desde que passei a morar a dois minutos do local. Ao final da tarde o cônsul-geral de Portugal abre as portas da sua residência oficial, o Hotel Bela Vista, dando uma recepção em forma de lanche-jantar sempre muito concorrido. Mais do que “ir ao pastel”, como alguns designam o evento, é uma oportunidade para privar com os nossos compatriotas mais distintos, bem como outros amigos de Portugal. Além disso não é todos os dias que temos a oportunidade de visitar o lindíssimo Bela Vista, o único hotel-boutique do território. Este ano temos a aliciante de conhecer o novo cônsul, o dr. Vítor Sereno, chegado recentemente ao território. Só nos resta aparecer e agradecer o convite, e ao mesmo apresentar-lhe os cumprimentos e dar-lhe as boas vindas.
Nunca entendi muito bem porque escolhemos o dia 10 de Junho para comemorar a portugalidade. Afinal foi neste dia que em 1580 perdemos a nossa independência e juntamo-nos à coroa espanhola, o que em retrospectiva foi qualquer coisa de humilhante. A explicação deverá ter algo a ver com a nossa natureza de sofredores e fadistas, julgo eu.Fazia mais sentido escolher o 1 de Dezembro, dia da Restauração, ou qualquer outra data heróica de que nos pudessemos orgulhar. Mas em Junho vem mesmo a calhar, que é mês de festarola. São os santos populares, chega o subsídio de férias, acabam as aulas, é só alegria. Cheira a sardinha assada com salada de pimentos, que convida a que se regue com um bom tintol. Vamos lá esquecer as desgraças por um dia, e a tal “troika”, que ainda por cima nem é uma palavra portuguesa, e erguemos bem alto o nosso copo aos nossos egrégios avós, os tais de que fala o hino e que são responsáveis por essa coisa tão complicada que é ser português. Para todos os portugueses em Macau, em Portugal e no mundo, um 10 de Junho muito feliz, e não se esqueçam quem somos. Somos os maiores, pá!
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