quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O caminho do coração passa pelo estômago


1) Já o tinha dito aqui há alguns dias e não é novidade para ninguém: o preço dos produtos alimentares está cada vez mais caro. Cansada de pagar cada vez mais, a população procura agora saber o porquê dos víveres aumentarem tantas vezes no mesmo ano, e se há alguém a ir-nos ao bolso. Aparentemente há; os intermediários que importam a carne fresca e outros produtos alimentares da China por A+B diz que está tudo mais caro, que é o transporte, o renminbi e não sei que mais, mas já não convencem ninguém. Quer dizer, a habitação está ao preço que está. Querem meter-nos a viver na rua. Os cuidados de saúde públicos cada vez mais degradados e o privado cada vez mais caro e inacessível. Querem matar-nos de doença. E agora isto chega ao estômago: querem matar-nos de fome. Os preços nos mercados estão tão altos que qualquer dia quando formos a um casamento em vez de oferecer os tradicionais lai si é melhor oferecer um pacote de bifinhos do lombo. E por falar em casamentos, os banquetes andam tão caros que já nem as ofertas pecuniárias dos convidados os pagam: dá prejuízo. Está tudo pela hora da morte. Isto tudo era lindo e fantástico se os salários médios da população andassem pelas 30 ou 40 mil patacas mensais. Aí andávamos todos a pagar com gosto e era uma festa. Infelizmente não é este o caso, e as famílias vão cada vez fazendo mais contas para esticar o dinheiro até ao fim do mês. Isto numa cidade que era suposto ser um oásis no contexto da crise mundial graças aos (cada vez maiores) lucros do jogo, é mau sinal. Sobretudo é sinal que há por aí alguns a enriquecer e outros a definhar. O Governo anunciou hoje que "vai tomar medidas" para combater o crescente preço da habitação e a inflação. Como assim? Mais cheques? É preciso que não se esqueçam de quem vota neles e...ah esperem. Esqueci-me que não são eleitos. Oh shit.

2) Agora falemos de coisas mais alegres. Está a chegar mais um Festival da Lusofonia, o que vale por dizer, mais um tiro no escuro na pasmaceira que a cidade vive durante a maior parte do ano. Uma notícia que contudo não me agrada muito: a cozinha dos países de expressão portuguesa vai ser transferida da zona das casas-museu da Taipa para o novel restaurante (?) Lusitanvs, perto das ruínas de S. Paulo. Por um lado talvez seja mais acessível consumir uma boa cachupa, um bom sarapatel ou um excelente caldo de chabéu sem ser no meio dos mosquitos e em pratos de plástico, mas por outro lado isto desvirtua um pouco o espírito do festival. A malta ia lá acima comer, depois vinha cá abaixo beber a bica, dançar, mamar caipirinhas e Super Bocks, e assistir aos espectáculos. Agora tem que ir para a Taipa já "jantada", para poder curtir o festival sem o estômago a dar as horas. Além disso no Lusitanvs a jantarada fica por 180 paus por cabeça, fora as bebidas, o que também significa que é mais caro. Pelo menos espero que valha a pena. E eu adoro comida africana!

1 comentário:

Hugo disse...

2- Má notícia. Mudaram para um sítio de gente arrogante,com má comida e ainda por cima caro. A mim não me apanham lá