quinta-feira, 29 de março de 2012

Unshit yourselves


1) Fui ontem comprar os bilhetes para o XXIII Festival de Artes de Macau (FAM), e já tenho todos para os espectáculos que interessam: 1 (um). Não vou ser tão diplomático quanto o painel do programa "Contraponto"; o que penso eu do programa do FAM? Um lixo. Devia mudar o nome para FOME. Não conheço a esmagadora maioria das atracções, não me dizem nada, e não vou perder o meu tempo a informar-me. O que me chamou a atenção foi o facto da versão impressa do programa ser bilingue...em chinês e em inglês, ignorando (mais uma vez?) por completo uma das línguas oficiais do território. É verdade que a versão portuguesa do programa e tudo isso está lá na página electrónica do ICM, mas e depois? Custava assim tanto incluir o português no livrinho que apresenta o festival? É assim mesmo; temos em chinês, que é o que interessa, e em inglês, para os "outros". For who it is codfish is enough, que é como quem diz, "Para quem é bacalhau basta". O programa começa com uma mensagem, aliás uma "message" do presidente do IC, Guilherme Ung Vai Meng, o tal que fala português, e com ele ia ser tudo diferente para melhor, lembram-se? Looks like you knocked at the wrong door. Parece que se enganaram no número da porta. Como não tive acessso à internet ontem durante a tarde toda, precisei de me informar do conteúdo do programa na língua de Shakespeare. Juro que algumas das traduções dão vontade de rir. Os locais dos espectáculos, por exemplo. Assim temos o Ox Warehouse (Armazém do Boi), Iao Hon Garden (Jardim Iao Hon) e depois Casa Garden (porque não "Garden House"?) ou Cinema Alegria (Joy Cinema anyone?). Muito giro. Depois o único espectáculo que me interessa: o patuá. A tradução do nome da peça em inglês ficou Spooky-Do, que parece assim um Scooby-Do, que é para a malta perceber que é uma comédia. Traduzir "Aqui tem diabo" para "The Devil is among us" seria aterrador. Mas pronto, o melhor é não me queixa muito, senão da próxima vez nem inglês temos, e depois quem não sabe chinês, que se unshit himself. Ou em bom português, que se desamerde.

2) Dois locutores da Rádio Macau pediram a demissão depois de terem visto o seu número de horas no ar reduzido. Iu Veng Ion e Cheang Kok Keong eram os moderadores do programa do canal chinês Ou Mun Keung Cheong, ou Fórum Macau. Um programa matinal onde a população dizia de sua justiça sobre a actualidade do território. A TDM justifica-se dizendo que "procura sangue novo", e que "quer diversificar os conteúdos". A conversa do costume. Conhecendo estas situações e tendo já uma experiência desagradável no sector privado, não tenho dúvidas que estes dois rapazinhos meteram o pé na poça, e isto de lhes reduzir o tempo de antena é apenas o início. Depois reduzem mais horas, alteram isto e aquilo, e sujeitam-nos a uma série de humilhações, em vez de discutir com eles abertamente o que está mal. Fizeram bem em bater com a porta e não se sujeitarem a este tipo de intrigas palacianas. Boa sorte para eles.

3) Um tribunal de Hong Kong revogou a decisão sobre um pedido de fixação de residência de uma empregada doméstica filipina, o que abriria a porta a quase 300 mil outras pessoas na mesma situação. O tribunal deliberou que "Compete à autoridade de Governo decidir se a extensão do estatuto de residente permanente deve ser concedida a estrangeiros”. O que é como quem diz, não vai ser. Claro que dar títulos de residência a todos os trabalhadores estrangeiros que aparecessem em Hong Kong abriria uma autêntica caixa de Pandora - metade da população das Filipinas e da Indonésia emigrava para a RAEHK. Mas perdeu-se uma boa oportunidade de recompensar quem realmente trabalha. Atente-se ao caso de Macau: quem trabalha honestamente anos a fio, contribuíndo para o território, continua trabalhador não-residente, mas a residência pode-se adquirir através do investimento ou do casamento. Ou seja, a pagar ou a abrir as pernas tudo bem. A trabalhar é que não.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Na altura manifestei esse receio aqui - que, ao tirar o Guilherme do Museu de Arte, se desse cabo do Museu sem, em contrapartida, se ganhar muito numa casa cheia de vícios.
Infelizmente, acho que não me anganei.

Irene Fernandes Abreu disse...

De facto, não custava nada imprimir o programa em português, uma vez que já está online...
Má vontade? Esquecimento? Culpa do Guilherme ou dos colaboradores? Seja como for, é uma lacuna infeliz!