sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre uns certos retroactivos


Discutiram-se ontem na AL os aumentos na função pública, e tal como se esperava, o debate(?) ficou marcado pela questão da retroactividade ao mês de Janeiro. Pela primeira vez na história da RAEM os aumentos na FP não gozam de retroactividade, e as explicações ficaram guardadas para ontem. "Explicações" é como quem diz, porque o Governo funciona um bocado na base do "posso, quero e mamdo", e basicamente bastava-lhes dizer que não há retroactivos "porque não". Porque não lhes apetece. Em vez disso foi usado o argumento do mou chin. Era preciso um reforço suplementar de 200 milhões de patacas no orçamento, e como se sabe este Governo é um tesinho. Não há dinheiro. Pois, pois.

O deputado José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM, voltou a bater-se pelos funcionários, e contou com oposição feroz de alguns deputados. Destaque para algumas declarações alucinantes dos suspeitos do costume. Chan Chak Mo, que não está na AL a fazer absolutamente nada a não ser defender os seus próprios interesses de empresário, acusou Coutinho de "populismo", e de querer "angariar votos" com a peleja dos retroactivos. Tendo em conta que apenas 1 em cada 13 habitantes da RAEM trabalha pra o Governo, fico sem perceber quem está a ser populista. Além disso Coutinho, que ao contrário de Chan Chak Mo é eleito pela via directa e não precisou de comprar o seu assento na AL, está a fazer o trabalho para o qual foi eleito. Os votos já lá estão, agora Coutinho faz o que lhe compete.

O deputado Tsui Wai Kwan, outro que representa os interesses comerciais, foi mais longe, usando o sarcasmo, dizendo que "pelo que o sr. deputado diz, os funcionários públicos são muito ambiciosos". Não são tão ambiciosos como certos deputados que têm negociatas e apenas visam o lucro, e que para tal até só têm um curso secundário e estão na AL por favor, mas são pessoas que trabalham, têm contas para pagar e também sofrem com o aumento do custo de vida. Se os retroactivos são praxe? Se por praxe nós entendemos uma prática reiterada e um hábito, então sim, são. Esta vez é que foi uma excepção que não se percebe bem. Mas gastar latim com este senhor é uma perda de tempo.

Coutinho pediu ainda que proposta do aumento - sem retroactivos, portanto - fosse votada com carácter de urgência. Pois mais uma vez os deputados estão nem aí, que isso deve ser tratado como outro assunto qualquer. O deputado Leonel Alves, sempre na linha da frente no branqueamento de toda e qualquer decisão da AL, boa ou má, certa ou errada, veio dizer que "não havia qualquer indicação dos aumentos da FP nas LAG". Portanto não há urgência. Tem tudo a ver, claro. Mais me parece que com esta verdadeira saga dos aumentos na FP, perfeitamente justificados atendendo à diminuição do poder de compra dos trabalhadores da administração, andou no ar um certo mal-estar. Talvez qualquer coisa relacionada com a questão das sepulturas, que o deputado JPC fez cavalo de batalha durante o último ano. Mas isto sou eu a divagar. Certamente que não há gente assim tão vingativa quanto isso.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

" porque o Governo funciona um bocado na base do "posso, quero e mamdo", e basicamente bastava-lhes dizer que não há retroactivos "porque não". Porque não lhes apetece".

Se fosse assim, até não era insultuoso.
Os "argumentos" são.
E, para "debater" esta questão, apresentar aquele trio, é de uma pouca vergonha incrível.
Era melhor dizer - "os senhores empresários não deixam, o Governo não pode dar retroactivos".
Até deu náuseas!
Aquele abraço e bfds

Irene Fernandes Abreu disse...

Mas porque é os patrões da privada têm de dar aval ao aumento dos funcionários públicos?
Quanto mais dinheiro este governo tem, mais avarentos para quem trabalha. E o pior, é que devido aos casinos, o custo de vida em Macau está cada vez mais alto, mas como os senhores que estão a ditar leis na AL, têm chorudas contas nos bancos, o "povinho"que se *****