terça-feira, 20 de outubro de 2009

A porcaria da portaria


Gostei especialmente do artigo de Miguel Sousa Tavares no Expresso, a propósito da portaria que proíbe os animais de circo. Os animais de circo, os cãezinhos, tigres, ursos, chimpanzés, elefantes, etc. são, como o próprio nome indica, animais...de circo. Animais que se podem encontrar, por exemplo, no circo.

Aqui o que mais importa, antes de entrar pelo argumento dos direitos dos animais, é o conceito de show business. Sem business, não há show. E o que se entende aqui por business? Ora bem, ele há pessoas que até gostam de circo “à antiga” (eu não, nem à antiga, nem do outro), pagam bilhete para entrar, e esperam ver o elefante, o chimpanzé, o tigre e o urso. Esta portaria é uma vitória para os defensores dos tais direitos dos animais, os tais que se referem aos “animais” como se não fosse o homem ele próprio...um animal.

Racional, sim, mas animal. E como animal que é, e omnívoro, o homem é um caçador. Não sendo dotado de garras, de uma velocidade ou um poder de salto equiparável a outros caçadores ou às suas presas, o homem usa a sua inteligência para se equipar de utensílios que o ajudam na caça, como armas e armadilhas, por exemplo. É óbvio que se matamos os animais para consumo, parte que somos também da cadeia alimentar, não devemos torturá-los. Mas isto da tortura é muito relativo, um conceito que resulta da nossa racionalidade. Não cabe na cabeça de ninguém convencer um leão de que “é errado” que esfole, dilacere e devore um antílope ainda a estrebuchar, porque é “desumano”.

Os tais defensores dos direitos dos animais insurgem-se contra os circos e as touradas, mas não se importam de comer um bife, indiferentes ao que acontece nos matadouros, onde os animais são reunidos e abatidos de formas horrendas. Alguns optam por aquilo que designam de “carne branca”, ou seja, as aves. Isso agora levava-nos a dissertar sobre os sentimentos e a personalidade jurídica das galinhas e dos patos, e sinceramente não estou com paciência.

Os vegetarianos é que são uns gajos bestiais, que para ser coerentes só lhes falta abdicar do cabedal, da camurça, da cola, dos cosméticos ou de alguns tipos de medicamentos, e outros produtos que utilizam a pele, a gordura e os ossos de animais. E já agora que se preocupem um pouco mais com a natureza, e com os milhares de hectares de floresta que são abatidos anualmente para dar lugar a plantações de soja de onde sai a proteína com que se alimentam. Sim, porque ao contrário do que muitos acreditam, os vegetarianos não comem relva. Mas esta batalha ganharam. Vai ser mais difícil para as gerações futuras de árbitros de futebol ver no circo um porco a andar de bicicleta. Estão de parabéns, portanto.

7 comentários:

Anónimo disse...

Aí está (no seguimento do post de cima) o Portugal "modernaço" na vanguarda! O Portugal idiota de hoje que se acha muito à frente por criar alarvidades sob forma de leis. MST, quer se goste dele ou não, é um português dos que já não existem: fala do que sabe e, aí, dá a sua opinião isenta. Não concordo com tudo, mas só posso admirar quem dá as suas opiniões, mesmo que sejam contra o "statu quo". É um português dos antigos porque ainda não vestiu a pele de carneiro que quase todos os portugueses já vestiram ou, pelo menos, já encomendaram. Louva o que há de bom e critica o que acha que é mau. E escusado será dizer que, em Portugal, quase tudo o que é mau é recente e saiu das novas cabeças "modernaças". Como escreve MST, "Ditosa Pátria que tais filhos tens! Patriotas como alguns de nós não há outros". É triste, mas é verdade: Portugal nunca teve tantos energúmenos em toda a sua história como nesta era de TGVs e choques tecno(i)lógicos. É assim desde que tem a mania que é europeu.

Anónimo disse...

num país onde há touradas não dá mesmo para perceber porque o circo não pode ter animais.os circos de outros paises da europa podem ter animais mas portugal não.fantastico.e no parlamento que é só camelos e ursos ja podem.

Anónimo disse...

Pois é, esqueceram-se de escrever um artigo que constituísse excepção e deixasse a Assembleia da República funcionar com os animais que lá estão. Assim, a AR vai ter de fechar, o que até nem deixa de ser uma boa notícia.

pedro vicente disse...

Sinceramente, é um passo a favor de uma sociedade que se diz evoluida e com etica desenvolvida.é igualmente incorrecto achar que é necessario uma hierarquia subjectiva de modo a exercer essa mesma ética, tal seria, se em primeiro lugar devessemos nos preocupar com os brnacos, seguidos dos pretos, primeiro os homens, depois as mulheres.Não, como seres humanos que somos temos a capacidade de responder as mais diversas situações que nos deparam, e é para isso que existe um sistema normativo, pois visa responder ao mais vasto leque de situaçoes susceptiveis de afectar a sociedade em que vivemos.Se há quem refere a lei como um reflexo da sociedade a que se aplica ( mal de nós) , eu presumo que a lei deve também servir de impulso a uma mudança de mentalidades.
No que toca ao corpo humano, somos de facto omníveros, mas nao anatomicamente feitos para comer uma vaca! um porco!, nao estamos dotados de dentição para tal, nao possuimos unhas uteis ao corte eficaz, assim como o nosso intestino de longe esta a ser equiparado a um gato ou um cão.Já agora o nosso estomago nao produz a mesma quantidade de acidos necessarios para decompor eficazmente a carne como um gato, e muito menos respiramos ou " refrescamos" pela lingua como um cão, mas sim por poros, como fazem os primatas e antilopes.
Talvez tenhamos o corpo elaborado para consumir pequenas proteinas de peixe, ovos, mas somos também seres com capacidade moral, reflectimos acerca dos nossos actos e isso nos coloca no patamar acima, nao de dominio, mas de consciencia dos nossos gestos.
Quanto á soja da Amazónia, sem querer ofender, lamento informar mas nao é usada para consumo humano.é sim exportada para fabrico de raçoes animais para paises desenvolvidos e potencias emergentes como a China.E de conhecimento geral que a Europa nao produz cereais em quantias suficientes, assim como outros países, e a amazonia surge assim como um espaço " inculto" que pode dar resposta a um consumo de produtos de origem animal crescente.
O que escrevo aqui é com o intuito de esclarecer alguns pontos mencionados no seu artigo, e o faço educadamente, pois nao aprecio agressoes, visto que o espaço de comentarios tem caracter democratico.
Apenas pretendo com isto informa lo que um artigo quando é escrito deve o ser com algum estudo do caso, e nao juntando A com B ( como foi o caso da Amazonia).
Por fim, e com receio de este comentario se tornar longo e " aborrecido", refiro ainda que os animais se ha quem os pretendem consumir, merecem até ao momento da sua morte serem tratados com dignidade e com respeito pela sua biologia.Acredite que a legislaçao comunitaria ( ainda que esta se orgulhe ser a melhor a nivel interncaional) é fraca quanto a este aspecto, sendo exemplar o caso de alguns, e refiro ALGUNS países nórdicos, que na exploraçao de ovos intensiva sao obrigados a fornecer material para os animais construirem ninhos, socializarem e terem acesso a espaços ( terreiros, relva) que peservam a sua fisionomia.
Com todo o respeito e desejando o melhor para o blog, Pedro Vicente

Anónimo disse...

Num mundo onde morrem milhões á fome até faz espécie ver estes burgueses cretinos a espernearem porque um bicho foi morto á paulada.
martin gentleman

Leocardo disse...

Pedro Vicente: obrigado pelo seu contributo. Uma opinião bastante válida.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

O Pedro Vicente deve ser político: fartou-se de falar e não disse nada.