sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os blogues dos outros


Existe um curioso cartaz publicitário num conhecido café da cidade que consegue juntar um escritório de advogados, o Cristiano Ronaldo, uma bica e um pastel de nata.

El Comandante, Hotel Macau

No bairro da Torre, em Cascais, ao início da tarde, Pedro e Carlos Marques, de 54 e 51 anos, residentes na zona da Malveira, realizavam trabalhos de jardinagem num condomínio fechado na Rua dos Castanheiros, quando um indivíduo, vestido com um camuflado e botas militares, com cerca de 30 anos, os abordou. O homem, que alegadamente sofre de perturbações mentais e que é conhecido na zona por alguns moradores, “implicou com os dois irmãos por estes terem a carrinha mal estacionada e pela localização de um escadote”, disse ao 'Público' um amigo da família. As queixas terão originado uma troca de palavras e pouco depois o indivíduo esfaqueava mortalmente um dos irmãos na zona da cabeça. Ao tentar socorrer o irmão, a outra vítima foi esfaqueada no peito. Ainda foi transportada com vida para o Hospital de Cascais, mas não sobreviveu aos ferimentos. Após o crime, o suspeito fugiu do local. Foi detido pela PSP a várias centenas de metros da Rua dos Castanheiros e entregue à Polícia Judiciária, que está a investigar o caso. O indivíduo foi presente a um juiz do Tribunal de Cascais. Ao 'Público', o amigo de Pedro e Carlos Marques disse que a família dos dois irmãos “está em estado de choque” e que lamenta as declarações da presidente da Associação de Moradores do Bairro da Torre. À agência Lusa Maria José afirmou que o crime ocorreu “no seguimento de rixas antigas sobre mulheres e deve ter sido um ajuste de contas”. A família nega que o homicídio tenha sido motivado por um caso passional, acusando a presidente da associação de moradores de prestar declarações sem “saber os pormenores” do que se passou.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

A forma como têm surgido as notícias na comunicação social relativas à Operação Face Oculta (ainda um dia há-de haver alguém que me explique a escolha de nomes ~tão bizarros para as operações da PJ), para além da evidente curiosidade que o assunto desperta, faz-me pensar que pelo menos por uma vez a investigação da PJ não se limitou a aguardar sentada, ao contrário do que aconteceu noutros processos que deram em nada, a transcrição de escutas telefónicas. Até agora, os relatos da imprensa e as imagens das televisões têm todos muito "molho". A ascensão, queda, morte e ressurreição de um caixeiro que chegou a banqueiro, condimentada com a generosidade de um grupo empresarial de Aveiro [é pena que uma terra com a tradição liberal, republicana e democrática de Aveiro seja hoje mais conhecida pelas proezas dos seus figurões do que pela sua história, excelente gastronomia e simpatia das suas gentes] e a ambição de um rapazinho nado e criado numa jota e que, por acaso e só mesmo por acaso, é filho do "patrão" das REN, tem todos os condimentos para servir de guião a uma novela policial. Condimentos, refeições abundantes, carros topo de gama, gente obscura que se move com facilidade nos meios políticos e empresariais, membros do Governo que não se deixam corromper, pagamentos em dinheiro e tipos com ar parolo, com os bolsos cheios e ávidos de promoção social, é coisa que parece não ter faltado. Para já só faltam as louras, mas com sorte elas ainda hão-de aparecer. Como assinalava ontem o João Gobern na sua revista da imprensa diária, agora o importante é saber se tudo isto tem consistência, se desta vez a PJ fez o trabalho de casa bem feito e se de uma vez por todas será possível começar a agarrar na maltosa que se apoderou dos partidos, dos negócios com as empresas do Estado e da vida pública, e que à custa deles ganhou educação, estatuto, notoriedade, posição, uma carreira e um pé-de-meia, atropelando todos os valores que lhes permitiram guindar-se às posições que ocupam. Para já, a única certeza, atendendo à pormenorização dos relatos das operações e ao detalhe das vigilâncias, é que a PJ tem paredes de vidro. E nem sequer é fosco.

Sérgio Almeida Correia, Delito de Opinião

O último escândalo de tráfico de influências e compra de posições em consursos públicos envolvendo figuras gradas do Partido Socialista - José Penedos e Armando Vara - é a comprovação de algo que à boca pequena se falava nos corredores do poder, em Lisboa: começou já a fase do aboletamento por parte dos lobies político-económicos que se movem na sombra do Partido Socialista. O processo "face oculta" é o resultado de vários meses de invstigações envolvendo figuras gradas do PS, homens de confiança do antigo Ministro Jorge Coelho e muito próximos do Grémio Lusitano. O oculto vem por aí. São doze os arguidos constituídos afirmando a polícia poderem haver novas prisões. A constituição dos arguidos funda-se, ao que se percebe, em conversas gravadas. Espera-se que desta vez tenha havido o cuidado de as fazer sob direcção de um juíz. Trata-se de um rombo no prestígio do Primeiro Ministro que se recatou no "segredo de justiça" para não fazer declarações e na estratégia do mesmo grupo tomar posições no BCP e em empresas dominantes do mercado. Em termos judiciais trata-se de um processo complicado e seguramente com enormes ramificações. A experiência dos "grandes processos" revela uma reduzida capacidade da Justiça de os decidir em tempo útil. Aqui a utilidade são os próximos dois anos, tempo presumível de vida deste segundo governo do PS. Sócrates foi ágil e despachou rapidamente dois ministros que podem ter a ver com isto: o da Economia e o das Obras Públicas. Dois acidentes na persistência do Primeiro Ministro abrir as cadeiras do poder a "independentes".

Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Independentemente da eventual politização do caso Face Oculta, algo que decorre e práticas do Ministério Público ou de quem lá dentro gere as sistemáticas e cirúrgicas fugas ao segredo de justiça, a verdade é que este processo cheira mal e alguns dos nomes envolvidos não são novos nestas tropelias. A ser verdade aquilo que tem saído na comunicação social este caso revela a urgência em sanear o Estado e as empresas públicas, pondo fim a uma imensa teia que se foi tecendo ao longo de muitos anos e que hoje domina vastos sectores da sociedade. Esse tal Manuel Godinho um vasto currículo e este processo só surpreende pelo facto de alguém que há muito deveria ter sido escorraçado dos negócios do Estado dá-se ao luxo de oferecer jantares caseiros a altas personalidades e, pelos vistos, até pretende decidir quem gere as maiores empresas públicas. Recorde-se que este senhor, a quem os jornalistas ainda designam por “empresário” (se fosse italiano pertenceria à Camorra ou à Máfia) esteve em tempos envolvido num carrossel de negócios com a sucata graças ao qual terá conseguiu obter 100 milhões de euros em reembolsos fraudulentos. Acresce-se que na ocasião foi notícia que parte desse dinheiro foi investido num fundo imobiliário de uma empresa chamada Valor Alternativo, o Valor Alcântara, que era gerida por Dias Loureiro, na qual Jorge Coelho detinha uma participação e cujo maior accionista era um tal Rui Vilas, homem que já tinha estado na Fincor, uma corretora que criou o Banco Insular, banco que viria a ficar famoso quando estalou o caso BPN. Na gestão da Valor Alternativo, para além de Dias Loureiro que era o “chairman” (cargo que nalgumas empresas significa que em vez de se trabalhar trata-se da gestão de influências), Rui Tavares da Silva e a ex-chefe de gabinete de Luís Arnault, Rita Marques Guedes. Temos, portanto, um sucateiro bem sucedido, que se movimenta ao mais alto nível das “elites” políticas e que beneficia de uma imensa teia de dirigentes de empresas públicas. Há muito que aqui se denuncia a existência de gangs que dominam importantes sectores de decisão do Estado, que sobrevivem às mudanças de governo e que, não raras vezes “abatem” directores-gerais e mesmo governantes que os incomodem. Basta ler os jornais com atenção, para se perceber que muitas da informação que alimenta alguns processos duvidosos tem origem nestas personagens. Esta gente não brinca em serviço, aos poucos não só nomeiam administradores de empresas, directores-gerais, subdirectores-gerais, directores de serviços e chefes de divisão como vão posicionando os seus “amigos” de forma a assegurar que os cargos importantes serão sempre ocupados pelos seus. Quando se pensa que se saneou alguém duvidoso não raras vezes fica no lugar alguém que foi promovido pela mesma quadrilha. De nada serve adoptar leis que apenas servem para inglês ver, se ao mesmo tempo se permite que o Estado seja infiltrado por mafiosos que ao longo do tempo instalam as suas metástases de tal forma que chegam a dominar importantes cadeias de decisão. Toda a gente sabe como se chega a dirigente em muitos serviços, há subdirectores-gerais que foram chefes de gabinete de conhecidos mafiosos ou cujas esposas foram secretárias de conhecidos banqueiros, toda a gente sabe quais são as empresas que empregam os filhos de altos quadros do Estado E quando aqui se denunciaram alguns destes casos chegou-se ao ridículo de se apresentarem queixas por supostas ofensas ao bom nome das instituições, chegou-se mesmo ao absurdo de vasculharem os mails de funcionários do fisco com o argumento ridículo das fugas para a imprensa. É urgente sanear o Estado, acabar de vez com a influência de gangs, máfias e camorras que vão ganhando dimensão e, mais tarde ou mais cedo, vão ter poder financeiro para derrubar governantes e governos, tal como agora terão tentado derrubar gestores incómodos. É urgente acabar com esta farsa que muita gente insiste em fazer de conta que não vê e que, não raras vezes, tem sido alimentada pela partidarização dos cargos públicos.

Jumento, O Jumento

Sou um homem vulgar daqueles que com demasiada facilidade se maravilha com a beleza de uma mulher. Apenas o meu "estatuto" e a noção de ridículo me impedem de tropeçar enlevado com alguma carinha laroca que se cruze no meu caminho. Digo “carinha laroca” porque, ao contrário do que possa parecer, é pelo charme e beleza da sua cara que uma mulher verdadeiramente seduz. Admito que há atributos mais berrantes, mas após um impacto imediato, sem a uma verdadeira Graça, rapidamente se esvaziam (salvo seja). Tudo isto para dizer que me desgosta o aspecto daquelas mulheres que se escondem atrás de betumes coloridos com que se entretêm feitas Paulas Regos nas filas de trânsito. Responder-me-ão que uma maquilhagem bem feita, mal se nota. Essa teoria que vem reforçar a minha ideia: se é para não se notar, para quê mascarar? Por influência das séries juvenis norte-americanas até a minha filha de oito anos anseia por cremes e pinturas. Ando a tentar convencê-la de que ela é uma privilegiada, que não estrague a sua pele imaculada. Enfim, na minha modesta opinião, uma cara bonita é uma cara bonita, com as suas marcas de expressão, com sombras e acidentes de percurso até chegar aos olhos onde só um verdadeiro brilho, reflectido por uma alma feliz, pode impressionar o mais empedernido príncipe. A mim parece-me que o resto da traquitana é mero placebo de outras maleitas, ou então um simples entretenimento para engarrafamentos de trânsito, ou atrasar um jantar ou uma cerimónia qualquer. Palavra de admirador.

João Távora, Corta-Fitas

O autarca Luis Filipe Menezes defende a localização de uma estação Porto-Sul, em Gaia, a ligação ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e à Galiza. E já agora em Matosinhos, Maia, Vila Franca de Xira, Entroncamento - para trazer espanhóis para verem os fenómenos, Fátima - a malta deixa de ir no meio da estrada, Setil - porque acho o nome giro, Aveiro, Ovar, Espinho - tenho lá um bom amigo. Quase me esquecia da Mealhada foda-se, olha a malta ia num tirinho mamar um leitão e voltava, isso é que era! Alguém que explique ao Pipo, e não só, que o TGV foi idealizado para longas distâncias, ter um TGV a fazer paragens de 2 em 2 kms é quase como a TAP lançar um voo Lisboa - Montijo ou Lisboa - Tires. Mas também podemos fazer um novo aeroporto em Cascais, para o pessoal da Quinta da Marinha vir de jacto para Lisboa, que me dizem? É a classe politica que temos, o último a sair deste país que feche a luz. Onde querem vocês uma estação de TGV? Pelos vistos vale tudo.

Francis, O Dono da Loja

A sacralização das crenças é uma forma de totalitarismo que serve de pretexto para amordaçar convicções diferentes e impor a lei do mais forte. Nos países onde funciona a democracia há quem tente os constrangimentos sociais para limitar a liberdade. A recente polémica em torno do último livro de José Saramago deve fazer-nos reflectir sobre a fé e a liberdade. Que a um crente seja proibido interrogar-se sobre a crença que abraçou é um direito da sua Igreja, mas cabe ao Estado laico garantir-lhe a liberdade de mudar ou, simplesmente, de a abandonar. É aqui que reside a diferença entre teocracias e democracias. A apostasia, crime gravíssimo nos estados confessionais, é um direito inalienável nos estados laicos. Qualquer livro sagrado é considerado como tal por alguns e, seguramente, desprezado por outros, assistindo a todos o mesmo direito. Se não se contestassem as crenças ainda hoje o Sol continuaria a girar à volta da Terra. Se não pudéssemos discutir a Tora, a Bíblia ou o Corão com que direito alguém condenaria o Mein Kampf ou o Manifesto Comunista? É tão legítimo combater uma religião, ou todas, como combater qualquer sistema político. As crenças podem e devem ser combatidas, os crentes é que merecem ser respeitados. Entendo, pois, que Saramago tem o direito de escrever tudo o que escreve (e quanto lhe agradeço) e de dizer tudo o que diz tal como as Igrejas têm igual direito de contradizer o que diz e escreve Saramago. Passo ao lado dos dislates de um infeliz eurodeputado que pretende definir o critério de nacionalidade em função das suas crenças. Há sempre um clone de Sousa Lara, ensandecido, à espera de cinco minutos de glória. A Igreja católica teve logo a solidariedade de outras, menos recomendáveis, e tem todo o direito de não gostar de Saramago e de combater as suas ideias, não tem é o direito à imunidade das tolices que prega e ao monopólio da interpretação do Antigo Testamento. Se hoje considera literatura esse livro violento da Idade do Bronze, só a partir do século XIX é que a exegese católica o começou a considerar como tal. E a liberdade religiosa só foi admitida pelo Concílio Vaticano II. Os judeus das trancinhas que pretendem derrubar o Muro das lamentações à cabeçada e anexar a Palestina, assim como os cristãos evangélicos, que tiveram um presidente dos EUA que falava com deus e invadiu o Iraque, exigem uma leitura literal para o Antigo Testamento. Alguns pretensos ateus, sôfregos de bênçãos dos leitores, afirmam que a Tora, a Bíblia e o Corão só devem ser avaliados pelos descrentes como obras literárias, à semelhança da Ilíada, Odisseia ou das obras de Shakespeare. Acontece que nenhum destes livros serviu para justificar cruzadas, guerras, tribunais do Santo Ofício ou códigos de conduta. Não se conhece uma só morte provocada por um fanático para convencer um céptico do dogma do cavalo de Tróia.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

Hoje tive mais um choque brutal daqueles que puxam a gente para baixo. Convocado para uma audiência de julgamento para as 14 horas num dos juízos e numa das secções do Tribunal de Família e Menores de Lisboa, lá estava eu pontualmente ás 14 horas. Esperei e ninguém me perguntou nada. Às 14h 25m dirigi-me à secretaria do juízo (que é noutro andar) e perguntei se a audiência tinha sido adiada. Respondeu a senhora, algo aborrecida: «Aqui não fazemos a chamada!» Ora bolas, careca de saber isso estava eu ou não seja juiz social desde o ano de 1993 – ainda era no velho palácio da Justiça, ali no alto do Parque. (Recordo com saudade a coluna «Um juiz no alto do Parque» do meu amigo Manuel Geraldo no Diário de Lisboa…) Pois isto é tudo fruto das circunstâncias, o pessoal anda nervoso e saem estas respostas. Então se até o polícia que está à porta me cumprimenta como «velho» frequentador, é claro que a senhora já me conhece mas não, teve mesmo que ser assim. Lá esperei até às 15h e 10m para constatar que dos quatro convocados (dois efectivos e dois suplentes) era eu o único presente. Fui dispensado pois só podemos funcionar «em asa» e eventualmente receberei 3 euros e 99 cêntimos gastando na ida e na volta 1 euro e 58 cêntimos. Não sei nem tenho que saber das razões de cada um (cansaço, desmotivação ou outros compromissos) mas a verdade é que passar uma tarde num tribunal a participar em nome do Povo no julgamento de uma criança ou um adolescente que precisa de um rumo para a sua vida não se paga com 3 euros e 99 cêntimos. Parece que somos muito civilizados e temos o Povo nos Tribunais mas depois pagar 3 euros e 99 cêntimos de ajudas de custo aos juízes sociais não lembra ao Diabo.

José do Carmo Francisco, Aspirina B

Não percebo porquê tanto barulho se o salto "à Vara" até é permitido nos Jogos Olímpicos...

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

3 comentários:

João Távora disse...

Fico lisonjeado com sua referência

Anónimo disse...

Ui. Há aqui um gajo a desmascarar o Polvo Português? Ainda bem que usa pseudónimo, de contrário o seu futuro em Portugal seria negro (já o é, de qualquer maneira, para a maioria dos portugueses, mesmo que não denunciem coisa nenhuma). Aquele "paraíso" (como ouço cada vez mais patriotas chamar-lhe) não é menos infernal do que muitos outros que existem por esse mundo fora. O Paraíso Português existe, não há dúvida, mas apenas para meia dúzia de felizardos sem escrúpulos. Os outros não passarão nunca de almas penadas (algumas idiotamente felizes, mesmo assim, é o que vale).

joãoeduardoseverino disse...

Obrigado Leocardo pela menção. Abraço