Breve resenha dos últimos 20 anos do futebol de Macau

Como o tema dos últimos dias tem sido o futebol, mesmo o programa Montra do Lilau de terça-feira teve como tema principal o desporto-rei, nomeadamente o que se fazia em Macau nos gloriosos tempos da administração portuguesa. Quando cheguei a Macau em 1991, o campeão tinha sido o Sporting, mas como não conhecia praticamente ninguém, nem sabia onde se jogava o campeonato local. No ano seguinte o campeão foi o Leng Ngan, onde pontificavam vários jogadores portugueses.

A história do futebol de Macau conta-se em poucas palavras. A comunidade portuguesa e macaense foi a grande impulsionadora do jogo no território, e nos anos 60 e 70 pontificavam alguns jogadores de muita qualidade nas equipa militares. No início da década de 70, o Benfica de Eusébio fez uma pequena tournée a Macau, onde defrontou a tal equipa militar (4-1 para o Benfica, corrijam-me se estou errado), e goleou a formação do Seiko, de Hong Kong, uma das melhores equipas da Ásia, por uns expressivos 11-0.

Uma das minhas recordações mais queridas foi a da participação de Macau na fase de qualificação para o mundial dos Estados Unidos em 1994. Macau estava num grupo bastante forte, com a Arábia Saudita, Kuwait e Malásia, com os jogos a serem disputados em Kuala Lumpur e Riade. No segundo jogo na capital malaia, Macau defrontou o Kuwait, e esteve a ganhar por uma bola zero, vindo a perder por 1-10. Mesmo assim o golo madrugador da selecção macaense (o único em toda a qualificação) chegou a irritar os árabes, que começaram a dar um "chega para lá" à maioria de jogadores portugueses que servia a selecção de Macau.

Não foi até 1993 que ganhei interesse pelo campeonato macaense. Em Outubro desse ano chegavam ao território vários jogadores provenientes da república, com o intuito de reforçar o regressado Negro Rubro, formação patrocinada por António Assumpção. Foi na altura que chegaram ao território o avançado Pelé, actualmente treinador da equipa da Casa de Portugal, o guardião Bento, o médio Vitinha, o lateral brasileiro Marcos, e o avançado brasileiro Robson. Nesse ano o Negro Rubro foi campeão, com mais um ponto que o Hap Kuan, onde jogava Mandinho, e mais dois que o Lam Pak, a equipa "dos chineses", como era conhecida na altura.

No ano seguinte o Negro Rubro voltaria a investir forte no sentido de reforçar a equipa com vista à participação na Liga dos Campeões Asiáticos. Chegaram mais jogadores de Portugal, e o treinador Isidro Beato, ex-Estoril. O novo Negro Rubro ficou afastado da Liga dos Campeões numa poule disputada com os filipinos do Davao City e o Kota Rangers, do Brunei, e ainda venceu o campeonato da bolinha, o popular campeonato de miniatura. Só que depois faltou o dinheiro, Isidro Beato regressou a Portugal com os novos jogadores, e os restantes foram arranjar empregos na função pública - era fácil, na altura.

Em 1996 o Benfica visitava o território, e jogou com a selecção de Macau no campo do Canídromo. Os encarnados preparavam a época 1996/97 com um novo treinador, o brasileiro Paulo Autuori, e sem João Pinto e Nuno Gomes, integrados na selecção portuguesa que preparava o Euro 96, em Inglaterra. Macau e Benfica encontravam-se empatados a zero ao intervalo, com Hassan a desperdiçar uma grande penalidade para os encarnados. Na segunda parte o Benfica marcou oito golos, dando uma expressão de goleada ao resultado. No final foi explicado que o Benfica não construíu a goleada na primeira parte para que os espectadores chineses "não fossem embora ao intervalo".

No ano seguinte o FC Porto, então tri-campeão nacional pela primeira vez, visitou o território, inaugurando o novo Estádio de Macau, na Taipa. Os comandados de António Oliveira, e onde pontificavam Folha, Fernando Mendes, Rui Barros, Sérgio Conceição, Jorge Costa e outros, venceu a selecção da China por duas bolas a uma, e o Jubilo Iwata do Japão por uma bola a zero, conquistando o primeiro torneio de Amizade Macau-Cidade do Porto. Jardel, a braços com uma lesão, assistiu aos jogos na bancada. Uma forma.

Em 1998 realizou-se a segunda e última edição deste torneio, que contou com as vindas do Salgueiros e da equipa italiana do Bolonha. No primeiro jogo o Salgueiros defrontou a selecção de Macau, e ao fim de 20 minutos o resultado estava em 6-0 para os salgueiristas. Foi então dado um sinal à equipa de Paranhos para "abrandar", e a equipa orientada por Carlos Manuel não mais marcou. Caso contrário, teria construído um resultado histórico. Na final o Salgueiros derrotou o Bolonha por duas bolas a uma.

Desde a transferência de soberania, apenas o Marítimo do Funchal visitou o território, realizando um encontro particular com o South China, que viria a perder por uma bola a zero. As novas concessionárias do jogo trouxeram ao território grandes equipas internacionais, como o Manchester United de Cristiano Ronaldo, o Barcelona, onde despontava na altura um jovem de 18 anos que dava pelo nome de Lionel Messi, e mais recentemente o Chelsea de Scolari, em 2008.

Quanto ao campeonato de futebol de 11 de Macau, esse sempre muito pobrezinho em termos de qualidade, ganhou um novo elan com a chegada à I Divisão este ano da Casa do FC Porto. Poderá ganhar ainda mais interesse se o Benfica e o Sporting de Macau chegarem também à divisão maior. Talvez a qualidade melhore se devolverem ao futebol de Macau o seu sabor português, que ajudou a construír a sua história.