Aviso: este texto contém 27 vezes a palavra "harmonia" e seus derivados.Começo a sentir um friozinho na barriga quando oiço falar de “harmonia”. Em Macau tudo é harmonia. O equivalente chinês,
yong-wo (融和), tem um significado especial, de “combinar”, de “resultar”, de dar certo e de fazer sentido, o "ying" e o "yang". Atendendo à história da China dos últimos cem ou duzentos anos, dá para entender o valor que dão à tal da harmonia.
Só que quando tudo é “harmonia”, quer dizer que qualquer coisa vai mal. Costumo dizer que quem está de consciência tranquila não precisa de o reafirmar a toda a hora. Quem fala a toda a hora de “harmonia”, é porque se calhar anda com vontade de partir a loiça toda. A harmonia aqui é a ténue linha cinzenta que nos separa do caos, da anarquia, do horror.
E quando se ouve falar mais de harmonia? Normalmente em alturas de exaltação de cariz patriótico ou de outro qualquer. Sobre o tal pavilhão de Macau na Expo 2010 temos aquele bife a anunciar “come experience the harmony of Macau”. Aos funcionários públicos é-lhes dito que “trabalhem com harmonia”, e nas alturas de prestar contas aos mandarins, é realçado o facto do território “viver em harmonia”. Se qualquer coisa não dá certo, é porque não existiu harmonia.
Em todos os seminários e reuniões onde vou e preciso de tradução, oiço umas trezentas vezes a tal “harmonia” e seus derivados: “harmonizado”, “harmonizar”, e ainda no outro dia ouvi uma palavra nova: “harmónio”, que deve ser o elemento químico da harmonia. No fundo “harmonia” significa “portem-se bem, tenham juizinho, e deixem-nos tomar conta da loja”.
Sem harmonia vai andar tudo à chapada, deixa de haver massa, os casinos ficam às moscas, os portugueses e os outros estrangeiros são todos corridos ao soco, enfim, o fim do mundo. É preciso regar bem a harmonia, promover a harmonia, estrumar a harmonia, para que possa crescer...em harmonia.
Têm uma ideia diferente do resto da carneirada? Não estão a respeitar a harmonia. Estão a questionar uma decisão? Cuidado com a harmonia. Acham mal? Olhem lá a harmonia. Estou-me a passar com tanta harmonia. Tanta harmonia já chateia. Será que podia haver um pouco menos de harmonia, “fáxavôr”?
17 comentários:
Não gosta da trampa que o saramago escreve e tem uma ideia diferente do resto da carneirada? Esteja calado a bem da harmonia.
É verdade. Já ouvi mais vezes a palavra "harmonia" no último ano do que tinha ouvido em toda a minha vida. Isso e a variante "harmónia". Para além da harmónica do rancho folclórico, que para alguns chineses a ele se resume o traço distintivo português de Macau. A família mais importante de Macau já não é Sales, nem Richie, nem Senna Fernandes, nem nenhuma das outras. A família mais importante agora é uma família de palavras ('harmonia', 'harmónia', 'harmónica'...).
Tinha de vir um dos carneiros do rebanho do Vaticano falar uma vez mais do Saramago. Devem estar sempre a ver-se ao espelho, se insistem em chamar carneiros aos que não insultam Saramago. Que eu saiba, carneiros são os que seguem uma religião que lhes impuseram desde pequenos e que não a questionam. Nem se conhecem a eles próprios, que os carneiros são todos iguais, e pensam que estão a ver outros quando vêem a sua própria imagem reflectida. São uma espécie de patriotas assolapados, como os chineses da harmonia, só que a sua pátria não é a China nem é Portugal, é o Vaticano.
Olha, olha, um carneiro a tentar botar faladura. Mas como eu sou judeu, o Vaticano pouco me diz ou ordena. Assim como a obra do Saramago pouco me diz pois continua a ser uma trampa.
Estrumar a harmonia, Leocardo?
Olha que se forma aí um amplo consenso para descobrir a tua identidade secreta, que será capa do jornal Ou Mun no dia seguinte, ainda antes de a PSP te apresentar encapuçado, mas divulgando o teu apelido, por clara violação de uma certa lei, relativa a um certo artigo (só dia que fica, meio caminho, entre o 22 e o 24...)!
Não é "dia", é digo, f#$%-se!!
cuidado, leocardo... ainda vais preso por ir contra a harmonia!!!! hahahaha!!!
A propósito deste titulo gostava de chamar a atencao do Leocardo para o editorial de Carlos Morais José de hoje. Mais uma vez se pode ler que o batráquio Diniz continua a fazer o que sempre fez:tentar diminuir os outros camaradas de profissão, sendo ele o pior exemplo do jornalismo mundial. é reles e rastejante como sempre o foi.
Judeu é a mesma merda. Ou pior, porque se baseiam num pseudo-livro sagrado tão violento como o Corão. E, tal como os muçulmanos, nem podem comer porco, que é para não comerem a família.
Exacto. Judeu é a mesma merda. Assim como vocês todos. Meus pedacinhos de merda que não sabem o que são e de que puta de cona de onde saíram. Irão sempre ser sempre uns pedaços de merda sem saber quem é o vosso pai pois as putas das vossas mães tinham a cona on fire e levavam com o marsapo sem parar. No fundo no fundo não representam mais do que o somatório da corja humana sem qualquer valor. Puta que vos pariu a todos.
Nota 20 para o entusiasmo do último anónimo.
Pedro Coimbra: não creio que a "harmonia" seja (ainda) um símbolo nacional. Em todo o caso o tal artigo não se aplica a mim, pois se existe uma pátria que eu possa trair, está muito longe daqui. ☺
Anónimo das 12:11, o Carlos Morais José é um génio. Conseguiu decifrar o que estava escrito nesse artigo do JTM.
Cumprimentos.
O anónimo das 14:37 dava um excelente "case study" para o Freud.
E que tal um case study sobre o comentário profundamente insultuoso do Reichsführer das 14:21? Perante uma besta daquelas que mistura merda, religião, porco e família numa só frase só um comentário ao nível do dele que é para o filho da puta perceber.
Será que o filho de uma puta sabe quem é o pai? Isso sim, dava um excelente case study!
Cumprimentos!
Ó porco judeu, não fales assim à boca cheia da tua mãe. Vai comer carne de porco, que isso passa.
Anónimo das 03:16 deixe lá de falar ao espelho e acorde para a vida! Olhe leia a bíblia... segundo Saramago!
Os nazis é que tinham razão...
Enviar um comentário