A selecção da Coreia do Norte entra na madrugada de terça-feira (hora de Macau) em campo frente ao Brasil, no regresso do país mais isolado do mundo a um grande palco internacional, depois do mundial de 1966 na Inglaterra, onde chegaram aos quartos-de-final, e foram eliminados, como se sabe, por Portugal. Dos jogadores norte-coreanos sabe-se apenas o que se vê nos jogos de qualificação, nos poucos jogos amigáveis que realizam, e pouco mais. Sabe-se que ontem foram visitar o zoo em Joanesburgo, onde assistiram a uma partida de futebol entre leões. Os atletas norte-coreanos dizem que estão moralizados, e fora do horário dos treinos ficam no hotel a assistir a vídeos dos jogos dos adversários, e a ver filmes coreanos. Sabe-se que os filmes e novelas sul-coreanos são muito populares na Coreia do Norte, e obtidos através do mercado negro.
Como o futebol e o campeonato do mundo são sinónimo de amizade e confraternização entre os povos, espera-se que este mundial da África do Sul ponha alguma água na fervura da situação actual na península coreana. A Coreia do Norte afundou uma corveta sul-coreana em Março, acusação que Pyongyang refuta, e temos assistido a uma autêntica guerra de palavras dos dois lados do parelelo 38. A Coreia do Norte é uma potência nuclear, e até que ponto estejam na posse de tecnologia que represente uma ameaça para a região, não se sabe ao certo. Mas com
bluff ou não, é uma possibilidade concreta que deve ser levada a sério. O regime norte-coreano habituou-nos a uma série de loucuras, e certamente muitas mais serão tornadas públicas quando o regime eventualmente cair.
Á Coreia do Sul e aos seus vizinhos Japão começa a faltar paciência para os delírios de Kim Jong-Il, e mesmo a China, apesar de continuar a apoiar abertamente o regime, não concorda com o apetite bélico de Pyongyang a eventual instabilidade que isso possa causar na região. Foi por demais publicitada a última visita de Kim a Pequim, e o “querido líder” terá saído desiludido com a firmeza da China em cumprir com as sanções internacionais à Coreia do Norte. Aparentemente não interessa a ninguém a queda do regime de Pyongyang, a não ser talvez aos pobres norte-coreanos, que estão “presos” num país onde falta comida e electricidade. A China que manter a Coreia do Norte como estado tampão, e é conhecida a insistência de Pequim em manter na vizinhança estados policiados com ditaduras mais ou menos rígidas, como a Birmânia, o Laos ou o Vietname. Para a Coreia do Sul seria desastrosa uma unificação com o norte, em termos económicos.
A desagregação gradual do regime e da dinastia dos Kim seria o ideal. Uma intervenção norte-americana na península poderia significar uma alteração drástica e imprevisível no mapa geopolítico da região Ásia-Pacífico. Se a questão da Coreia do Norte “é para resolver”, porque não resolver também a questão de Taiwan? É um jogo de nervos e paciência que tem que ser jogado com inteligência. A “demise” de Jong-Il poderá acontecer mais cedo ou mais tarde, e pode ser que o seu sucessor mais que provável, Kim Jong-Un, esteja então aberto a negociar com o sul e com o Ocidente. Quem sabe se a manutenção do
status-quo do partido único, mas com uma abertura progressiva, à medida do que foi feito na China pós-Mao, seja a solução para as enormes dificuldades a todos os níveis que o país atravessa.
Macau tem tido um papel curioso em tudo isto. Primeiro tivemos o caso do Banco Delta Ásia, acusado de lavar dinheiro da Coreia do Norte, e depois o facto de Kim Jong-Nam, filho mais velho do ditador norte-coreano, viver em Macau. Os seus filhos estudam (ou estudaram) na RAEM, e Jong-Nam terá escolhido o nosso território para tentar levar “uma vida normal”, longe da dança de cadeiras do poder em Pyongyang. O que não nos interessava mesmo nada era ter uma guerra aqui à porta, como todas as consequências que isso acarretaria, que penso não serem necessárias enumerar aqui. Vamos ver se o mundial da África deixa o regime cavernoso da Coreia do Norte mais bem disposto.
A propósito deste tema, recomendo a leitora
deste blogue, da autoria de Rita Colaço.
2 comentários:
E ninguém fala dos escuteiros lusófonos de Macau?
AA
Ainda estudam Leocardo.
Os putos lá na escola tratam os filhos de Kin Jong-Nam por princípes.
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