Entre a desilusão e a resignação

Uma enorme desilusão para alguns, um resultado positivo para outros. Portugal empatou com a Costa do Marfim no jogo de estreia do mundial, e nem os mais optimistas, nem os mais pessimistas têm uma palavra a dizer. Portugal alinhou de início com Eduardo, Paulo Ferreira, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão, Raúl Meireles, Pedro Mendes, Deco, Cristiano Ronaldo, Danny e Liedson, uma formação conservadora que deixou de fora Duda, Simão e Hugo Almeida, titulares habituais. A defesa esteve muito bem, com os centrais muito seguros e Paulo Ferreira bem nas dobras a Kalou e Gervinho, os jogadores mais perigosos da equipa africana, e com Eduardo bastante seguro, sem ser obrigado a intervenções exigentes. O meio-campo praticamente não existiu, com Pedro Mendes bastante apagado, Raúl Meireles mais integrado em acções ofensivas, e Deco com um ou outro passe de magia, no entanto sem impressionar - parece cansado e acabado para as cores das quinas. Cristiano Ronaldo mereceu atenção especial dos jogadores marfinenses, sofrendo falta atrás de falta. A exibição da estrela do Real Madrid ficou condicionada pelo cartão amarelo mostrado aos 21 minutos, depois de um desentidemento com Guy Demel, que também foi admoestado. Mesmo assim o capitão português ainda fez tremer a baliza de Boubacar Barry com um remate de fora da área a embater no poste, a única oportunidade de golo digna desse nome na primeira parte. Fábio Coentrão foi a surpresa no lado esquerdo, e ganhou quase sempre o duelo com os avançados marfinenses, mas mostrou pouca consistência ofensiva, que se esperava do extremo adaptado a lateral. Liedson foi o autor da melhor oportunidade de golo na segunda parte, quando correspendeu de cabeça a um cruzamento de Deco, mas o "levezinho" mostrou-se sempre fisicamente inferior à defensiva da Costa do Marfim, que contou com um verdadeiro "touro" de seu nome Kolo Toure. Eriksson apostou em Drogba no lugar de Kalou, mas o avançado do Chelsea, operado ao cotovelo a semana passada, mal tocou na bola. A dez minutos do fim, e satisfeito com o empate, o treinador sueco fez entrar Abdulkader Keita, um médio, para o lugar de Gervinho, uma opção nitidamente defensiva. Queirós fez substituições, em linguagem futebolística de taberna, "merdosas". Primeiro tirou Danny, uma nulidade que só parece jogar bem na Rússia, e fez entrar Simão, outra nulidade. Depois fez entrar Tiago para o lugar de Deco, numa tentativa de popular mais o meio do terreno, onde a Costa do Marfim ganhava todos os lances. Finalmente, e quando se esperava a entrada de Hugo Almeida para o lugar de Liedson, fez entrar Ruben Amorim para o lugar de Raúl Meireles. Uma substituição completamente inútil, que só se pode entender como uma tentativa de tornar o Amorim numa espécie de Nun'Álvares Pereira, e curar olho dos avançados portugueses do óleo de fritar que os incomodava. Fazendo as contas, o resultado não é assim tão mau para Portugal. Se o Brasil bater hoje a Coreia do Norte e na segunda a Costa do Marfim, pode ser que "deixe" Portugal qualificar-se junto. As velhas contas "à portuguesa" que se começam já a fazer.