quarta-feira, 6 de maio de 2009

O amigo islâmico


Hoje almocei sozinho num pequeno restaurante do centro da cidade. Como tinha tempo, pensei comer depressa e depois fazer umas compras. Enquanto esperava pela comida, chegou um rapaz alto, moreno com um porte atlético invejáel e, como não havia mais lugares sentados, perguntou-me se se podia sentar na minha mesa. Anuí, e apercebi-me logo pela simpatia demonstrada que iamos trocar uns poucos dedos de conversa.

Quando soube que era árabe e muçulmano, aproveitei para saciar a curiosidade. Fiz-lhe umas perguntas que me respondeu com muito gosto. É claro que primeiro ganhámos a simpatia mútua com dez minutos de conversa fiada, como que para "quebrar o gelo". Para ele foi fácil perceber que a minha curiosidade não passava disso mesmo, e que não era uma forma que eu estava a arranjar para fazer comparações do arco-da-velha com a minha religião (que como se sabe, não tenho), e a dele.

Claro que quando ouvimos falar do Islão, espevitamos os radares e lembramo-nos logo do muito pouco que se ouve falar e que nada abona a favor dos seguidores de Maomé: o terrorismo, a intolerância, os atropelos a direitos das mulheres e outros. O resto pouco interessa aos telejornais e à imprensa escrita. Não vende.

A primeira pergunta qu lhe fiz foi sobre o casamento com pessoas que não professam o islamismo. Um muçulmano/a pode casar com um não-muçulmano sem que o último se precise de se converter? A resposta foi que sim, pode, mas "é desaconselhado". Conhece alguns casais mistos, mas os pais de um muçulmano nunca vêem com bons olhos o casamento com um "infiel". Nessa altura contou-me que tem uma namorada indonésia, empregada doméstica aqui em Macau. Teve sorte, a menina.

Depois perguntei-lhe se orava cinco vezes por dia. Disse-me que o fazia três vezes, mas "deviam ser cinco". Vai à mesquita do Ramal dos Mouros à sexta-feira, e trata a religião "da mesma forma que nós, os cristãos, que vão à missa ao Domingo". Considera a mesquita de Macau pequena, nada comparada com a sumptuosidade encontrada no Líbano, seu país natal, ou na Malásia, onde viveu dois anos.

Concordámos que a mesquita em Tsim Sha Tsui, em Hong Kong, é lindíssima, e perguntei-lhe porque no me deixavam entrar, ao contrário do que acontece em mesquitas da Malásia e Singapura, que tive o prazer de conhecer por dentro. Respondeu-me que "são os paquistaneses" que tomam conta da mesquita de Tsim Sha Tsui, e a sua interpretação mais rígida do Islão não autoriza que venham pessoas de outras crenças visitar o templo.

Pareceu-me um rapaz que gosta de se divertir e sair à noite, e de facto assim é. Não bebe alcool, mas frequenta os locais de diversão nocturna no território. Não come carne de porco, mas diz-se "chocado" com a notícia do massacre dos 250 mil suínos no Egipto, que aponta como um exemplo de "intolerância" dentro da sua religião.

É sunita, bem como 85% dos muçulmanos no mundo. Os xiitas sπo em maioria nos locais normalmente considerados de "problemáticos", como no Irão, Iraque, Azerbeijão e Bahrein. São quase metade dos muçulmanos no Líbano, e 20% dos muçulmanos no Paquistão, Turquia e Afeganistão.

Já ia longo o almoço, pelo que troámos cartões e prometemos manter o contacto. É fácil fazer amigos assim. Isto pode não parecer surpreendente, e as respostas às minhas perguntas não são nenhum mistério para muita gente, mas é sempre simpático ouvi-las na primeira pessoa, e não dos livros.

1 comentário:

Anónimo disse...

Almoçei O.o