O italiano Ennio Marchetto deu ontem e hoje dois espectáculos no pequeno auditório do Centro Cultural, inseridos no XX Festival de Artes de Macau. O espectáculo foi bastante divertido, um dos melhores que já assisti em 17 anos de idas ao Festival. Marchetto apresentou muito do seu reportório, em que se veste de mais de 100 personagens que desfilam ao som de música pop, rock, clássica, ópera, entre outras. O guarda-roupa é constituido por figuras de cartão da autoria do próprio e do co-encenador holandês Sosthen Hennekam. Marchetto fez muitíssimo bem aquilo que já faz há mais de vinte anos e que já lhe valeu vários prémios em vários países. Outra coisa não seria de esperar.
Podem parecer rudimentares, as figuras de cartão, que deixam muitas vezes revelar o corpo de Marchetto, uma figura pouco elegante vestida em collants pretos apertados, e chegavam mesmo a falhar em alguns momentos. Mas são muito mais o que isso: são uma verdadeira caixinha de surpresas. E não é fácil interpretar o reportório mímico. Dou como exemplo uma transformação de Eminem em Gloria Gaynor, de uma garrafa de vinho em Amy Winehouse (ahah), ou de um sarcófago em múmia, depois em Cher, e depois no robô CP3-O, tudo sem mudar de cenário. A que mais gostei foi a transformação de rainha de Inglaterra em Freddie Mercury, o mítico cantor dos Queen.
O público gostou, aplaudiu, e no fim podiam-se ver sorrisos de satisfação. Isso é sem dúvida o mais importante. Talvez algum do reportório tenha sido recebido friamente por algum público, principalmente o mais jovem, que terá talvez alguma dificuldade em identificar Liza Minelli a interpretar "New York, New York", os três tenores, ou Dolly Parton. Para se perceber bem o show, é preciso algum conhecimento do mundo e da História da música, teatro, "music-hall" e mesmo de alguma política, que como se sabe não é apanágio da maioria dos locais. Ficou a faltar o tal dragão que se transforma em lutador de "kung-fu" para deixar o público da casa rendido. Algumas das crianças presentes na sala (e eram bastantes), podem ter mesmo ficado aborrecidas durante alguns períodos do espectáculo, no entanto alguma brejeirice de Marchetto não passou disso mesmo. Uma Madonna compeltamente nua com as tripas de fora, por exemplo, foi um dos momentos mais altos.
Finalmente uma palavra para o local. Penso que um espectáculo desta categoria, mundialmente famoso, merecia ter sido exibido no grande auditório. Faltou espaço ao artista, que foi deixando os muitos adereços espalhados pelo pequeno palco (chegava a precisar de afastá-los ao pontapé), e ao público, que estava nitidamente apertado. O facto dos bilhetes terem esgotado rapidamente já justificava por si a escolha do auditório principal do CCM. Atrás de mim ficou uma menina que identificava cada um dos personagens de Marchetto em voz alta, e tive que a mandar calar duas vezes. Mas isso já foi só problema meu.
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