segunda-feira, 4 de maio de 2009

A baía dos amores


Quando cheguei a Macau há quase 18 anos, fiz de um pequeno apartamento na Av. Horta e Costa a minha primeira moradia. Nos primeiros tempos gostava de caminhar pela Av. Almirante Lacerda, onde se encontram as principais lojas de ferragens e aprestos marítimos. Depois ia por aí fora até ao Patane, e terminava sempre a contemplar a magnífica baía da Praia Grande. Era uma longa caminhada, e voltava para casa de autocarro que apanhava na Rua do Campo. Era sempre um passeio fascinante, e aprendi imenso.

Como não tinha namorada, ficava a suspirar ao olhar para os casais ali sentados nos banquinhos frente ao lago Nam Van, pensando sempre no dia em que estaria eu ali também. Era um pinga-amor. Hoje tenho a Praia Grande mesmo aqui à mão, e nunca dispenso namoriscar um dia ou outro com a mãe dos meus filhos, ali junto à luz que ilumina a baía. Nos dias de Abril e Maio em que os miúdos ficam com a avó ou com as tias, sabe sempre bem jantar na esplanada do Ali Curry's House ou do Clube de Ténis Civil, e depois ficar sentado ali num dos banquinhos. Uma visão fantástica.

Os mais saudosistas dizem que a baía foi mais bonita, em tempos idos. Mas ainda consegue fasinar, deslumbrar, ser um local aprazível para conversar, reflectir ou simplesmente passar o tempo. E é grátis, ainda por cima. No outro dia estava ali sentado junto de mim um casa de meia-idade, com o motociclo ao lado, e os capacetes em cima do assento. Pessoas vêm de toda a parte de Macau procurar a magia da baía.

Além os namorados, podemos encontrar a qualquer hora os joggers, os idosos nas suas caminhadas, os turistas que procuram um ângulo perfeito para as suas fotografias, e um ou outro sem-abrigo. No Miradouro Henry Dunant, perto da Cruz Vermelha, juntam-se à noite os jovens malandrecos, nos seus Hondas e Toyotas "apetrechados" com motivos de corrida, prontinhos a "acelarar" e a fazer da cidade a sua "ostra".

Mesmo de dia a baía é fascinante. Passeando pela Av. da República até à Pousada de S. Tiago (lindíssima, por sinal), podemos ver os mais velhos a conversar ou a jogar mahjong, e do lado do rio podemos ver a surpreendentemente rica florra, os peixinhos (sim, há peixinhos e tudo), e um pôr-do-sol verdadeiramente singular. Singular é mesmo a nossa baía da Praia Grande. Deus queira que continue sempre assim.

9 comentários:

Anónimo disse...

Belo post.

Agora a parte do "Deus queira..." é um pouco contraditório da sua parte, não acha? Considerando que já se assumiu como ateu num post e agnóstico noutro (já escolheu qual deles é?.

Talvez ficasse melhor um "Darwin queira que..." ou "Oxalá a Ciência permita que...". Enfim algo que vá mais com a sua parte científica, deixando a parte da esperança no desejo divino para aqueles que, néscios, se deixam levar pelas palavras de uns quantos bispos e outros párocos.

No entanto, belo post.

Anónimo disse...

come-se bem no ténis civil?

Wotam disse...

Está há 18 anos em Macau, então com que idade veio para cá. Com 17 ?!

Paulo39 disse...

É verdade Leocardo, é verdade...
Muito bonito, muito sereno.
Tenho muitas saudades de Macau

Leocardo disse...

Nunca disse que sou ateu, e desafio-o a mostrar onde disse isso. "Deus queira" é apenas uma expressão como outra qualquer. Não temo que Deus acorde mal disposto um dia e mande abaixo a baía. Você que pelos vistos sabe tudo sobre Ele, sabe se Ele dorme? E obrigado pelo elogio :)

Come-se assim-assim no ténis civil, mas a vista é magnífica.

Tinha quase vinte, e agora tenho quase 37. Sim, são mais ou menos 18 anos.

Cumprimentos e obrigados a todos.

Wotam disse...

Leocardo,
Quem o impede de dizer "Deus queira", não sabe o que diz. Então segundo a mesma iluminária, um não crente não podia dizer "Adeus"!
Se veio com quase vinte anos, deve ter vindo com os seus pais ? Se não, foi uma grande aventura para uma pessoa tão jovem.
Eu vivi 15 anos em Macau, mas já era muito difícil para mim a pequenez do território. Não tenho nada contra Macau, inclusive comprei um apartamento que ainda mantenho e onde vou regularmente.

Anónimo disse...

Caro Leocardo,

Um gajo tem de dar a mão à palmatória e ser homem e reconhecer que se enganou. Tinha ficado com a ideia que num post se afirmou como agnóstico (o de 19 de Fevereiro) e que noutro tinha referido ser ateu (o de 16 de Fevereiro) Mea culpa, você afirma-se como agnóstico em ambos, a versão light da malta com dúvidas e que não tem pachorra para pensar muito na coisa.

Rapaziada do Bairro enganei-me. O Leo tem razão.

Continue meu caro que nós cá estaremos para o acicatar com provocações (prestando mais atenção é claro).

Cumprimentos

Anónimo disse...

Wotam,

Meu caro, ninguém impede o Leocardo de dizer seja o que for. Tratou-se apenas e tão-só de uma simples provocação a quem possui dois dedos de testa e tem capacidade para responder com categoria, como é o caso do Leocardo. Relaxe meu caro, o problema é a malta vir para aqui descarregar as fúrias e não saber estar (com quem coloca este espaço à nossa disposição).

Leocardo disse...

Claro que compreendo, não levei a sério. Sou agnóstico porque não acredito nem duvido de nada sem provas concretas.

Cumprimentos.

Wotam: sim, vim com os pais inicialmente, mas pouco depois eles foram e eu fiquei.

Cumprimentos.