domingo, 10 de agosto de 2014

Receita do mestre Coelho


Estamos em pleno mês de Agosto, e como seria de esperar, está muita gente de férias entre a nossa comunidade. A julgar pela última edição de "O Clarim", o jornal da Igreja Católica de Macau, os meus caros amigos Pedro Daniel Oliveira e José Miguel Encarnação encontram-se igualmente a recarregar baterias - merecidamente, diga-se de passagem. Faso esta presunção devido à ausência das suas habituais colunas de opinião naquele períodico, e a "fazer as vezes" nesse departamento ficaram outros, alguns de fora de Macau, como é o caso de José Pinto Coelho, aquele indivíduo em cima na imagem. José Pinto Coelho, se só agora o está a ver pela primeira vez, é um belo rapaz - temos que lhe dar isso. Veste-se bem, é elegante, tem um aspecto aprumado, educado, cavalheiro, bem falante, e tem um charme especial, como que o de um vampiro. Pensam que estou a gozar? Então vejam:


Aí está. Mas ser "vampiro" não é necessariamente um defeito. Estes personagens da literatura do fantástico não pediram para ser mortos-vivos a vaguear as ruas pela noite à procura de vítimas para lhes chupar o sangue. Já quanto a José Pinto Coelho, esse, fez a sua opção de vida, para muitos considerada controversa: é o líder de um partido de extrema-direita, o Partido Nacional Renovador (PNR). Pronto, já sei que vão dizer que não é extrema-direita, é nacionalista, democrático, pluralista, etc., etc., mas estão enganados. É de extrema-direita sim, e afiliado com a Frente Nacional Europeia, onde tem a companhia da Nova Força, de Itália, a Aurora Dourada, da Grécia, o Partido Nacional Democrático alemão (NPD) e a espanhola Falange. É ainda membro da Aliança Europeia dos Movimentos Nacionalistas, onde se encontra o infame British National Party (BNP). São portanto apologistas do ultranacionalismo, do euro-cepticismo (defendem a saída do seu país da União Europeia, de que se dizem "contra", mas concorrem a eleições para o Parlamento Europeu, o que é sem dúvida de uma coerência excepcional), do protecionismo económico, assumem-se contra o integracionanismo europeísta e a imigração e defendem medidas radicais no combate à criminalidade.



Desta salada extremista, falta mencionar a francesa Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que herdou de seu pai Jean-Marie esta plataforma conservadora e igualmente Ultra-Nacionalista. O sucesso obtido nos últimos anos nas urnas levaram o FN a abandonar a Aliança da qual faziam parte com os partidos acima mencionados e juntaram-se a outra considerada mais moderada, a Aliança Europeia da Liberdade (?), onde estão também a Liga do Norte, de Itália, o Partido da Liberdade austríaco, outrora liderado por Jörg Haider, já falecido, e o seu homónimo holandês, cuja principal figura é Geert Wilders, de que já falei aqui no outro dia - pode-se dizer que a tal Aliança da Liberdade é como a Champions League do nacionalismo. Uma operação que se entende como de "cosmética", uma vez que os nacionalistas franceses pouco ou nada mudaram em termos de discurso ou de ideias políticas, mesmo que Marine Le Pen seja um pouco mais contida que o pai no que toca à retórica xenófoba - ele dizia, ela só "pensa". Mesmo assim basta comparar os dois logotipos para que se chegue à conclusão que FN e PNR ainda partilham dos mesmo laços ideológicos, apesar dos primeiros se terem "oferecido para adopção".


Mas um dos maiores, senão o maior cavalo de batalha deste PNR é a imigração, que quer combater. Resumindo, Portugal para os portugueses, e imigrantes todos daqui (dali, neste caso) para fora. Upa, upa. Isto de "Portugal para os portugueses" pode parecer muito bonito, e tal, soa a "Sporting para os sportinguistas", ou "asilo de idosos para os idosos", faz todo o sentido, mas já tentámos e não deu certo, paciência. José Pinto Coelho, numa das suas tentativas frustradas para chegar ao politicamente correcto diz que "não tem nada contra os imigrantes, desde que fiquem no país deles". Oiça lá ó meu amigo, eu estava aqui a tentar ser imparcial e traçar o seu perfil como o de uma pessoa inteligente, mas como é que seriam "imigrantes" se ficassem no seu país? Assim não seriam nem imigrantes para nós, nem emigrantes do seu país de origem. Ora bolas, querem ver que eu estou aqui a perder tempo com gente burra?


Aqui está outro cartaz do PNR, que em relação ao anterior é "same same, but different". Portanto os tais "nacionalistas" (eufemismo para fascistas e/ou nazis) responsabilizam a imigração por uma série de crimes, atribuindo-lhes mesmo a culpa pelo aumento da criminalidade. Bem, num país onde há, digamos, 100 mil imigrantes, teremos mais crimes cometidos por imigrantes que noutro país onde existam apenas 5 mil. Pela mesma lógica, um país com zero imigrantes atingirá a gloriosa marca dos zero crimes cometidos por imigrantes. Agora, será que se Portugal tivesse zero imigrantes, a criminalidade seria zero? Duvido e faço pouco. Nos passageiros daquele avião imaginário do PNR estão alguns males sociais, um deles a permanência ilegal. Claro que concordo que um estrangeiro que esteja em Portugal numa situação de ilegalidade deve ser expulso, mas quem é que disse o contrário? No caso de ser originário de um país onde corre perigo caso regresse, pode pedir asilo político, mas isto é uma coisa boa, e durmo mais descansado sabendo que existe esta alternativa, mesmo não sendo eu natural de um país problemático. Já quanto à marginalidade e a subsídio-dependência, penso que vai ser complicado acomodar no avião cerca de um terço da população portuguesa. Mesmo assim penso que os Ricardos Salgados do nosso país não devem ter problemas em arranjar um assento na classe executiva.


Aqui está outro cartaz mui creativo e na senda daquilo que o PNR representa. Uma ovelha branca (claro), expulsa de Portugal algumas ovelhas negras (lá está), atirando-as ao mar, o que vai um pouco contra a ideia defendida por José Pinto Coelho de que os imigrantes "estão bem é no país deles". Ora bem, nenhum imigrante é originário do fundo do oceano Atlântico, a não ser que estejamos aqui a falar de Neptuno, do Aquaman ou da Pequena Sereia - se for para expulsar os robalos, os carapaus, os peixe-espada e os bacalhaus, digo já que sou contra. Mais uma vez os males da Nação (palavra que os nacionalistas usam quando se referem a um país) são atribuídos aos imigrantes: desemprego, trabalho precário, multi-culturalismo (isso é mau, porquê?) e outra vez a subsídio-dependência e a criminalidade. Na sua página do Facebook, o PNR faz referência a uma notícia recente que dá conta de um cidadão angolano que foi detido nos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) após chegar ao aeroporto da Portela na companhia de duas jovens de 11 e 13 anos, também elas angolanas, e com as quais não tinha qualquer relação de parentesco, e que o acompanhavam sem autorização expressa dos pais. Descobriu-se mais tarde que eram esperadas por um cidadão estrangeiro a residir em Portugal, que as encaminharia depois para França, o seu destino final. Muito bem, palmas para os SEF e restantes autoridades que resolveram um caso de aparente tráfico humano, mas fico sem entender muito bem como é que o facto dos suspeitos terem usado o nosso país como escala para realizar os seus intentos torna os imigrantes a trabalhar em Portugal potenciais criminosos. É um pouco como o cu e as calças, que não têm nada a ver um com o outro.


E foi exactamente nesta questão da imigração que o PNR demonstrou quão democrático e dialogante é como força política. Há alguns anos colocaram um cartaz em Lisboa onde se manifestaram contra a imigração, anunciando o nacionalismo como "solução", algo que foi mal visto (felizmente) pela maioria dos portugueses. Fizeram-no a cobro do direito à liberdade de expressão, pagaram a publicidade, tudo bem, nada de irregular. No entanto os Gato Fedorento, conhecido quarteto de humoristas portugueses, exerceram o seu direito ao contraditório, e com base na mesma fundamentação legal do cartaz do PNR colocaram outro em baixo, em jeito de ironia. O PNR não levou isto na desportiva, e os elementos dos Gato Fedorento, em especial Ricardo Araújo Pereira, foram ameaçados por elementos da extrema-direita com ligações ao partido. Se for para escolher entre os imigrantes e não ter o direito de me expressar, discordar ou ter os meus próprios pontos de vista, então prefiro os imigrantes, obrigado. Mas esperem lá, o coitado do José Pinto Coelho e o seu PNR não têm a culpa que existam alguns "maus elementos" entre os seus (poucos) apoiantes, pois não? Talvez. Vamos ver.


Este rapaz na imagem é Mário Machado, um dos nossos compatriotas mais delirantes e confusos, que é partidário da ideologia de extrema-direita mais "no bullshit" de todas: o neo-nazismo. Mário Machado cumpre actualmente uma pena de dez anos de prisão em Alcoentre por crimes como roubo, sequestro, ofensas à inegridade física e posse ilegal de armas. Estranho, tendo em conta que o PNR atribui a responsabilidade pela maioria destes crimes a imigrantes, e Mário Machado diz-se "orgulhoso de ser português e de ser branco", apesar de "não ter qualquer preconceito contra as outras raças". Claro, desde que estas se ajoelhem à sua passagem e lhe reconheçam superioridade étnica, e já agora que sejam seus escravos. Mas não será injusto da minha parte chamar a Mário Machado "nazi" só por ele estar de braço em riste a fazer uma saudação...nazi? Será que merece o benefício da dúvida? Não, não merece, e não creio que ele aqui estivesse de braço estendido a chamar um táxi. Apesar de eu não ter nada contra tatuagens ou outras formas de expressão artística corporal, vamos ampliar uma tatuagem em particular, feita no braço de Mário Machado.


E aí está, e todos devem reconhecer o "design" e associá-lo a uma certa ideologia adoptada por um certo grupo que esteve na origem de uma certa guerra que dizimou um certo continente e matou milhões de certas minorias e ainda hoje produz certos sentimentos de desconforto e é símbolo de uma certa intolerância e de certos ódios. Atendendo ao comportamento tresloucado de Mário Machado e às posições que este assume, duvido que esta tatuagem tenha apenas um fim estético, ou que a suástica em causa tenha como inspiração a sua fonte original, ligada ao jainismo, hinduísmo ou budismo, uma vez que monhés e chinocas não são o tipo do rapazola. Ele gosta mais é do tio Adolfo. Mas e agora, o que tem isto a ver com o PNR ou com o José Pinto Coelho.


E aqui está a prova. Bolas, puxar as orelhas a estes gajos é mais fácil que apanhar peixe à unha de dentro de um barril. Ali à direita do senhor - do José Pinto Coelho, entenda-se - está o tal Mário Machado, e o facto de estarem juntos não é coincidência, pois Machado foi membro do PNR e um dos seus maiores ideólogos (da treta) desde a fundação do partido em 2000, e em 2005 foi responsável pela fundação da filial portuguesa dos Hammerskins, um grupo "skinhead" que nasceu em 1988 no Texas e que mais tarde se propagou à escala global, com maior incidência nos países desenvolvidos e onde existe uma maior percentagem de imigrantes. Mas pronto, e depois? Devia o José Pinto Coelho demarcar-se de um apoiante e companheiro de luta, apenas porque este é demasiado radical? Sim, acho que devia, pelo menos se a intenção é ser levado a sério, e já vamos ver porquê.


Os nacionalistas, neste caso os do PNR, "dizem não às drogas", e até neste particular insistem em não fugir do personagem e usam o desenho de uma bota cardada a esmagar uma seringa e alguns comprimidos, que representam "as drogas" - a mesma bota cardada que vai depois rebentar com a boca de pretos, ciganos, homossexuais e outras "drogas", segundo o PNR. Se o ultranacionalismo pode já por si ser considerado uma droga dissociativa, pois tem o poder de alienar os seus consumidores da realidade, o que se torna ainda mais grave é a hipocrisia de tudo isto. Mais uma vez apresento provas daquilo que digo.


Como já tinha dito, Mário Machado fundou os Hammerskins de Portugal em 2005, mas oito anos depois, três após a sua condenação a dez anos de prisão, abandonou-os, e numa carta que escreveu em Alcoentre denuncia algumas das actividades ilícitas do grupo, que incluem, lá está, "tráfico de droga". Tráfico de armas, incitamento ao ódio racial, violência contra as minorias e outros "rebuçados" do nacionalismo são coisas que o PNR não condena, antes pelo contrário, mas droga? Como é possível? A não ser que defendam que a ganza que os ciganos, os pretos e a "chungaria" vende seja "prejudicial para a saúde", mas a sua tenha "qualidades terapêuticas". Sim, deve ser isso.


Mas pronto, talvez Mário Machado seja o "enfant terrible", e José Pinto Coelho se relacione em geral com gente decente, evitando conotações com o extremismo e as temerárias ideologias neo-nazistas. Mas...o que é isto? Pinto Coelho a apertar o bacalhau a Udo Voigt, líder da extrema-direita alemã e presidente do Nationaldemokratische Partei Deutschlands, o Partido Democrático Nacional, ou NPD, já considerado um herdeiro do Partido Nazi e semelhante a este quer na retórica utilizada quer no programa, ideologia política, simbologia e atitude dos seus seguidores? Mas pronto, este NPD pertence ao mesmo grupo de partidos europeus do PNR, a Frente Nacional Europeia, e o José Pinto Coelho não iria recusar encontrar-se com um camarada. E depois pode ser que eu esteja a ser injusto ao ligar o facto de Udo Voigt ser alemão e de extrema-direita, além de filho de um oficial das Wehrmacht, o braço armado do Partido Nazi, com a ideologia nazi. Não tem nada a ver, não é? Pois, continuem a acreditar no Pai Natal, e insistam em negar as evidências.


Voigt é uma figura pouco consensual na Alemanha, e as opiniões variam entre o maior dos repúdios da parte de quem quer esquecer um período negro da sua história, e a admiração dos revivalistas que procuram soluções fáceis que passem pelo esvaziamento da competição inerente ao fenómeno da globalização, valorizando a sua inapetência através da eliminação da concorrência. É um princípio curioso este: há "x" empregos, dos quais "y" são preenchidos por imigrantes, enquanto "z" nacionais desse país estão desempregados? A equação é simples: "x" menos "y" dá lugar ao "z" à raíz da besta quadrada, e mesmo que não lhes apeteça trabalhar, ora porque o emprego é muito cansativo, ou tem que ser feito de pé ou debaixo de condições metereológicas adversas, está lá a vaga, e antes só que mal acompanhada. E para eliminar este factor "y", Voigt propõe até que se "lhes dê gás". Hmmm...alemão, filho de um oficial do exército nazi, que serviu Adolf Hitler entre 1935 e 1945, e ainda faz piadolas com "gás"? Mas lá está, se calhar sou eu que estou a fazer estas associações descabidas, pois aqui "gas" também significa combustível, e Voigt é um assumido adepto dos motociclos. Que parvoíce a minha em fazer esta dedução, mesmo que não faça sentido trazer a sua paixão pelas motas para a propaganda política. Mas pronto, devo manter-me democrático até ao limite, não é?


Eis aqui um grupo de apoiantes do NPD de Udo Voigt. Como se pode ver, quer a simbologia, a indumentária ou as cabeças rapadas nada têm a ver com o nazismo ou com a extrema-direita, pois não? Lá estou eu outra vez a ser levado pelas aparências. Tenho alguma prova de que estes rapazes deste partido são racistas até ao tutano, além do facto do próprio Voigt ter sido acusado diversas vezes de incitamento ao ódio racial, julgado, condenado e até cumprido uma pena de cinco anos de prisão entre 2005 e 2010? Ou só passou a contar a partir do momento em que foi eleito deputado do Parlamento Europeu, orgão da União Europeia que ele abomina e gostava de ver extinta, mas ainda lhe paga para ele ir lá falar mal dela?


Bem, temos aqui um cartaz propagandístico que apela à expulsão daquilo que chamam de "ratos islâmicos". De facto a paranóia da islamização tem colhido os seus frutos em países como a Alemanha, França, Holanda ou Bélgica, e não se pode dizer que as preocupações dos nacionais destes países se resumam à vertente rácica. Os grupos extremistas têm crescido nestas paragens muito por culpa da teoria da conspiração que aponta no sentido do fim da sua cultura, de que não poderão comer mais Brockwürst por estes serem considerados "haram", e que no lugar da Igreja de Todos os Santos em Witterberg, onde Martinho Lutero pregou na porta as teses que suportavam a sua doutrina, surgirá uma mesquita. É ambíguo julgar baseando-se apenas nestes parâmetros. É necessário algo mais consistente.


Ora aqui temos um bom exemplo. Por alturas do mundial de 2006, realizado precisamente em território alemão, Udo Voigt manifestou-se abertamente contra a inclusão na "mannschaft" do jogador Patrick Owomoyela, nascido na Alemanha, filho de mãe alemã e pai nigeriano. Apesar da eligibilidade do jogador para representar a selecção do país onde nasceu e de onde são originários os seus ancestrais do lado materno, Voigt não entende assim, e acha que "o branco não representa apenas a cor da camisola", sugerindo que "quem não é branco não pode ser alemão", e deixando no ar um panorama negro (literalmente) para a selecção, especulando na altura sobre a possibilidade de em 2010 a equipa de futebol da Alemanha ser um "tutti-frutti" de etnias, nacionalidades e confissões religiosas. Não só se enganou redondamente como ainda a integração gradual das gerações dos filhos de imigrantes na selecção produziu resultados, com a conquista do mundial de futebol este ano - e ainda bem, neste caso.


Para quem ainda não viu a relação entre este senhor e o PNR de José Pinto Coelho, basta observar este cartaz, que certamente vos é familiar. Sim, a criatividade dos nacionalistas portugueses ainda não atingiu este nível, e a parábola das ovelhas negras bem como a ideia do avião a levar os imigrantes de volta ao remetente é patente registada da tal Aliança dos neo-nazis europeus, e adaptada aos diferentes idiomas, e às vezes a situações específicas (na Alemanha os imigrantes são "despachados" num tapete voador). Podia ir buscar aqui mais exemplos, mas penso que ficamos esclarecidos sobre onde José Pinto Coelho se posiciona nas esferas ideológica e política.


Não tenho nada de pessoal contra o líder do PNR, reconheço o seu direito à opinião, e respeito as suas convicções, por muito que discorde delas. É livre de se exprimir e de defender os seus princípios, desde que o faça de forma pacífica e democrática, algo que certos dos seus apoiantes têm alguma dificuldade em assimilar, tantos são os exemplos. Quanto à sua contribuição para "O Clarim" em Macau, mantenho o que disse há duas linhas atrás: é livre de escrever o que quiser onde quiser dentro dos limites da legalidade. Só não entendo como é que o semanário católico macaense, que já demonstrou ser influenciável por certas sensibilidades (a última das quais levou a que se recordasse a sua linha editorial marcadamente eclesiástica) permita que um indivíduo conotado com valores dos quais a Igreja deveria manter-se afastada opine abertamente, e no diapasão que o tornou célebre. Se há algo que pode explicar este estranho paradoxo, será concerteza o facto de José Miguel Encarnação ter sido candidato pelo PNR nas últimas legislativas, pelo círculo fora da Europa.


O artigo de Pinto Coelho esta semana n'"O Clarim" é mais do mesmo, e cumpre rigorosamente a fórmula da retórica inflamada e do vazio de ideias que são próprios do extremismo e do nacionalismo (não encontrei o "link" directo, mas podem ir aqui ao site do jornal e clicar no último artigo em baixo, onde se lê "Derrubemos o regime"). Usa-se e abusa-se dos termos "Pátria", "Nação" e "República", sempre com letra maiúscula, expressões como "corrupção dos valores", "matriz nacionalista e humanista", "alienação social" e "sistema podre", e passa-se a ideia de que os portugueses "estão a ser enganados", "expoliados do que lhes pertence por direito", e "roubados por uma classe política que funciona como uma clique criminosa organizada. Claro que a única salvação reside no nacionalismo, no "virar isto tudo do avesso", na teoria da "terra queimada", em que se aniquila tudo o que há, nem que seja para poder dizer que há muito para fazer. Soluções para resolver os problemas em concreto com os meios que temos, e não com os que não temos, népias. É próprio de quem não é nem nunca pode ser levado a sério, e que conta apenas com o apoio residual de alguns portugueses iludidos e demagogos, mas pronto, eu respeito. Reconheço-lhes o direito à existência, tal como faço à mosca da fruta.

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