quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Até ao tutano


No Liceu tinha um colega safadinho, o Rafael, que por alguma razão que nem eu nem os restantes "gandins" alguma vez entendemos, tinha um ódio visceral por outra colega nossa, a Célia. O Rafael não perdia uma oportunidade para humilhar a pobre Célia, que também não morria de amores por ele mas não lhe pedia do que a deixasse em paz. Mas a miúda também não era nenhum anjinho, e tinha o vício da fanfarronice, com uma queda para a conversa fiada, que mesmo tornando-se irritante por vezes, não era razão para o Rafael massacrá-la a um ritmo quase diário, tornando aquele 9º ano num autêntico calvário. Um dia numa aula, não me lembro qual, mas era lecionada por uma daquelas professoras que gostam de conversa fiada (estão a ser pagas na mesma, porque não) estava a Célia a contar vantagem, falando da sua vida de princesa, e a conversa levou-a a dizer a certo ponto qualquer coisa como: "às vezes depois do jantar eu a minha irmã temos aulas de música com o nosso pai". Em menos de dois segundos, qual ponta-de-lança com uma eficácia fora do normal, o Rafael atira com: "ensina-vos a tocar o pífaro, que depois vos cospe na cara". A professora ficou chocada, e de olhos muito abertos repreendeu o Rafael - e não era para menos. Não me lembro de alguém ter rido a valer, mas não sei porquê nunca me esqueci deste episódio. Talvez porque aquele comentário tenha sido um dos mais oportunos e cinicamente bem executados de todos os que ouvi na categoria de "abuso verbal".

Isto para falar não de um pífaro, mas de um frango com uma aparência muito sugestiva, mesmo que seja apenas o desenho de um logotipo. A existir uma ave assim, o risco de cuspir na cara de um adepto de churrasco mais distraído são muitas - recomendam-se dentadas fortes e decididas. A ideia para este convite à malandrice e ao frango assado partiu de um restaurante no País de Gales, com um nome também pitoresco: "Dirty Bird", ou "pássaro maroto". O proprietário deste estabelecimento, um tal Neil Young, diz que "não vê nada de especial" no logotipo que despertou a curiosidade de quem passa pela sua loja em Cardiff, ou ainda quando a carrinha de entregas ao domicílio se passeia pela capital galesa ostentando aquilo que qualquer um entende parecer um falo. Sim, um "falo", e não um "galo", e aquela "crista" branca que nem sequer está agarrada às suposta cabeça do bicho também traz água no bico. Água, quer dizer, ahem. Young explica que está tudo na mente suja das pessoas, e que aquilo que aparenta serem os testículos de um pénis não são mais que as iniciais da empresa em letra minúscula: "d" e "b". Mas apesar ter o mesmo nome da estrela "folk" americana, Neil Young não é músico, e muito menos santo, tal como seu sócio e autor do logotipo do "Dirty Bird", um tal Mark James (muito suspeito); segundo testemunhas, os dois decoraram a carrinha com posters gigantes onde se lê "ricas coxas" e "peitos suculentos", referindo-se alegadamente aos frangos assados. Claro, e a gente acredita. A clientela feminina deve provar e aprovar, come o frango todinho, e chupa os ossos até ao tutano. É tudo uma questão de mentalidades, seus ordinários. Estão a pensar o quê? Francamente...


1 comentário:

El Pepe disse...

...ou "frangamente", para manter o tópico :P