terça-feira, 19 de agosto de 2014

Bruce, o Ji, e não o Lee


Bruce Ji oferece um "kit" de metadona à última contratação do Cascalheira F.C.

Uma reportagem de João Paulo Menezes na edição de hoje do jornal Ponto Final dá conta de um fenómeno muito particular entre a comunidade chinesa que faz de Portugal a sua plataforma onde leva a cabo os seus "negócios da China". A personagem que JPM descreve no seu artigo é Bruce Ji, um agente desportivo creditado pela FIFA, e que a julgar pela descrição é um daqueles parasitas que olha para o futebol como um campo de nabos num país que adora bibinca de nabo, mas não tem terreno fértil onde este se desenvolva. As suspeitas levantam-se logo que se faz uma busca a Bruce Ji na net e não se encontra o seu nome de nascimento. Obviamente natural da R.P. China, o facto de não exisitir uma "ficha" a seu respeito dá a entender que se trata de um "loose cannon", um mercenário que aproveitou alguma escapatória para se "internacionalizar". Bruce Ji tornou-se no presidente da SAD do Atlético Clube de Portugal, um dos históricos de Lisboa durante a primeira metade do século XX, mas que desde os anos 70 se encontra relagado para as divisões secundárias.

Em 2011/2002 conseguiram o maior feito em mais de 30 anos, com a subida à Liga de Honra, e na época seguinte fizeram uma época razoável, sob o comando do técnico João de Deus, que sairia para o primodivisionário Gil Vicente após o final da temporada. A segunda presença dos alcantarenses no segundo escalão, exigente para as finanças dos clubes, pois exige um grande investimento mas em termos de retribuição fica muito aquém das expectativas, foi um desastre, e chegou-se a considerar a desistência a meio da competição, caso não surgisse alguém com vontade de investir no clube. Esse algué acabou por aparecer, e foi um tal Eric Mao, também pouco dado a detalhes sobre a sua origem e identidade, e nomeou o imprevisível Bruce Ji para presidente da SAD. Se os portugueses demonstravam uma certa simpatia pelas lojas chinesas, com o seu horário conveniente e preços competitivos, os adeptos do Atlético acharam menos graça em ver o seu clube transformado numa dessas lojas. Mas não havia outra escolha, pois em Janeiro o clube da Tapadinha encontrava-se endividado até aos ossos e chegou-se a a considerar a hipótese de fechar as portas e desistir da Liga de Honra, o que os levaria a recomeçar dos escalões regionais mais baixos, e provavelmente sob outra designação. O investimento da parte dos empresários chineses salvou o clube, saneando as finanças com efeito imediato, mas nunca foi bem recebida pelos (poucos) adeptos, que desde cedo perceberam que o clubes estava a ser utilizado como tubo de ensaio.


Bruce Ji, encarregado da gestão financeira, implementou um sistema semelhante ao que se pratica no futebol chinês, decidindo em tudo, desde os custos da lavagem dos equipamentos até ao onze inicial a apresentar em cada jogo, e pouco lhe importava que o jogador que fazia questão em que alinhasse tivesse a perna partida ao meio - era tudo "investimento", como se de frangos de aviário se tratasse. O clube conseguiu pagar os salários e suportar as despesas, mas à custa de um mau ambiente, que levaria à demissão do director-desportivo, o ex-futebolista do Benfica e ex-selecionador de Timor-Leste José Luís. Bruce Ji pouco sem importava com os critérios técnicos, físocos, tácticos ou desportivos, pois para ele estes eram os seus "cavalos", e se andavam a pedir o "abate", que fizessem uma última corrida, ou se fossem demasiado maus até para uma equipa da cauda da segunda divisão portuguesa, era só encontrar um outro campeonato inferior onde pusdessem ser vendidos para uma equipa mais ambiciosa. A sua personalidade que rebentava qualquer costura por mais elástica que fosse levou-o a ele próprio precisar de ser costurado com doze pontos na testa, fruto de uma altercação com outro dirigente desportivo com uma visão diferente do mundo do futebol. Ao contrário do que nos dizem os "clichés", nem todos os chineses sabem lutar kung-fu, e este Bruce não era Lee, mas Ji.

Como diz o povo, o Diabo esconde-se mas deixa o rabo de fora. A esperança dos adeptos do Atlético em que o saneamento financeiro levasse à estabilidade em termos de resultados desportivos esvaziou-se com as "manias" de Bruce Ji, que deu sempre a entender que o clube estava ali para o servir a si e aos seus interesses, e nunca o contrário. É a velha máxima do pragmatismo: se morrer, morreu, antes ele que eu. O seu reino de terror foi subitamente interrompido por uma investigação da FIFA relacionada com a falsificação de resultados desportivos, e o empresário pôs-se "na sombra", delegando a gestão da SAD a outro, um português que não conhece este submundo das apostas e do mercado de jogadores da candonga. A julgar pela sua lista de amizades no Facebook tudo leva a crer que Bruce Ji se mexe no mundo daqueles empresários de jogadores que vende gato por lebre, e estará certamente disposto a vender os seus activos, não a quem pague mais, mas pelo menos a quem pague. Segunda divisão portuguesa não serve? E que tal a segunda da Sérvia, ou um dos "aflitos" da liga de Andorra. Tudo serve para se fazer uns trocos, até a IV divisão mongol, se existir. Se não existir, inventa-se, e que tal apostar num dos clássicos dessa extraordinária competição?

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