Como sabemos toda a televisão que vemos em Macau, com a honrosa excepção da informação, é uma bosta. Não me estou a referir à TDM em particular, pois até os canais de Hong Kong sofrem do mesmo problema: a produção local é pífia ou inexistente, e o que de bom vem de fora chega sempre muito tarde. Daí que nos tenhamos de recorrer à internet, ora ao YouTube ora às
bit-torrents, para ver qualquer coisa de novo e interessante.
Das séries que os meus filhos se entretêm horas a ver no YouTube, gostava hoje de falar daqueles concursos de talentos da
franchise "Got Talent", do imparável Simon Callow, ora o "Britain Got Talent", ora a versão americana "America's Got Talent". Um concurso que faz todo o sentido, pois é uma ideia interessante descobrir talento sem recorrer aos habituais e nem sempre muito limpos canais existentes no mundo artístico. O sucesso do programa é avassalador, vai na sexta séria na América e na quinta dos Estados Unidos, e o modelo é imitado um pouco por todo o mundo civilizado. Até na China.
Os programas são animados por apresentadores sempre muito divertidos e um painel de júris constituído por artistas conhecidos ou produtores musicais e televisivos, alguns deles bastante cínicos e por vezes cruéis. Destaco o tal Simon Callow, que já referi, e Piers Morgan, ambos britânicos, daqueles que por vezes só dá vontade de encher as fuças de murros, mas que conseguem trazer ao programa um certo "pedigree" e alguma dose de humor. Uma das júris do programa "America's Got Talent" é Sharon Osbourne, mulher e empresária do mítico Ozzy Osbourne e protagonista do
reality-show "The Osbournes", um dos maiores sucessos televisivos do início do milénio.
Temos oportunidade de ver números espectaculares, bem executados e até mesmo comoventes, mas como é chato quando tudo corre bem, temos também pessoas completamente iludidas e sem talento, que vão ao programa fazer figuras tristes. Não percebo como é que isto acontece, uma vez que para concorrer é necessário mandar um vídeo com a habilidade que se propõe mostrar, portanto assumo que é mesmo de propósito. Foi no programa "Britain Got Talent" que se revelou a tal Susan Boyle, a quarentona escocesa pouco atraente mas com uma voz de ouro, e agora conhecida em todo o mundo. É caso para dizer que se alguém tem mesmo talento e o sangue frio necessário, vale a pena arriscar uma ascenção ao estrelato através de um destes programas.
A versão portuguesa chama-se "Portugal tem Talento" e é (ou foi) transmitida na SIC, pelo que em Macau não temos o prazer de ver - e mesmo que tivessemos, seria com um ano de atraso, pelo menos. Aparecem alguns números engraçados nesse concurso, e outros menos felizes (que a comunidade do YouTube refere como "cromos"), mas só tenho pena que seja tudo tão portuga e tão pobrezinho. Saloio e rafeiro até dizer basta, e como prova basta olhar para o "timing": chegou a Portugal numa altura em que o modelo já se começa a esgotar no Reino Unido e nos Estados Unidos. É uma boa ideia copiar o modelo, sim, até porque a franchise o obriga, mas não era preciso imitar até ao ponto de o decalcar completamente.
O concurso é apresentado por Bárbara Guimarães, que tenta dar uma energia suplementar ao programa, mas não é nenhum Nick Cannon, o apresentador americano. Outra imitação escusada é a de Conceição Lino, que comporta-se tal e qual como Sharon Osbourne, alternando atitudes de "cruel" e de "boazinha", e para tal até usa um anel parecido. A Conceição Lino não é nenhuma Sharon Osbourne. A Conceição Lino está a milhões de anos de distância da Sharon Osbourne em tudo, e só lhe ficava bem se parasse de se comportar como uma macaquinha de imitação. Os outros jurados são o encenador Ricardo Pais, que é completamente calvo, tal como Howie Mandel, do AGT, e o ex-comediante e actual funcionário da MEO, Zé Diogo Quintela, que ainda consegue ser o único que se mantém fiel à sua personalidade original.
O vencedor deste ano foi um tal Filipe Santos, que cospe na mão e com isso produz sons, naquilo que se ousou designar por "beatbox". Os indígenas ficaram fascinados com o barulhinho, e ainda ficaram a pensar "como é que ele faz aquilo?", como crianças deslumbradas. Outros números bastantes requisitados incluem o "kuduro", o ilusionismo e até uma dança encantatória egípcia, que chegou às meias-finais. Tudo números autenticamente portugueses, em suma. Fico à espera de ver o "Portugal tem Talento" do próximo ano, dependendo sempre do YouTube para tal, evidentemente. Vou deixar aqui o vídeo da final deste ano. Gosto do comentário do utilizador andre4949: "espectacular são também as mamas da barbara! lol". Concordo e assino por baixo.