segunda-feira, 3 de maio de 2010

Notas sobre o 1º Maio


A leitura que se pode fazer da manifestação do 1º de Maio deste ano é deveras negativa. Negativa porque mais uma vez as ruas foram palco de confrontos, na habitualmente pacífica cidade de Macau. Ou será mesmo assim? As manifestações em outras cidades do mundo dito evoluído ficaram também marcadas por confrontos violentos, com destaque para Atenas, Bogotá e as cidades alemãs de Berlim e Hamburgo, onde os danos materiais são estimáveis. Preocupa-me sobretudo a mão pesada das autoridades, segundo as quais a força utilizada "foi proporcional à agressividade dos manifestantes". É caso para dizer que gás pimenta nos olhos dos outros não dói, e que provavelmente as roupas de alguns dos manifestantes dava a entender que precisavam de banho, daí a presença de canhões de água.

É exasperante a teimosia em tornar a Av. Almeida Ribeiro numa espécie de santuário. Custava assim tanto deixar os manifestantes passar pela artéria principal da cidade? Dez ou quinze minutos fariam assim tanta diferença? Será apenas uma questão de "face" que justifique tanta violência? Afinal os manifestantes passaram na Av. Almeida Ribeiro em Maios anteriores (2006 foi a última vez), e sem danos de maior. O deputado Chan Meng Kam defende que a Av. Almeida Ribeiro "é um centro de comércio", mas não estamos aqui a falar do 1º de Maio, um feriado obrigatório? Resolver este braço-de-ferro era meio caminho andado para que não fossemos massacrados todos os anos com tricas de percursos que só que nos distraem daquilo que é verdadeiramente essencial: as reivindicações dos trabalhadores no 1º de Maio.

Ninguém deu a atenção devida ao grupo de 200 jovens que se organizaram através do Facebook e foram marchar, pedindo mais equalidade e uma política concreta quanto à habitação, e outros assuntos que os preocupam. São estes jovens que vão construir o futuro de Macau, e porque não dar-lhes ouvidos agora? Seria interessante observar um acréscimo de jovens que se preocupam, que se interessam por política e pelo futuro do território. Além das duas centenas que participaram no Sábado existem outros tantos que pensaram em ir mas não foram (a página do Facebook tinha mais de 500 seguidores), e certamente milhares que partilham este tipo de preocupações. Este pode ser um sinal de que afinal não é "má-educação" protestar, bater o pé, fazer barulho por aquilo que não está bem.

Quanto ao grosso dos manifestantes, especialmente os que apareçeram na linha da frente dos confrontos com as autoridades, tenho que concordar com a maioria dos analistas: não têm razão. Ou perdem a pouca razão que têm quando as suas palavras de ordem são tão pífias como "não aos trabalhadores não-residentes", ou quando os seus cavalos de batalha passam por esperar ter tudo de mão-beijada, sem precisar de mexer uma palha. Na realidade muitos destes trabalhadores que reclamam a precariedade são operários pouco qualificados tecnicamente. Dou um exemplo: em Macau existe uma enorme escassez de canalizadores de tubos de água quente. Nos hotéis, por exemplo, o tipo de canalizações são especiais, que precisam de ser soldadas. Este tipo de soldadores tem que ser importado da China continental ou de Hong Kong.

É difícil que as operadoras de casinos pactuem com situações como atrasos, intervalos de uma hora para o almoço, meia-hora para o lanche, saídas às 6 da tarde com cartão picado, mil e uma desculpas e exigências. Há prazos para respeitar, o trabalho é duro, claro, e cada dia que um hotel ou um casino estão fechados, perdem milhões. Não se pode pedir aos trabalhadores locais que trabalhem mais por menos, mas era útil e interessante que se valorizassem, aprendessem um ofício para poder competir de forma justa com as exigências da profissão. Não fica bem exigir que se substitua um ladrilhador, um electricista ou outro técnico especializado não-residente, por um gajo que só sabe colar tijolos e carregar baldes de massa simplesmente porque tem um BIR.

O politólogo Larry So lamentou a utilização da bandeira da RPC pelos manifestantes para agredir as autoridades, lembrando que "nem numa guerra os inimigos desrespeitam uma bandeira". Uma preocupação legítima, prova da qualidade ou da falta dela de alguns dos manifestantes. Isabel Castro, fala do exagero do aparato policial. Concordo com a jornalista do Ponto Final, pois dava a entender que as autoridades não tinham intenção nenhuma em que os maifestantes levassem a sua adiante, a bem ou a mal. Se calhar tinham "informação privilegiada", que os confrontos iam mesmo ter lugar. O director do JTM, José Rocha Dinis, voltou a defender o "primado da Lei", que segundo ele "não é respeitado" pelos manifestantes mais agressivos. Carlos Morais José, do Hoje Macau, falou dos danos feitos à imagem de Macau no exterior. E com razão. Mais uma vez Macau saltou para as páginas da imprensa internacional pelos piores motivos. O que mais seria de esperar? Quando fazemos sempre bem, é possível que outros reparem mais quando erramos.

No rescaldo do segundo 1º de Maio mais escaldante da história da RAEM ficam 41 feridos, entre os quais a nossa bem conhecida Carmo Correia, fotojornalista portuguesa que estava apenas a fazer o seu trabalho, quando foi atingida por um dos tais canhões de água. Fiquei bastante triste com a notícia, pois a Carmo necessitou de internamento, quando provavelmente preferiria estar a passear e a gozar o magnífico tempo que fez no fim-de-semana, como muitos de nós - eu incluído - fizemos. Não sei se valeu mesmo a pena deixar uma pessoa com a graça de Carmo Correia no meio daquela selvajaria. Foi feio.

28 comentários:

Anónimo disse...

Mas esse é que foi o problema: a polícia não bateu. Usou canhões de água e gás-pimenta, que apanharam gente que não deviam ter apanhado. Se em vez disso tivessem usado a eficaz bastonada, poderiam ter controlado melhor a direcção dos bastões, fazendo com que só caíssem nos arruaceiros xenófobos que merecem isso e muito mais.

Anónimo disse...

"Dou um exemplo: em Macau existe uma enorme escassez de canalizadores de tubos de água quente. Nos hotéis, por exemplo, o tipo de canalizações são especiais, que precisam de ser soldadas. Este tipo de soldadores tem que ser importado de Macau ou Hong Kong. "..

ha qualquer coisa que nao está bem.. importar de macau!

Anónimo disse...

A Carmo Correia não só precisou de internamento como ainda está internada, com ossos partidos na cara. Foi isto que a polícia conseguiu fazer: agredir de forma violentíssima uma fotógrafa que estava a trabalhar. E agora, quem se responsabiliza?

Anónimo disse...

"apareçeram"? Mais um um ç que apareceu onde não devia.

Considerando que dos 40 e tal feridos 30 e tal pertencem à polícia acho que está tudo dito em relação em quem usou da violência com quem...

Anónimo disse...

O problema de Macau é que se anda a falar demais em democracia. E quando se alimenta o monstro democrático, os primeiros sinais são logo o desrespeito por tudo e todos e os criminosos a bater na polícia, em vez de ser o contrário.

Anónimo disse...

Em Macau a democracia confunde-se com a anarquia.

AA

Anónimo disse...

Acho que foi uma grande palhaçada.
Os manifestantes que agrediram eram quase todos grisalhos.
Os policias bem jovens com os seus escudos.
Aparece em pouco tempo alguns escudos (deixados?) no chão e depois dizem que a maioria dos feridos são polícias?!!!
Em que parte do mundo já se viu isso?
São "provocadores" pagos e do mesmo digo dos jovens, que foi manifestação encomendada e tal como a policia com ordens para ficarem a levar sem poderem DAR!

Anónimo disse...

Anonimo de 13:31, ou e' estupido ou faz-se, quando a policia abre o canhao de agua eles avisam antes de o fazer e quem nao sai da frente apanha! ela coitadinha como e' novata nao percebe disso.

Anónimo disse...

...ou, como é portuguesa, não percebeu o aviso em chinês.

Continuo a achar que a bastonada era mais selectiva e caía em cima de quem tinha de cair.

Anónimo disse...

Quem devia levar nas trombas é o anónimo das 14h26.

Anónimo disse...

Marca então hora e lugar, que eu vou lá para me dares nas trombas, meu herói.

Anónimo disse...

Então? Não há hora e lugar marcado? O corajoso das 22:41 fica-se? Agora é a tua chance pá de mostrares que vales. Vamos. Marca a hora e lugar como pede o anónimo das 23:39.

Leocardo disse...

Deixem-se de merdas, pá.

Anónimo disse...

"Marca então hora e lugar, que eu vou lá para me dares nas trombas, meu herói" esta bem,as 14h,depois de amanha 7 de Maio,no estádio da Luz junto a loja mediamarkt em benfica,vai sozinho e nada de armas,ok?

Anónimo disse...

No estádio da Luz junto à loja Mediamarkt? Mas o que é que leva o membro de um gangue tuga de Benfica a vir para aqui mandar postas de pescada? Isto é um blogue de Macau, ó parolo! Vou à hora combinada, se for para aí no Leal Senado, ou coisa assim, que em ir a Portugal (sobretudo a esse ninho de criminosos chamado Benfica) não estou minimamente interessado.

Anónimo disse...

"Mas o que é que leva o membro de um gangue tuga de Benfica a vir para aqui mandar postas de pescada"looooool,oh parolo mas está escrito na minha testa que sou benfiquista ou sou de uma gangue tuga???eu trabalho ai numa loja junto ao estádio da luz e nem sou adepto do benfica,sou adepto do sporting.Este é 1 blogue de Macau sim mas eu estou em Lisboa e sou macaense.Este blogue é frequentado por muita gente que nasceu em Macau e vive em Portugal.

Anónimo disse...

Isso mesmo! Blogue da lusofobia, é o que isto é!

Anónimo disse...

acho que é mais benficafobia do que lusofobia

Anónimo disse...

Se a Carmo nao percebe chines, tem olhos para ver, que o canhao nao e' assim tao pequeno. Foi um infeliz acidente, e e' isso que aconteceu. Ossos do oficio.

antónio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Oh Anónimo das 12h21,os outros chineses que ficaram feridos tambem não percebiam chines?

Anónimo disse...

Suponho que os outros chineses que ficaram feridos não andavam a trabalhar, andavam a pedi-las.

Anónimo disse...

"está escrito na minha testa que sou benfiquista?"

E onde é que eu digo que és benfiquista? Digo "gangue tuga DE Benfica", e não "DO Benfica". Sobretudo para quem vive em Portugal, já devias saber um bocadinho mais de português.

Quanto a "membro de um gangue" foi só uma questão de probabilidades, porque é o que mais há nessa zona do país. E vir para aqui falar logo em "levar nas trombas" sem motivo nenhum, que ninguém te tinha ofendido, ainda aumenta mais as probabilidades. Mas se calhar não foi mais do que a influência nefasta do sítio onde vives a fazer-se já sentir.

Anónimo disse...

O' 17:23 ou es burro ou faz-te, os chineses nao sairam porque queriam desafiar a policia, ha' sempre uns teimosos e armados de herois, parece que tenho que te explicar.

Anónimo disse...

O anónimo das 22h39 deve pensar que é muito esperto mas é 1 grande burro e ainda por cima mentiroso,eu não faço parte de nenhuma gangue e nem vivo em benfica,vivo em Lisboa e trabalho em benfica,isso não quer dizer que sou de ou do benfica.Tens é que aprender ver melhor o que as pessoas escrevem e não fazeres papel triste aqui.

Anónimo disse...

Ainda não percebeu a diferença entre "...de Benfica" e "...do Benfica". Como também ainda não reparou que Benfica fica em Lisboa.

Anónimo disse...

Tu é que dizes tudo,tu que sabes tudo,tu que és o paladino da verdade,és o maior.Fazes-me lembrar o Sócrates.Vou repetir pela ultima vez aqui,trabalho em Benfica mas não sou de nem do benfica.Se ainda não percebeste então já não posso fazer mais nada.

Anónimo disse...

E eu repito as vezes que forem precisas: onde é que eu disse que eras DO Benfica?