Para mim a chamada "mesa de Natal", que no fundo se refere às guloseimas que andamos a papar nesta época até ao Dia de Reis, tornou-se cada vez mais confusa. No meu tempo havia, pronto, coisas simples como faisão acabado de caçar, coelho assado, javali, enfim, pequenos deleites.
As sobremesas resumiam-se ao arroz doce que a minha avó fazia, às filhozes compradas "na mercearia da vizinha", ou aos ocasionais sonhos de abóbora, uma coisa que sempre me deixa água na boca. Comida era coisa que não faltava na mesa de Natal, e aperitivos como as nozes, avelãs, figos secos, passas de uva ou ameixas secas duravam sempre até meados de Janeiro.
Este ano tivemos uma lampreia de ovos, sonhos "em calda", azevias recheadas de atum, batata doce e doce de gila (xila? chila?), e até as tais filhozes se chamam agora "coscorões". Foi tudo consumido no mesmo dia, mas com reacções mistas da parte da família chinesa. Por alguma razão eles acham que as nossas sobremesas são "muito doces". Sobremesas deviam ser o quê? Salgadas?
O que não se percebe muito bem é o Bolo Rei. Eu até gosto do danado, mas conheço muita gente não gosta. Por acaso o BR até fica melhor depois de uns dias, tostado no forno com manteiga e chá. Só que não há mesa de Natal onde não falte o Bolo Rei, e a minha não foi excepção. A recepção foi mais uma vez mista, mas o que não me impediu de levar o bolo para casa e...comê-lo eu.
Quanto a decorações de mesa de Natal como guardanapinhos vermelhos, azevinho, velas e não sei que mais, nunca fomos grandes adeptos, nem cá nem lá. Lavar aquilo tudo é muito
heavy-duty, e sempre é preferível colocar na mesa um daqueles pacotes industriais de guardanapos e cada um tira os que quiser. Música de Natal, daquela que se ouve sempre durante três semanas todos os anos, dispensa-se.
Deve ser pelo facto de não ter passado os dois últimos natais em Macau que me desliguei, mas a maioria das famílias portuguesas come além do tradicional bacalhau, coisas como pernas de carneiro ou leitões assados. Contudo os portugueses não são grandes adeptos do perú, que até gosto. Pelo sim, pelo não, ficámos por um
ta-pin-lou caseiro, em família como convém. E nem faltou a árvore de Natal!
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