quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Haiti, ai de ti


1) Mais um tremor de terra se fez sentir hoje no Haiti, desta vez de intensidade 6 na escala de Richter. Foi a mais forte das 40 réplicas que se seguiram ao terramoto de 12 de Janeiro, que deixou mais de 200 mil mortos e afectou três milhões de haitianos, de acordo com a Cruz Vermelha Internacional. Apesar de rápido, o novo tremor de terra causou algum pânico entre a população já traumatizada pelo terramoto da semana passada. Numa praça transformada em dormitório público, uma mulher usou um megafone para rezar e orientar os haitianos desorientados. Em Pétion-ville, leste da capital, diante do Hotel Kinam, a multidão começou a repetir: "É o fim do mundo! É o fim do mundo!". Teme-se que este novo abalo sísmico venha tornar ainda mais difícil o trabalho humanitário no país mais pobre do hemisfério ocidental.

2) Entretanto a ajuda humanitária, ora em apoio médico ora monetário tem chegado de todas as partes do mundo. O terramoto e a força das imagens televisivas elevou o melhor que há em nós, e fez-nos esquecer por uns instantes algumas querelas mais perniciosas. Macau não tem sido excepção, e têm chegado de várias individualidades e associações generosos donativos, lembrando-nos que ninguém no mundo está livre desse flagelo das catástrofes naturais, que mudam por vezes a face do mundo. Todas as contribuições são bem vindas, e já é um triunfo que pelo menos uma parte da nossa ajuda chegue para amenizar um pouco que seja da agonia do povo haitiano.

3) Se há algo de positivo que saíu desta enorme tragédia humanitária no Haiti, foi a consciencialização da situação de miséria que aquela república da América Central vive há já várias décadas. Deixada às mãos de homens bons e de loucos desde a sua indendência, conheceu o pique da desgraça e da indecência durante a presidência de François Duvalier, vulgo "Papa Doc", que deixou o país nas mãos de um bando de criminosos analfabetos denominado "Tonton Macoutes". Há quem diga que um ataque cardíaco sofrido pelo ditador em 1959 terá afectado a sua capacidade de julgamento, mas seja a razão médica ou simplesmente sádica, este "Papa Doc" foi um dos diatadores mais sanguinários de toda a História do século 20. Todos os haitianos minimante inteligentes ou qualificados deixaram o país, numa espécie de "Revolução Cultural" à moda das Caraíbas de que o país nunca recuperou. Só para que se tenha uma ideia ao que o país estava entregue, Duvalier chegou a temer que um dos seus maiores inimigos se tinha transformado "num cão preto", e ordenou a matança de todos os canídeos negros do país. Depois da morte de François, sucedeu-se o filho Jean-Claude, de apenas 19 anos, conhecido por "Baby Doc", mais suave em estilo mas igualmente corrupto, déspota e incompetente. Caíram os Duvalier, mas a corrupção, a gerência ruinosa e a pobreza continuavam a ser endémicas. E no meio de tudo isto está aquele povo, descendente de escravos, que nunca se desamarrou das correntes da opressão e da miséria. Que se levante dali um país novo, das cinzas daquele que a História terá o dever de apagar.

2 comentários:

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Leocardo,
E bem verdade essa tragedio que se abateu sobre o Haiti, foi bem forte e e de lamentar tantas mortes.
Ontem o primeiro portugues a sofrer na pele essa tragedia, foi um jornalista da RTP, o Victor Goncalves, primo de um cunhado meu.
Um abraco amigo

Anónimo disse...

Também ainda vem a ser irmão de um tio-avô de um primo de uma sobrinha minha.