quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Macau é a praia


Em 18 anos de Macau, penso ter conhecido umas dez mil pessoas. A sério. Uma média de 555 por ano, e penso que não é exagero. Quando no outro dia estava a pensar com que meninas que conheço gostaria de rebolar no palheiro (se não fosse casado, entenda-se), e dei comigo a concluir: porra, que conheço tanta gente.

Há pessoas que entram e saem na nossa vida, como a mulher da padaria, o dono da mercearia da esquina, enfim, os vizinhos do prédio, que quando mudamos de casa nunca mais voltamos a ver, pelo menos com frequência. Depois há que contar com os amigos da família chinesa, com quem normalmente não conseguimos comunicar ou às vezes sequer reconhecer, e mandamos assim um adeuzinho seco na rua.

Mas o que eu queria falar era dos maravilhosos amigos que deixei aqui em terras do Oriente. Amigos portugueses, africanos e outros kwai-lous e afins. Digamos que há gajos e gajas que conheci, bebemos um copo, trocámos de e-mail mas nunca escrevemos. Esses são sempre “pessoas interessantes”, mas por algum motivo não são assim tão acessíveis.

Depois há as pessoas que conhecemos em festas de aniversário, os pais dos colegas dos filhos, enfim, uma espécie de pesadelo assim como o “Lost”, quando um grupo de pessoas é obrigado a conviver e ser simpáticos com indivíduos que não conhece de lado nenhum.

O pior mesmo é sermos obrigados a ser amigos dos amigos do nosso melhor amigo. Para isto uso a doutrina de um amigo meu que diz: “Eu por gostar de si não significa que vá gostar dos seus pais, dos seus irmãos ou do seu cônjuge”. Doutas palavras. Já agora acrescento: “Lá por ser amigo do cão, não quer dizer que vá ser amigo do dono”.

Tenho amigos que têm outros amigos que me chegam a dar nauseas. Quando converso com eles sobre isso, dizem-me que “não pá, o Chico Catotas é um gajo porreiro”. Mesmo que seja um indivíduo assim com um ar senil e doente, conseguem sempre encontrar um “coração puro e bom”.

As pessoas que considero realmente meus amigos têm de obedecer a um parâmetro simples: têm que estar em Macau, e tenho que conhecê-los pelo menos há cinco anos consecutivos. Há alguns que conheci e regressaram depois a Portugal que eram muito amigos, mas contudo a nossa amizade perdeu-se na distância e no facto de, afinal, temos que continuar com as nossas vidas. Não adianta chorar sobre os amigos derramados.

Mas o que realmente me irrita são aqueles “amigos” que chegam aí e são amiguinhos de toda a gente até poder começar a escolher. Para mim a escolha faz-se por sentido animal; tenho o dom de detectar pessoas de que gosto e de que não gosto pelo faro.

Aí entram os três preceitos para não ser meu amigo: alcoolicos, drogados, pessoas que falam alto ou caçadores de pito filipino/indonésio. Não por racismo ou algo assim, mas digamos que é um preceito moral derivado de um certo trauma colonialista, que espero que respeitem.

Mas os piores de todos são os que só nos conhecem em ambiente neutro, e nem se apercebem se estamos ali a ter um ataque de tosse se estiverem com “gente importante como eles”. Esses penso que todos sabemos quem são, e temos uma história ou outra assim parecida.

Em todo o caso, penso que me posso orgulhar de ter alguns amigos com quem ainda troco correspondência e telefono, e entramos num tom reminiscente falando das loucas aventuras vividas neste pequeno enclave. Macau não parece assim tanto como o “Lost”, mas mais como o “The Beach”, o tal filme sobre aquela praia encantadora.

11 comentários:

Anónimo disse...

Macau é mais filho duma praia...

Anónimo disse...

O que você teve de inventar para pôr aqui uma fotografia do Leonardo Di Caprio sem levantar suspeitas...

Leocardo disse...

O Leonardo di Caprio não me interessa, pois não sou nenhuma menina púbere. Já quanto ao anónimo das 10:51...

Anónimo disse...

"Aí entram os três preceitos para não ser meu amigo: alcoolicos, drogados, pessoas que falam alto ou caçadores de pito filipino/indonésio." ??? Isto é do mais estapafúrdio que já li. Não há por aí doadores de massa cinzenta? O Leocardo precisa!

Anónimo disse...

Brilhante. O Leocardo no seu melhor.

Anónimo disse...

Grande Filme!

Anónimo disse...

sao 4 preceitos Leocardo e ainda te falta por os doentes dos paneleiros na lista

Anónimo disse...

Oh leocardo, isso é que deve ser esgalhar o pessegueiro enquanto pensa nas meninas que gostaria de foder?! Como é um gajo fiel...

Anónimo disse...

"e são amiguinhos de toda a gente até poder começar a escolher..." Levam em regra 6 meses após a chegada a Macau para saberem distinguir com quem lhes interessa perder algum tempo, a quem lhes vale a pena convidar para jantar em casa, a quem não vale a pena ver na rua, a quem fazer salamaleques e cruzar a rua para ir de encontro, enfim 6 meses é quanto basta para saberem escolher...

Anónimo disse...

Nunca me tinha lembrado de escrever um livrinho de regras em que me basear para escolher os meus amigos. O Leocardo dá grandes ideias.

Anónimo disse...

Estou a imaginar as entrevistas que o Leocardo faz para comprovar se determinado gajo está apto para ser seu amigo:

Leocardo: "Já te conheço há 5 anos menos 1 dia. Amanhã podes conquistar o supremo direito de ser meu amigo. Mas primeiro tens de me garantir que não fumas droga nem bebes álcool às escondidas."

Candidato a amigo: "Estás maluco ou quê? Nada me dá maior prazer do que estar em ambientes saudáveis cheios de criancinhas aos gritos a beber aqueles maravilhosos batidos de peixe contigo!"

Leocardo: "Mas não te esqueças que nunca poderás falar alto para sobrepor a tua voz à das lindas criancinhas. Se não nos conseguirmos ouvir, paciência! Agora a pergunta definitiva: já alguma vez foste para a cama com uma filipina ou uma indonésia?"

Candidato a amigo: "Pá, claro que sim, que algumas são muito boas e muito bonitas."

Leocardo: "Então não podes ser meu amigo. Arruma as tuas coisas e vai-te embora. Adeus!"