domingo, 6 de junho de 2010

Epá, lixaram-me o Sábado




Mais um fim-de-semana que passa, mais um fim-de-semana que me apanho a lembrar-me de outros fins-de-semana. Quando era novo, enfim. Perdoem-me os meus desvarios de gajo careta e entradote, a entrar nos 40, mas quando vejo no Facebook as fotos da "beautiful people" a divertir-se nos novos sítios da moda, ainda acho que no meu tempo era melhor. Não sei, a malta era mais genuína, mais espontânea, fazia-se a noite com pouco dinheiro, conversava-se um bocado, dançava-se sem precisar de grandes aparatos, e também se conhecia gente bonita.

Fazendo um "rewind" de quase 20 anos, transporto-me à Macau do início dos anos 90, dos primeiros anos da última década da administração portuguesa. Quando cheguei não conhecia ninguém, naturalmente, e tive a sorte de ter amigos e amigas que me deram a mão e lá fui eu pela noite macaense adentro. Existia um barzinho muito catita num local que na altura conhecia mal mas por onde hoje passo praticamente todos os dias: o China Pop, ali algures no Beco do Sal. Um espaço pequeno, onde se podia ouvir música nova, beber uns copos, e ao fim da noite já ninguém se importava com o trânsito de ratos à porta do bar. Foi o primeiro espaço de diversão nocturna, por assim dizer, onde entrei em Macau.

Devido à enorme quantidade de expatriados das ex-colónias de África existente em Macau, existiam dois bares de referência de música africana. Aliás, dois e meio, mas já lá vamos. O primeiro era o Kurrumba, na Rua do Tap Siac, onde se podia, de acordo com os seus simpáticos frequentadores e proprietários, "kurrumbar". Nada de especial, diga-se de passagem. Onde a África estava presente em todo o seu esplendor era no Pyretu's Bar, na Rua Pedro Coutinho. Quem entrava ali numa sexta-feira ou num sábado à noite tinha a sensação de estar a entrar num bar qualquer de Luanda ou da Praia. Pequeno em dimensão mas enorme em coração. Em meados dos anos 90 apareceu na Areia Preta, num bloco do Edifício Hoi Pan, o bar A Tribo, propriedade de um simpático moçambicano. A Tribo não teve tanto sucesso quanto se desejava, muito por causa da invasão da comunidade filipina, que comprava cervejas na mercearia da esquina e ia consumi-las no bar, onde podia ouvir música. Nisto do show-business, a regra é muito simples: no business, no show.

Para quem tinha um gosto mais cosmopolita, existia o Talker Pub, também na Rua Pedro Coutinho. A música no Talker era providenciada por uma juke-box que depois das 11 horas nunca mais parava. Era o ponto de encontro dos jovens portugueses e outro expatriados, gente famosa, artistas, escritores, jornalistas, bêbados, enfim, toda a gente que era gente parava no Talker. Não sei se alguém está lembrado das fantásticas festas de Halloween que lá se organizavam, um verdadeiro encanto. O seu proprietário abriu mais tarde o Signal café no NAPE, e o Talker desapareceu. Cheguei a ir lá por volta do ano 2000, e era um bar chinês qualquer, completamente vazio, onde se comiam asas de galinha frita e chau-min. Partiu-me o coração. Hoje a Rua Pedro Coutinho é um desconsolo. O Pyretu's mantém a fachada, mas é uma loja-fantasma, enquanto o velhinho Talker é, vejam só, um salão de beleza.

Começasse a noite no Talker, no Pyretu's ou noutro sítio qualquer, passava-se inevitavelmente à ala nova do Hotel Mondial. A discoteca do Mondial era disco-disco, and no bullshit. Toda uma fauna de noctívagos que já descrevi neste blogue. Como ainda trabalhava ao Sábado, fazia uma perninha no Mondial à sexta-feira até às duas da manhã, mas ao Sábado era até me mandarem embora. Durante o mundial de futebol de 1994 nos Estados Unidos, era praticamente todos os dias. Transformava a noite em dia, e porra, como me divertia com aquilo. Nunca mais Macau vai ter um espaço superior ou igual ao Mondial. Ontem passei por lá, e nem discoteca, nem hotel, nem nada. Tábuas pregadas nas portas, como se tivesse passado por lá a peste negra. Uma tristeza, meus senhores.

Quem ainda tinha forças ou ainda não tinha conseguido um engate, "passava" para o restaurante Kruatheque, na Rua Henrique de Macedo. O Kruatheque, que ainda existe como restaurante, tinha uma pista de dança e um bar no rés-do-chão, e uma fauna verdadeiramente única. No andar de cima, onde só se ceava, as prostitutas tailandesas faziam uma bucha depois da saída do trabalho (da sauna, portanto), ora acompanhadas por malandrins, ou senhores portugueses e macaenses de meia-idade que, como não sabiam dançar, usavam a lábia para arranjar conquista. Belos tempos aqueles. Depois voltava para casa já de dia, ao som dos passarinhos, e dormia até à hora do jantar. E depois disso. Para mim não existiam Domingos.

Ainda cheguei a frequentar os bares do NAPE, no início, o UFO, na Pelota Basca, e o Heavy Club, na Avenida Sidónio Pais, mas já não era a mesma coisa. Era tudo muito pesadote, muito agressivo, muito "rated R", enquanto o Pyretu's, o Talker, o Mondial e o Kruatheque eram mais "PG-13". Depois vieram as responsabilidades familiares, e pronto, lá se foi o divertimento espontâneo e descomprometido. Mesmo assim tenho pena de não ter uma escapatória, um lugar onde possa extravazar a criança que todos temos algures dentro de nós. Em suma, lixaram-me o Sábado, pá.

16 comentários:

Anónimo disse...

Epá? Não queres antes um calippo?

Anónimo disse...

ಠ_ಠ

Anónimo disse...

Lembro-me desses sítios todos e de mais dois que costumava frequentar até de manhã há alguns anos: o DNA (Devils and Angels), uma discoteca enorme e "da pesada", ali perto do antigo Hotel Estoril, e o insuperável DD, debaixo da Praça da Amizade. E podia falar também da fase em que os portugueses da noite iam para aquela discoteca no Hotel Fortuna, onde cheguei a evitar que o tontinho do Vitório Cardoso levasse uma sova de dois italianos que não acharam piada nenhuma aos seus insultos nacionalistas.

Anónimo disse...

Acho que o dono do Talker terá aberto o Casablanca e não o Signal. Mas posso tar enganado.
você devia ter deixado os italianos ir em frente.

Anónimo disse...

hahahaha, esse Vitorio Cardoso é uma legenda? Mas porque iria ele levar na tromba? Qual o problema de falar em insultos nacionalistas perante facistas italianos? Não é tudo a mesma *erda?

Anónimo disse...

Quem é este Vitorio Cardoso afinal?passam a vida a falar deste gajo aqui no blog.quem é?vive em Macau?

Anónimo disse...

O Vitó estava bêbado e a insultar os italianos, dizendo que Portugal era o maior e Itália uma merda e outras coisas do género. O Vitó não gosta mais de Portugal do que eu, mas não é por isso que insulto os estrangeiros. Pensando bem, acho que estou arrependido de ter segurado os italianos e pedido para não ligarem nenhuma àquela conversa de um bêbado.
Quem não sabe quem é o Vitó não conhece bem Macau. Ponto final.

Anónimo disse...

Ó anónimo das 21:40, da próxima não segures, sejam eles de onde forem.

Anónimo disse...

Com nacionalistas bacocos como esse, não só não segurava os italianos, como ainda os ajudava a malhar.

Anónimo disse...

bem se alguem insulta o país do outro merece de facto levar porrada,mas se algum estrangeiro disser para mim que portugal não presta e que é 1 país de merda,eu até concordo porque Portugal é de facto 1 país de merda,não presta de facto.

Anónimo disse...

Quem merece levar na cara é quem diz isso do seu próprio país.

Anónimo disse...

dizer a verdade,que portugal é 1 país de merda para viver merece levar porrada?quem diz verdade não merece castigo.Se portugal não fosse uma país de merda voces não estavam a viver em Macau,foram para Macau porque?Portugal é tão bom para viver e foram para Macau?

Anónimo disse...

oh anónimo das 23h49 se Portugal é um país de merda é por causa do governo de merda que tem desde salazar.de resto Portugal tem muitas coisas boas senão vejamos:Gajas boas,clima excelente,comida excelente,boas praias,boas equipas de futebol,bons concertos de musica,vida calma.a maioria dos turistas gostam de Portugal.tivessemos 1 bom governo Portugal seria 1 óptimo país para viver.

Anónimo disse...

Gajas, clima, comida, praias e vida calma encontro com muito maior facilidade na Ásia do que em Portugal. Só boas equipas de futebol é que não, mas isso é o que menos me interessa.

Anónimo disse...

A maior parte das pessoas que vão para Macau trabalhar fazem-no pelo dinheiro e para terem uma nova experiência pessoal e profissional, mas isso não quer dizer necessariamente que prefiram Macau a Portugal ou que Macau seja melhor do que o seu país natal.
Ao longo dos anos que levo de Macau, já conheci muita gente de diversas nacionalidades que não gosta verdadeiramente disto ou que preferia estar no seu país, mas veio para cá porque foi onde arranjou oportunidade de emprego. É assim aqui e em muitos outros lugares. Também é assim com muitos imigrantes em Portugal.
Se um português puder escolher entre ganhar mil euros limpos em Portugal (que não são nada de especial) e dez ou qinze mil patacas em Macau, perguntem-lhe se prefere vir para Macau. Ele vem para cá porque não tem emprego em Portugal ou porque lhe dão um salário muito mais alto aqui. O resto é meramente acessório. Tanto que, se lhe derem o salário de Macau na Tailândia ou noutro país semelhante, ele é bem capaz de preferir mudar-se para lá. Eu mudava já.

Anónimo disse...

Respondendo ao anónimo das 9.41, esse gajo vive em Portugal desde o handover de MAcau e por ser coerente com aquilo que sente e diz do seu país.
Os que criticam o rapaz são geralmente os portugueses expatriados ou emigrados em Macau armados em políticos da esquerda portuguesa, pois com ele tem a comunidade macaense que não bajula a China e se mantém na sua. é tudo o que sei. O velho ditado já o diz, a inveja é a homenagem que a inferioridade tributa ao mérito.