Passei hoje uma boa parte da manhã o Centro Hospitalar Conde S. Januário, onde fui realizar uns exames de rotina. A última vez que lá estive foi em 2007, e desde aí, pouco ou nada mudou. À entrada apercebi-me logo que as máscaras cirúrgicas so a moda Primavera-Verão. Como não sou mais nem menos que os outros, aderi também. Aliás outra coisa não seria de esperar, com ou sem a ameaça da gripe. Quem vai ao hospital e está doente, deve usar máscara para não contagiar ninguém. Quem não está doente deve usá-la para evitar ser contagiado. Simples.
Como tinha as consultas e os exames marcados há um bom par de meses (e há quem diga que mesmo assim tive sorte), dirigi-me ao balcão central das informações, onde uma menina me disse que me tinha de ir ao balcão de "confirmação de marcação de consultas". Uma fila enorme cheia de gente enferma e idosa, que mais parece um "check-point" de refugiados fugidos de um Holocausto qualquer. Naquela fila "confirmam-se" as consultas para todas as especialidades: cardiologia, ortopedia, obstetrícia, clínica geral. De uma constipação a uma perna partida. E no fim de uma longa e escusada espera, leva-se um carimbo, e é-se mandado à vida. Penso que apesar da máscara na face, o rapaz do atendimento deve-se ter apercebido do meu ar de desagrado. Era um Zorro descontente naquela altura. Começava mal, a aventura.
Não se podia confirmar a consulta, sei lá, no balcão da especialidade? Isto nem é burocracia, é burrocracia. Se os profissionais do CHCSJ se queixam de que muitas vezes se fala mal sem razão, deviam ter em conta este pequeno aspecto, que é a recepção, e que naturalmente deixa os utentes mal dispostos logo à partida. Depois segue-se a simpatia dos técnicos de saúde. Já se sabe que as listas de espera são o que são, fazem o que podem e o tempo é curto. Era o que faltava atender toda a gente com um sorriso nos lábios e lembrar cada cara, nome ou caso específico, mas um pouco de simpatia não fazia mal nenhum. Deve ser para combinar com má cara dos utentes, que se vestem e agem exactamente como se estivessem mesmo muito doentes, quase a morrer.
A sala de espera da radiologia parece um cortejo dos penitentes, nem uma cara simpárica ou um ar bem disposto. Apesar da sala estar cheia, o silêncio só era interrompido pela chamada dos nomes ou pelo som do canal da TV de Hong Kong, que como seria de esperar, dava notícias da gripe suína. Como cheguei atempadamente a todas as consultas, consegui despachar-me em menos de duas horas, e só tenho que voltar lá daqui a três semanas, e espero que pela última vez em muito tempo. Os mais velhos, provavelmente já habituados, não se parecem importar. Alguns com consultas marcadas para as nove da manhã chegam lá às sete para tirar o número. A espera para uma consulta chega a ser de horas, para se ser visto pelo médico uns dez minutos.
O próprio edifício é deprimente; cinzentão, corredores longos e luzes fluorescentes no tecto. O S. Januário prima pela ausência de cor, vida ou o mínimo de calor humano. Há veterinários e oficinas de reparação de automóveis mais aprazíveis que este hospital. Parece que a mensagem que se quer passar é: isto é um hospital, estavam à espera do quê? Os cuidados paliativos - que tive o infortúnio de visitar uma vez - são verdadeiros corredores da morte, assombrados por um silêncio atroz. Foi uma das poucas vezes na vida que senti calafrios. As urgências são uma lástima, e quem não chegar lá com as tripas de fora ou a cabeça pendurada por um tendão, pode levar a manta e um candeeiro a petróleo e esperar lá o dia todo. E nem sempre sentado.
Não sei se vai alguma vez haver um novo hospital público, mas penso que não. Este já deu o que tinha a dar. Já sei que isto não é surpresa para ninguém, e muita gente vê o CHCSJ como única alternativa para quem não pode (ou não quer) pagar por cuidados de saúde dignos desse nome. Nem toda a gente se pode dar ao luxo de se meter num avião ou num barco e ir a Bangkok ou a Hong Kong às célebres clínicas-hotel, onde se é tratado não como um doente, mas como um "hóspede". Era talvez a altura de se pensar na saúde como um bem, e não como um encargo. Respeito os profissionais que dão o seu melhor com o pouco que têm, mas não me apetece pedir desculpas pela minha pouca paciência. Para a minha próxima visita, levo o PS2 do meu filho.
8 comentários:
Estimado Amigo Leocardo, estou completamente de acorodo com as suas palavras, eu dia 2 fui ao hospital, urgência e sai sem ser atendido, voltei dia 4, devido a estar fortemente engripado, felizmente não com a gripe A.
Macau é assim já!...
Eu apresentei queixa por escrito estou aguardando a resposta.
Em Bangkok só vai quem pode, mas em abono da verdade não será necessário todos esses luxos, Hong-Kong é caro, mas Macau bem podia ter um serviço de saúde bem melhor, já que os funcionários públicos descontam para isso, e a maioria que lá vai nada paga.
Era só fazer uma diferenciação mas enfim!... só espera quem quiser.
Continuo a curtir a gripe em casa.
pois eu estou aqui para dizer bem do s.januario, na quarta fui fazer um check up igual aos de bangkok e tambem fui ao posto de informacao, depois tirar sangue, dar a urina, fazer o electrocardiograma e o raio x, despachei-me numa hora e poupei 3mil mop de exame + hotel e viagem 'a tailandia :)
entrei as 9h30 como tava marcado e sai' 'as 10h.30, nao foram simpaticos nem antipaticos foram praticos e rapidos que e' o necessario, nao vou ao hospital pra admirar a beleza das paredes, tb tive que esperar 2 meses para fazer os exames e vou la' daqui a 15 dias portanto tb nao estejas a pegar com os servicos do s. januario, uma vez que tens a sorte de nao estares doente, tas mas e' stressado.
Ja' a urgencia e' bem pior quando a doenca nao e' grave, sao 4 horas de espera certinho, mas se o Cambeta entender o esquema, faz o restreio 'as 7.30 vai jantar e embalar os miudos e volta 'as urgencias pelas 11.30 e e' atendido mesmo que o seu numero ja' tenha passado, aproveite que eu nao duro sempre :)
Ainda me lembro do CHCSJ em 1998 quando delegações do Japão, da Coreia e outros países da Ásia o vinham visitar por ser tido como modelo a seguir… em 10 anos meteu-se de rastos um sistema de saúde que era uma referência. E, não estou só a apontar para a tutela, muitos dos portugueses que por lá passaram também tiveram culpas no cartório. Eu, feliz ou infelizmente, frequento o Kiang Wu… Se tenho de pagar pelo menos sou bem atendido… mas sem sorrisos também!!!
Ao estimado senhor anónimo, muito grato lhe fico pela sua informação, estamos falando do Hospital de Conde de S. Januário e não de qualquer outro país, este, infelizmente o conheço deste o ano de 1964, aliás este, o antigo, que era bem melhor que o actual no que diz respeito ao atendimento.
Digo mais, conhe;o tão bem o Hospital que até por lá ter ficado um mês hospedado me casei com uma parteira.
Eu recorri aos serviós de urgência por estar fortemente engripalhado, felizmnete que não tenho miúdos para embalar, as netas os filhos que tratem delas.
Cada um tem o seu posto de vista, ficaria aqui não a aprender consigo, mas sim a dar-lhe conhecimento do que de bom e de mau os serviços de saúde de Macau.
Um abraço amigo, eu cá me vou recuperando da gripe com medicamentos da cidade vizinha!...
E mais, pago para isso e não tão pouco como poderá pensar.
No Hospital de Conde de S. Januário, por certo não fez um Chek-up igual aos que se fazem nos bons hospitais em Bangkok, neste campo também experiência, mas enfim!...
Anualmente faço um Chek-up no Hospital VEJTHANI, que é óptimo e se paga um terço do que se paga no BUMRUNGRAD, é só questão de se saber escolher e conhecer, não é só ouvindo este ou aquele que se aprende, por vezes até somos enganados.
pagar 3 mil patacas de exame isso é que cobram no S.Louis em Bangkok, eu pago somente 500 patacas!...
o leocardo refere que confirma todas as especialidades, incluindo clinica geral, com a saida do dr mesquita e do dr Duque das Neves , o CHCSJ ja deixou de ter as consultas desta especialidade , limitando a apenas ao centro de saude, para quem ja passou pelas consultas nas hospitais portuguesas, o servico do CHCSJ ja nem e dos piores, por exemplo a medicacao e os exames complementares continuam a ser gratuitos e nao se vai esperar 5 anos para uma cirurgia como em portugal...as dificuldades da remodelacao do CHCSJ reside na proximidade da Guia e a limitacao em ultrapassar em altura na hipotese de reconstrucao...
Qualquer dia a gente nem consegue entrar no Hospital S. Januário..só espero não ser afectado o vírus do Gripe A por cá!!Deviam melhorar as condições e serviços do Hospital, em vez de distribuir e gastar improdutivelmente o nosso dinheiro!!!
Uma coisa é certa: o sistema de saúde de Macau não é nada bom, mas em Portugal ainda é pior. E o Sr. Cambeta, para quem vive na Tailândia há tanto tempo, sabe muitas coisas sobre Macau. Deve pensar que os sítios são sempre iguais e que aquilo que era verdade há 20 anos o é ainda hoje.
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