quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pandas


A candidatura de Chui Sai On a Chefe do Executivo - a única até agora - tem feito correr muita tinta. Existe um grupo de cibernautas que abriu uma conta no Facebook contra a candidatura do ex-secretário, e que conta já com mais de mil signatários. Esse mesmo grupo (ou talvez outro) já publicou manifestos na imprensa em Hong Kong contra a candidatura, e uma espécie de activista com um curioso vestido colorido com imagens de pandas fez-se passar por jornalista durante a conferência de imprensa de segunda-feira para exibir cartazes com palavras de ordem contra Chui Sai On. Chui pode agora processar judicialmente a falsa jornalista.

Isto tem estado bem animado, sem dúvida. O que mais me surpreende é a forma aberta como se tem criticado Chui Sai On. Ora nos anúncios na imprensa e no Facebook, aponta-se o dedo ao ex-secretário com acusações de corrupção, conluio com empresários e afins. Um dos outros "candidatos", o tal da medicina chinesa com a boca à banda, veio mesmo afirmar durante a apresentação da sua cadnidatura que Chui e o actual Executivo "são corruptos". O JTM através da pessoa do seu director José Rocha Dinis veio insurgir-se contra a falsa jornalista, o grupo do Facebook e veio finalmente assumir o seu apoio a Chui Sai On.

Uma coisa de cada vez. Em primeiro lugar o Facebook é um media pessoal, e lá porque alguém apoia este ou aquele grupo, não significa que esteja lá de alma e coração, a promover o activismo. Eu próprio pertenço a não sei quantos grupos, dos quais muitos já nem me lembro. Não sei se o JRD tem alguma alergia aos anónimos ou ao anonimato, mas posso-lhe garantir que não é possível que uma ou duas pessoas contem como cem ou mil no Facebook. Não é a mesma coisa que uma página de comentários, onde a mesma pessoa pode expressar a mesma opinião várias vezes utilizando identidades diversas.

Depois o caso da sra. jornalista sem sê-lo. É realmente mau que alguém se faça passar por jornalista e atrapalhe o trabalho dos profissionais da comunicação. Para mim jornalista é uma profissão que merece respeito como qualquer outra. De Papa a ardina, de presidente da Hungria a homem do lixo, todos devem ser respeitados. Só que isto não é nenhum crime. Não me preocupa que esteja à minha volta um falso jornalista quando estiver a precisar de primeiros-socorros ou de uma extrema unção. É muito mais grave que alguém se faça passar por médico ou polícia, pois pode estar em jogo uma vida humana, ou a segurança de alguém.

Quanto à candidatura de Chui Sai On, agora que é quase certo que o ex-secretário será o próximo CE, vem apoiá-la assumidamente. Prognósticos só no fim do jogo. Só que "a solução da continuidade" não é apoiada "pela maior parte da população". Até pode ser que seja, mas isso nunca vamos saber ao certo. Não é a população que escolhe o CE directamente. Das opiniões que tenho recolhido, a maioria prima pela "indiferença". A tal "continuidade" pode ser uma boa aposta, tendo em conta que os primeiros dez anos foram positivos em muitos aspectos, mas é perfeitamente normal que existam vozes dissonantes, e é também normal que se expressem.

O que me leva ao último ponto. Comentários do tipo "jovens sem provas dadas de que sabem do que estão a tratar", na senda de outros semelhantes, são pouco ou nada democráticos. Toda a gente tem direito a expressar a sua opinião, mesmo que seja errada, ou um enorme disparate. E é por isso que nenhuma democracia é perfeita, nem sempre aquilo que as as pessoas pensam ser melhor é o que resulta no fim. As opiniões não são um privilégio das elites, e toda agente tem o direito de se fazer ouvir. O voto do engenheiro ou do físico nuclear vale o mesmo que o voto do lavrador ou do trolha. Unanimades com todos a levantarem-se ao mesmo tempo só na Coreia do Norte. E aí temos que concordar, não é um bom exemplo...

3 comentários:

Pedro disse...

"E a RAEM fica bem entregue..."

É o titulo desse seu editorial. Como que um anuncio público de que o autor já identificou (com um grau de probabilidade suficientemente seguro) o próximo alvo a venerar e bajular a partir de Julho, e portanto quer que todos saibamos que vai começar a dedicar-se arduamente a essa tarefa.

Antes criticava o "jogo de adivinhas" que supostamente circulava em Macau acerca de quem seria o próximo CE, e apelava à serenidade. Mas agora que as coisas já parecem bem encaminhadas para um dos candidatos, toca mas é a arregaçar mangas e começar a marcar terreno antes que seja tarde.

Confesso que a mim já mete absoluto nojo a permanente lambujice subserviente e descarada desse espinha curvada que leva diariamente a arte de engraxar ao seu máximo expoente.

Depois argumenta que a solução de continuidade é apoiada pela maior parte da população. Mas quem é ele para extrapolar sobre o que pensa a maioria da população??

E será que esse inergúmeno sabe ao menos como funciona o facebook?

Essa de que "O anonimato é uma das grandes razões de sucesso destes tipos de rede, que, noutras paragens, têm estado na base dos mais sórdidos crimes, quase sempre de cariz sexual" é de uma ignorância que até dói.

Sabem o que dava enorme enorme vontade de rir à gargalhada?? Era que aparecesse de repente outro candidato forte de fora do actual executivo e as coisas comecassem a inverter-se no outro sentido. Isso sim seria um fartote, ver o tipo forçado a mudar de discurso e a enfiar a tal "solução de continuidade que a população de Macau quer" pela goela abaixo.

Anónimo disse...

Por acaso a maioria dos chineses com que falo diz-me que estão fartos deste governo e querem caras novas.

Anónimo disse...

O JRD não está minimamente interessado em qual será realmente o melhor candidato a CE de Macau. Ele apoiará quem quer que venha a ser nomeado, pois disso depende a continuidade dos apoios ao seu pasquim.