Fui um destes dias ao Cineteatro ver o filme "17 again", e foi ainda melhor do que esperava. Leio sempre as críticas antes de ver os filmes, e a
premise agradou-me: trintão desiludido com a vida deseja regressar vinte anos no tempo e fazer tudo de novo, só que volta a ter 17 anos...no presente.
A "engenharia" do rejuvenescimento e a forma como o personagem tenta convencer um "aliado" de que é realmente ele, etc, etc, são sempre as partes mais deprimentes deste tipo de filmes (vocês conhecem, "Back to the Future" e afins). Mas a mensagem em si foi o que valeu a pena, e me deixou a sorrir. E também deu para rir um pouco, e mais improtante que tudo, deixou-me a pensar.
Agora que tenho quase 37 anos, muitas vezes apanho-me a pensar que os 20 não foram assim há tanto tempo. Quanto mais se caminha para os 40, mais se tem essa sensação. Quando se olham para as fotografias daquele tempo, não reconhecemos aquele casulo do qual brotou aquele gajo que somos hoje, já com alguns cabelos brancos, uma banhas que não deviam lá estar, uns dentes que já foram mais branquinhos, e algumas veias pretas e feias que começam a aparecer esporadicamente nas pernas. E como a cereja no topo do bolo, as rugas! Às vezes chego a pensar que só guardamos as fotografias antigas numa espécie de ritual de auto-flagelação psicológica.
Um dos aspectos mais interessantes do filme foi a perplexidade com que o personagem dá por si no seu corpo de 17 anos de idade, e a respectiva boa forma física. Qual foi a última vez que pulámos uma cerca, apanhámos um comboio ou atocarro (ou barco, como já me aconteceu...) em andamento? São mais as queixas do cansaço, das dores nas costas, ou daquela coisa a que chamam "stress" e que na nossa juventude pensávamos que fosse apenas um palavrão que os adultos usavam para desculpar o facto de serem "caretas".
A relação com os filhos é também, por vezes, matéria de reflecção. Tenho a sensação que sou amigo deles e tal, mas por vezes chego a pensar que olham para mim como um polícia ou como o chefe deles. A verdade é que quanto mais vão crescendo, mais nos vão fugindo da mão. E nem pensar em tentar ser "fixe" (palavra que já nem se usa entre a malta nova) como eles. Quando pergunto à minha filha de que música ela gosta, atira-me com nomes como Chris Brown, Daniel Powter ou Jesse McCartney. Se me pergunta se conheço, respondo-lhe que "bem, conheço o Paul McCartney...".
E depois um dia acabamos como avós. Quando imagino o que é ser avô, vem-me à cabeça a imagem do velhinho de cabelos e bigode branco, óculos e chapéu de Sherlock Holmes. E não adianta enganar a idade, usando rabo de cavalo (o nome diz tudo: "rabo de cavalo") para disfarçar a calvície, ou brincos (simplesmente ridículo), ou ser um rabi surfista, a idade não perdoa e os mais novos nunca nos vão aceitar como "um deles". Tal como no filme, os 17 anos eram o tempo em que podiamos ser o que quisessemos. Tinhamos a vida e o mundo à nossa frente. E quantos de nós não gostava de ter outra vez 17 e saber o que sabe hoje? Como reza aquela canção de velhos, "I did it my way"...
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