Ano de eleições, ano de balanço. Têm sido vários os inquéritos feitos à população, desde o nível de satisfação com a qualidade de vida, até ao grau de participação cívica. Gosto muito de saber estas estatísticas, é uma forma de sentir o pulso à população, de saber as suas preocupações e anseios. No entanto os resultados não me surpreendem. Basta viver em Macau e ser um cidadão activo para se perceber bem os resultados que estas pesquisas agora divulgam.
Primeiro o estudo conduzido pelo Centro de Estudos Estratégico para o Desenvolvimento Sustentado (CEEDS), que ilustra o desinteresse da população pelos meandros da política. Considero que a população de Macau é muito pragmática e por natureza menos contestatária que a sua congénere hongconguense. A opinião do eleitor de Macau - que mesmo assim gosta de votar - não é tanto determinada por quem possa vir a resolver os problemas crónicos de Macau, mas quem possa servir os seus interesses particulares. Por isso temos eleitos de forma directa os operários, os casineiros, os empresários ou os expatriados de Fujian. Para os restantes os democratas e os "kai-fong". Democracia é um conceito vago. A pouca representatividade da população nos orgãos legislativos é um dos tais defeitos do sistema, e os esforços de alguns (poucos) para se alcançar a democratização desse memso sistema é quase vista como um conceito estrangeiro. Se me permitem, "um monte de sarilhos". O que a população espera dos seus políticos é que tratem da economia (como não sabem nem lhes interessa) e que mantenham a paz. O resto é lá entre eles.
O Instituto Inter-Universitário de Macau fez outra pesquisa sobre o nível de satisfação geral da população. Andam muito baixos estes níveis. Chamou-me a atenção o detalhe da insatisfação sentida pelos trabalhadores dos casinos. Afinal quem sempre sonhou em trabalhar num casino? Quem queimou as pestanas a estudar gestão, economia, comunicação, veterinária ou outra coisa qualquer e acaba a trabalhar num casino? Que satisfação tira um
croupier em ver um cidadão a esbanjar todas as suas economias numa mesa de jogo? Que realização profissional pode haver aqui? E o trabalho por turnos. Como funciona para quem tem família? Como conseguem acompanhar a educação dos filhos se estão na maioria das vezes ausentes? E o stress a que estão sujeitos devido ao horário errático de sono, por exemplo? Não basta dizer: "eis aqui o emprego, agora comam e calem". Quando surgem os problemas é preciso pensar nos seus antecedentes, e não pensar em fazer leis atrás de leis para cortar os problemas sociais de raíz.
A crise económica internacional que vemos a custar milhões de empregos em todo o mundo ainda não chegou a Macau, pelo menos em força. E vamos ficar a torcer que não passe, ou que os seus efeitos sejam o menos danosos possível. Se em ano de eleições, cuja campanha costuma trazer as formas de pensamento mais radicais e o populismo ao desbarato, era mau que a contestação subisse de tom. Sabe-se lá o que pode acontecer quando se procuram mais bodes expiatórios, mais responsáveis pelos males do território, mais culpados pelo desemprego. É preciso ter calma, e já agora um pouco de interesse. Mas cabe a quem de direito que esse interesse da população pela actualidade do território, pela política, pelo pequeno mundo que os rodeia que é Macau. Só assim se pode esperar mais da tal participação.
5 comentários:
Você não dorme homem? Bom post este.
Cumprimentos.
COMO SÃO VÁRIAS PESSOAS A FAZER O BLOG....
Primeiro era o Cardoso, depois o Leonel, agora "Vários". Um conselho: não deixe o emprego para abrir uma agência de detectives, será um fracasso.
Cumprimentos.
Vivendo eu em Macau há bastante anos, nunca encontrei nesta cidade uma qualidade de vida que se diga ser boa.
Mas só cá vive quem quer, quem não gostar que se mude, assim diz o velho ditado.
Mas nem tudo é mau!..
Tenho que tirar o chapéu e agradecer ao nosso grande escritor Leocardo por este belos momentos que nos faz passar, com este seu interessante, e um pouco intriguista, por parte de alguns anónimos, mas tudo vale a pena, continue, um abraço amigo, cá do norte do Sião.
Obrigado eu, estimado Cambeta.
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