sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Os blogues dos outros


Há cerca de trinta anos, antes da fase indigenista, uma certa historiografia brasileira quis exercitar a possibilidade de uma história do Brasil, mas sem Portugal. Foi o tempo de ouro do "Brasil holandês", com hinos e incensório a Maurício de Nassau, ainda persistente entre alguns retardatários. Sim, os holandeses estavam no Brasil para implantar a industrialização avant la lettre, promover a difusão do conhecimento científico, aplicar tecnologias que libertariam o escravo negro do brutal regime da sanzala. Se assim fosse, por que razão haviam tomado S. Paulo de Luanda, porta de saída da mão de obra escrava destinada ao Brasil holandês ? A mesma perspectiva volta contraditoriamente à carga na análise da guerra entre "brasileiros" e holandeses, a qual terminou nos Guararapes (1648). O facciosismo quis ver nessa vitória a certidão de nascimento do Brasil e da "brasilianidade". Coubera aos "brasileiros" reconquistar a sua terra ocupada pelos próceres da VOC e nessa empresa não precisaram nem do Rei de Portugal nem de soldados vindos da Europa. A verdade que querem esconder é que se houve Brasil, essa foi obra portuguesa, não obra do acaso e das errâncias e feitos de homens duros, como os Bandeirantes, mas de um escopo legislativo que produziu e conformou o imenso espaço a uma unidade irreversível que se veio a realizar com a independência do país. Das capitanias hereditárias às capitanias gerais e aos municípios, aí viveram portugueses e não "brasileiros", pois era essa a designação que ostentavam. Havia "portugueses de Angola", "portugueses de Macau", "portugueses da Índia", divididos entre reinóis (nascidos na Europa) e nascidos no território, mas todos portugueses. O que aqui aflora é, somada à ignorância, a vontade de minorias recém-chegadas em imporem a sua "brasilianidade", nomeadamente os italianos, os alemães, os judeus e até os libaneses e japoneses. Não sendo agentes de construção do Brasil, mas imigrantes que foram ganhando protagonismo e riqueza ao longo das últimas décadas, querem a todo custo impor a sua primazia na fabricação da identidade e do Estado.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

No exercício de uma qualquer profissão dita normal, um sujeito que se atire propositadamente para o chão será considerado maluco ou parvo. Até porque atirar-se para o asfalto é coisa para doer um bocado. Depois do jogo de ontem, entre FCP e SLB, está visto que o normal no futebol é coisa diversa do mundo em que nós, meros actores desta vida, nos movimentamos. E, ao invés de ser ostracizado, o fuínha que se teatraliza no relvado é considerado um herói. Em lugar de ser apelidado de rafeiro, imoral e desonesto, é considerado um espertalhaço que “cavou uma falta na área” (na corrente terminologia futeboleira). Os campos deveriam voltar a ser pelados, a ver quem é que tinha coragem de fazer as fitas que hoje se fazem na relva. Mundo giro, este o da bola...

VICI, MACA(U)quices

Selecção com Queiroz é um festival, sim, mas da risota. O desconchavo táctico só é ultrapassado pela mímica desesperada e desesperante do treinador no banco de suplentes. Embora seja certinho que alcançaremos o apuramento para a África do Sul, dando uma desvairada alegria à diáspora lusitana, e permitindo uma eventual vingança do Professor caso nos calhe a equipa da casa, esse caminho será feito com as mãos na barriga e o coração na boca. É que não vamos ter uma equipa, vamos ter uma rapaziada que vai jogar à fuçanga e ter sorte, muita sorte. De resto, o futebol não passa da sorte, o mais sendo aparato e contingência. Pode é haver equipas que facilitem a sua chegada e outras que a dificultam. Neste jogo com a Finlândia, voltámos a ver uma equipa que jogou à antiga portuguesa, tudo fazendo para enxotar a sorte. Que ninguém se iluda: falhar golos de baliza aberta não se consegue apenas por um qualquer tipo de inépcia ou inércia, é preciso ter a deliberada intenção de alterar a probabilidade natural desse tipo de eventos. Ora, quem consegue tais feitos mirabolantes, poderá também conseguir o seu contrário. Basta que se esforcem menos, que sejam menos criativos na altura da finalização. É só.

Valupi, Aspirina B

A famosa firma alemã Marklin, fabricante dos melhores comboios em miniatura do mundo, acaba de declarar a insolvência, precisamente no início do ano em que se comemora o seu 150º aniversário. A Marklin foi comprada em 2006 pela Kingsbridge Capital e pela Goldman Sachs, quando já estava em dificuldades financeiras, e tem vindo a procurar-se restruturar-se e sair da crise desde então. Fonte da empresa disse ao Financial Times que a declaração de insolvência ia ser aproveitada pela Marklin para tentar uma derradeira restruturação. Mas os comboios em miniatura também, senhores?...

Eurico de Barros, Jantar das Quartas

Manuel Alegre foi visto ontem no hemiciclo da Assembleia da República a aplaudir entusiasticamente o primeiro-ministro José Sócrates. Foi bonito de ver como os almoços entre os dois políticos do PS surtiram efeito. O entendimento foi total. Tu apoias-me como secretário-geral e não te vais embora do PS porque eu coloco o partido a apoiar a tua candidatura a Presidente da República. Tudo bem. Só é pena que Alegre esteja, à partida, derrotado por Cavaco Silva. Terão de esperar por mais cinco anos...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

A Câmara Municipal de Lisboa, e não só, distribuía mal ou bem, justa ou injustamente, com amiguismo ou corrupção, casas pelos pobres, pelos remediados, pelos desprezados da sorte, pelos amigos dos presidentes e por quem se inscrevesse para o efeito, caso um dia conseguisse uma 'cunha'. Um dia, por vingança política e ajuste de contas, alguém lembrou-se de rebentar a bronca divulgando que artistas, jornalistas, políticos, enfim, um rol de amigos das várias vereações da edilidade possuiam casas com contratos de arrendamento irrisórios. A bomba chegou mesmo a estalar nas mãos de uma vereadora. Os bombistas ficaram imensamente satisfeitos com o resultado dos estilhaços: manchetes, abertura de noticiários, debates, discussões no Parlamento e mudança de paradigma. Mudança de quê? Porra, que já estou a falar como os políticos. Não, não quero. Vim aqui só para vos dizer que a situação ficou 100 vezes pior. Agora, nem os pobres conseguem uma casinha...

João Severino, Risco Contínuo

Lembram-se daquele processo em que Pinto da Costa era arguido, por causa da "fruta" para os árbitros? Sim, aquele que Maria José Morgado, depois de ouvir Carolina Salgado, decidiu recuperar das catacumbas para levar a julgamento? Sim, esse mesmo em que o juiz de instrução criminal achou que não havia motivos para julgar Pinto da Costa e, por isso, não pronunciou? Claro, aquele que teve recurso do MP e que, agora, o Tribunal da Relação veio dizer que Carolina não é de confiança? Sim, esse. Não sei, nem tenho a mais pálida ideia sobre o acerto da decisão. Mas também não é isso que me preocupa agora. O que eu gostava de saber é se Mme Carolina Salgado ainda beneficia de protecção policial diária por parte da PSP. Não, não quero atentar contra a senhora, nem pretendo aproximar-me. É só porque tal protecção diária, 24 sobre 24 horas, deve custar uma fortuna ao Estado. Lembrei-me disto, porque amanhã é dia de pagar IVA.

J.M. Coutinho Ribeiro, Delito de Opinião

Vasco Pulido Valente escreve um texto notável e totalmente certeiro na edição do Público de hoje (sem link). Segundo o autor, “é difícil imaginar o regime sem uma alternativa de direita”. Pulido Valente acrescenta que “o país pagará caro a fantasia Ferreira Leite e o endémico caos do PSD”. Sob pena de ser acusado de situacionista, penso estarmos perante um exemplo claro de paralisia partidária. O maior partido da oposição caminha alegremente para o desastre eleitoral e o sistema político português parece incapaz de apresentar uma alternativa à actual situação. Se há dúvidas sobre a crise do Bloco Central, olhe-se para aquilo a que muitos chamam o congresso albanês do PS. A analogia não se refere apenas à falta de alternativas, mas a sinais mais preocupantes, como o esvaziamento ideológico, a rigidez da votação interna, a língua de pau da retórica, uma certa agressividade deslocada. Resta-nos o cinismo ou a desistência.

Luís Naves, Corta-Fitas

Um deputado holandês, Geert Wilders, foi impedido de entrar no Reino Unido. Motivo? Realizou um filme sobre terrorismo islâmico. Num país onde os mais fanáticos extremistas religiosos apelam ao assassínio e ao martírio, impunemente, os responsáveis políticos lembraram-se agora que é perigoso incomodar gente que pode ser perigosa quando se sente incomodada. E a Europa das liberdades, da livre circulação, da livre expressão foi mais uma vez substituída pela Europa dos cobardes, tão amedrontados que até se agacham antes da ameaça. Que atitude miserável. Shame on You, UK.

João Caetano Dias, Blasfémias

A laicidade garante a liberdade de expressão para todos. Até para os que gostariam de a restringir, ou que a ela se opuseram historicamente. A ICAR pode portanto bradar contra os casamentos entre homens, ou entre mulheres, ou entre pessoas estéreis. Está no seu direito. Como nós estamos no nosso ao criticar os argumentos apresentados e a sua fundamentação. Por exemplo, que «detrimento» resulta para as famílias existentes do reconhecer-se novos tipos (legais) de família? Ou qual será o prejuízo para a «crise» de uma medida legislativa que cria novas famílias? Ou ainda, porque será a «família homossexual» mais «antropologicamente errada» do que o celibato? Finalmente, será que não compreendem que o que se deve mesmo dizer às novas gerações é que «sejam o que quiserem»?

Ricardo Alves, Diário Ateísta

O "Correio da Manhã", obviamente angustiado com o magno problema do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como é de bom tom nestes nossos tempos, foi interrogar o Padre Secretário da CEP sobre a agenda da reunião. Queria saber se esse tema transcendente, objecto de culto e adoração e dos transes místicos de toda a classe jornalística, era objecto da reunião. O Padre Secretário não o quis desiludir de todo, e respondeu-lhe que "o assunto vai, naturalmente, ser analisado, mas não é o fundamental." E logo de seguida, para que o plumitivo, naturalmente jovem, percebesse as alturas a que a CEP eleva o seu espírito ("o fundamental"), adiantou-lhe que "há assuntos muito mais importantes a preocupar a Igreja e a sociedade, como a crise económica, a pobreza e o desemprego." Ao ler a notícia, confesso aos leitores que o meu primeiro impulso foi arrumar entrevistador e entrevistado com uma sentença breve e definitiva: o jornalista é tonto e o padre é estúpido, e eu já não tenho paciência para mais. Todavia - os primeiros impulsos nunca são os últimos - aqui estou a desabafar convosco. A sentença era, aliás, muito provavelmente, injusta. Nem o jornalista nem o padre são os responsáveis por esta agenda. Esta, porém, a agenda da CEP, ficou-me cá dentro a latejar. Será que um dia destes poderemos subsituir a CEP pelo directório da SEDES? Ou por uma comissão especializada do ISCTE? E quando os relatórios indicarem que "a crise económica, a pobreza e o desemprego" estão finalmente superados - dissolve-se a CEP, e a Igreja também?

Manuel, Sexo dos Anjos

Os professores de educação visual vão ser avaliados com base em análise de risco?
Na avaliação dos professores de geografia conta mais a geo ou a grafia?
Não é injusto avaliar professores de má temática?


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente, João Caetano Dias, no Blasfémias. É isso que existe hoje, uma Europa ridícula que, na sua ânsia de ser tolerante, já de há muito vem permitindo a intolerância no seu seio. Os europeus que sempre o foram estão cada vez mais manietados pelo politicamente correcto, já não podem dizer nada porque poderão estar a ofender alguém. Pelo contrário, os islâmicos que na Europa encontraram guarida ameaçam-na de destruição, quando seria muito mais fácil para todos simplesmente voltarem aos seus locais de origem. Proponho, já agora, que a Europa se reja pela "sharia" e torne obrigatório o uso da "burka", para agradar aos irmãos muçulmanos. Aquilo já não é a Velha Europa, é a Europa Senil, da qual me manterei longe enquanto possível.