quarta-feira, 28 de abril de 2010

Manual de sobrevivência em Macau - parte I


Dos livros que não existem mas deviam existir destaco um que seria uma delícia para estrangeiros recém-chegados ao território: “O Guia das Boas Maneiras de Macau”. Não um manual que ensinasse o expatriado a comportar-se bem, nada disso. Mais um guia de sobrevivência, de adaptação a certos costumes que podem parecer no início meio...estranhos.

Pela introdução podiam passar os que se notam passados poucos dias: os arrotos e as cuspidelas. É considerado “saudável” arrotar por razões que têm a ver com o “ar quente”, que segundo os costumes chineses, é responsável por um nunca mais acabar de doenças, erupções cutâneas, queda de cabelo, chulé, unhas encravadas e tudo mais. Quando se está com ar quente, bebe-se long-cha (涼茶), literalmente “chá para arrefecer”, uma espécie de “herbal tea” chinês que se pode encontrar numa ervanária qualquer. Escusado será dizer que quanto mais fundo e sonoro for o arroto, e maior a quantidade de “ar quente” libertada, melhor para a saúde.

Agora que está passado o atestado a este estranho hábito, falemos das cuspidelas. As escarras são outra forma muito higiénica e zen de manter a boa saúde, limpando as fossas nasais e eliminando assim prejudiciais bactérias. Tenha apenas o cuidado de se afastar caso a hora de tratar da saúde coincida com a sua presença no passeio, e junto do cidadão preocupado com o seu bem-estar. Ainda ontem precisei de levantar o pé para não levar com bactérias alheias nas calças e nos sapatos. Apesar de existirem multas para punir este tipo de comportamentos, estes ainda são vistos como uma "tradição inofensiva".

Quando começar a frequentar os restaurantes e tasquinhas, repare no ocasional pé em cima da cadeira, uma forma de descontração encontrada por alguns cidadãos que executam um trabalho mais físico, e portanto mais propenso a que se exercitem articulações “anytime, anywhere”. Depois saiba ainda que é permitido cuspir os ossos e as espinhas para cima da mesa. A maioria dos mais jovens e educados não o faz, normalmente, mas não se preocupe em acumular comida em cima da toalha, que depois é substituída para os próximos comensais. Isto quando não é apenas de plástico, e deitada fora e trocada por outra.

Uma das coisas boas que se podem encontrar nesses restaurantes são as toalhas que escaldar, que dão muito jeito para limpar bem as mãos. Não me perguntem porquê, mas não as levem à cara ou à boca. Simplesmente "porque não". A maioria das tasquinhas acha que guardanapos são uma coisa de “lorde”, e optam por disponibilizar rolos de papel higiénico (isso mesmo, papel higiénico) para o freguês limpar o molho do peixe em banho-maria com gengibre e cebolinho. É normal, e o resultado "é o mesmo".

Não se surpreenda se vê as sopas, caldos e sobremesas serem sorvidas. Aqui não se considera higiénico colocar o talher dentro da boca. Em contraste – e ultrapassado o trauma da sopa sorvida – aprenda a utilizar os pauzinhos (há restaurantes que não têm facas de mesa, e mesmo um garfo é considerado um pedido fora do normal) e aprenda ainda que não se usa o mesmo pauzinho com que se come para tirar a comida. Antes das refeições existe o hábito de “lavar a louça” com chá. Isto mesmo nos restaurantes mais caros e chiques. Passam-se as tigelas, colheres, prato e pauzinhos pelo chá, e depois deita-se o chá fora para uma vasilha própria para o efeito.

Nas casas-de-banho públicas, caso tenha o azar de precisar de uma, é comum encontrar cidadãos mais idosos que utilizam o urinol com as calças completamente puxadas para baixo. Isto não sei explicar bem, mas terá qualquer coisa a ver com o conforto, e com o conforto não se brinca. Alguns sanitários são simplesmente um buraco no chão, o que é particularmente desconfortável para quem não queira ficar completamente nu, mas mesmo assim há quem fique de cócoras em cima dos outros sanitários mais ocidentalizados. Tem a ver com a forma correcta com que se faz vocês-sabem-o-quê, e claro, a “mais saudável e higiénica”.

É comum duas pessoas que se conhecem conversarem animadamente numa casa-de-banho pública ou de escritório, mesmo quando um deles está a fazer força – o que, admitamos, é desagradável. Há quem use a casa-de-banho para dormir, lavar os dentes ou falar no telemóvel. Há de tudo. É possível que alguém que tenha estado realmente mal-disposto use a casa-de-banho antes de si. Nesse caso o melhor é procurar o lavabo mais próximo. Não é cortês nem lucrativo para a casa usar a lavabo de um café ou de um restaurante sem consumir. Algumas lojas de sopa-de-fitas reservam a casa-de-banho "para uso do pessoal".

Quanto à habitação que escolheu para usufruir a sua vivência em Macau, há algo que se nota antes de mais nada: as cozinhas são pequenas. Já cheguei a viver em casas com 110 m2 e a cozinha era ainda assim minúscula! Algumas casas têm a casa-de-banho do lado esquerdo, e a cozinha do lado direito. Uma mesmo em frente à outra. Ao contrário do que acontece, por exemplo, em Portugal, é virtualmente impossível almoçar ou jantar na cozinha. Se vive nos andares mais baixos, não se surpreenda se encontrar papéis, guardanapos, pontas de cigarros, pensos e outros objectos de higiene íntima no tejadilho do varandim. É que as coisas saem pela janela quando menos se espera, enfim.

Quando anda na rua, cuidado com alguns objectos que podem cair na via pública: pacotes de comida vazios, cigarros acesos, migalhas e até telemóveis! (aconteceu-me na zona norte da cidade). Mas mesmo assim o episódio mais curioso aconteceu-me em Manila, nas Filipinas, quando me caíu um balde de ananazes descascados em cima. Aqui (ainda) não estamos assim tão mal, portanto. Os elevadores são um pouco como a segunda casa, para alguns. Há quem lá deixe migalhas de bolos, água dos sacos de peixe e outros líquidos, e cocós de cão. Alguns inquilinos insistem em ter cães enormes, apesar de viver em apartamentos. Alguns destes animais deixam os elevadores a cheirar...a cão.

Não perca amanhã a segunda parte deste "Manual de Sobrevivência", centrado nos transportes em Macau.

24 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Tentei deixar um comentário, mas não consegui.
Aqui vai outra vez.
O post está bestial!
E dá para perceber os costumes locais, as especificidades de Macau.
Achei piada particularmente ao "corpo quente" (romanizado será qualquer coisa com hit hei).
Há que beber o cházinho da ordem nessas ocasiões!
As cuspidelas e os arrotos metem-nos impressão.
Mas é preciso perceber que há costumes nossos que também metem impressão aos chineses.
Somos diferentes, qual é o problema?
Contava-me um amigo, que viveu e trabalhou no Dubai, que, quando se é convidado para jantar em casa de amigos, é de bom tom dar um sonoro arroto, seguindo de um sonoro peido, ambos significando que o comensal está satisfeito com a refeição.
Vendo-a como a comprei!
Fico à espera da segunda parte.
Um abraço

Leocardo disse...

Yit=quente hei=ar (ou gás). Obrigado. A segunda parte será sobre o trânsito, táxis e autocarros.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Para a segunda parte, sobre transportes, adivinha-se desde já o "salve-se quem puder".

Anónimo disse...

Uma palavra: porcos!

Pedro Pinto disse...

Por quanto mais tempo é que teremos de aturar os constantes vómitos deste atrasado mental das 12:44? Será que não tem mais nada que fazer?

Anónimo disse...

meninas no supermercado de pijama, passadeiras sem uso definido, carros novos com escape roto

Anónimo disse...

O leocardo se não gosta dos chineses porque está casado com uma chinesa???

Leocardo disse...

Anónimo das 14:28, qual anónimo das 12:44??? ;)

Anónimo das 21:12, o sr. parece uma criança. Para si tudo se reduz a "gostar" ou "não gostar". Tenha lá um bocadinho de espírito crítico, homem!

Cumprimentos

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Um artigo deveras interessante.
Quando cheguei a Macau, essas boas maneiras dos chineses, eram ao passar por um português, tapavam o nariz e cuspião para o chão.
Nas casas de chá havia pequinos para eles escarrarem, e peidarem-se, era o pão nosso de cada dia sem respeito por ninguém.
Uma noite estava eu assistindo a um filme, na única de espectáculos que havia na Taipa, nessa altura era eu Comandante Militar da Ilha, e o sujeito, chinês, que se encontrava à minha frente, levantou-se e pregou um valente marmelo,fiquei super chateado, mas volvidos uns minutos, bati-lhe no ombro, virei as costas e lhe devolvi o marmelo que ele tinha dado, ficáms quites rsrsrs
Em Rosa '^e Romano, foi assim que aprendi as boas maneiras dos chineses rsrsr.
Abraço amigo

Anónimo disse...

Macau sã assim

Anónimo disse...

Macau sã assim

Anónimo disse...

Onde é que o Leocardo dá a entender que não gosta dos chineses, anónimo das 21:12 (e mesmo que não gostasse dos chineses, ele casou com uma chinesa e não com um chinês)? Agora é que devia vir cá o anónimo inteligente da licenciatura + 2 pós-graduações para ele próprio entender finalmente aquela expressão, "leitura extensiva", que repete até à exaustão...

Anónimo disse...

Em Portugal tambem comem na cozinha e ate' muito frequente.

Anónimo disse...

Yit=quente hei=ar (ou gás)
Em Macau diz-se CALIDEZ (Cálido)

Anónimo disse...

A tua chinesa também se peida, Leo?

Anónimo disse...

O anónimo anterior não se peida. Prendam já este espécimer raro numa jaula.

Anónimo disse...

O anónimo das 5:29 não se peida. Vai prendendo os gases nos intestinos durante horas, para depois soltar tudo de uma vez pela boca, na forma de comentários estúpidos como o que escreveu.

Leocardo disse...

Que desilusão, anónimo das 5:29. Mau menino :(

Anónimo disse...

E também arrota, Leo?

Anónimo disse...

há tipos que ainda não sabem que nunca devem cuspir no mesmo prato que comeu,se o leocardo critica tanto os chineses porque vive em macau e casou com uma chinesa???porque não volta para a tua terra,Portugal.O Leocardo faz me lembrar um amigo meu Portugues que está em Macau há mais de 20 anos,que quando foi para Macau não gostava nada de Macau e dos chineses,foi lá só para ganhar muito mais dinheiro como advogado mas odiava Macau e os chineses.Mas o mais engraçado é que ele está em Macau ha mais de 20 anos e tem mulher chinesa e filhos chineses todos crescidos.E acredita há muitos tugas que estao em Macau apenas e só por dinheiro,dizem sempre que não gostam de Macau mas estão em Macau há anos e anos e anos.

Leocardo disse...

Se eu voltasse para Portugal e depois me queixasse das coisas de lá depois ia para onde? Olhe, de repente lembro-me assim dum sítio par onde me apetecia mandar agora o anónimo das 13:47.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Coitado do anónimo das 13:47, ó Leocardo. Não disse o que disse por mal, disse-o apenas porque é analfabeto funcional e não consegue interpretar textos. Como tal, não consegue destrinçar entre o que é dizer mal de Macau e o que é fazer uma análise em que se pesa tudo, o bom e o mau. O analfabetismo funcional é um problema maior do que parece e que afecta muito mais gente do que se tem ideia.

Anónimo disse...

Olha o tipo das várias graduações voltou novamente.Por onde tens andado?Já tenho saudades das tuas diarreias intelectuais nos insultos.E se fosses a puta que te pariu?

Anónimo disse...

Estás enganado, não tenho uma única pós-graduação (se é a isso que te referes). Aliás, não é nas pós-graduações que se aprende línguas, é antes disso. Não tenho pós-graduações nem o dom da ubiquidade. Se tu consegues ser tu próprio e a puta que te pariu ao mesmo tempo, parabéns. Eu não consigo. Deve ser a isso que se chama "dupla personalidade"...