domingo, 24 de fevereiro de 2008

Somos aquilo que comemos?


Uma das notícias da semana foi a morte de Sum Din-Ha, aliás Lydia Shum, a adorável Fei-Fei, querida por miúdos e graúdos na região vizinha de Hong Kong. Se a carreira de Lydia é cheia de sucessos, e a sua vida pessoal atribulada como a de qualquer celebridade, já a sua história clínica é deveras lamentável. A pobre Lydia nasceu com uma tendência para a obesidade (o tal gene obeso), era já bastante obesa quando muito jovem, e comer sempre foi o seu principal passatempo. Quando mudou de Xangai para Hong Kong, nos anos 60, a sua principal preocupação eraa adaptação à cozinha da região de Cantão. Aparentemente adaptou-se bem.

O seu historial de doenças começou logo aos 30 anos com uma colangite, passou pelos diabetes, e em 2002 retirou 32 pedras da vesícula (algumas do tamanho de castanhas, como a própria Lydia Shum referiu) e há mais tarde o cancro do fígado, de onde extraíu um tumor com mais de dois quilos. O mais impressionante e triste de toda esta história aconteceu talvez em Outubro do ano passado, quando dois dias de pois de lhe ter sido dito que o seu cancro estava em "fase terminal", comeu seis dos famosos caranguejos-peludos, conhecidos pelo elevadíssimo nível de colesterol, o que lhe causou, a juntar a todos os outros problemas, um derrame pleural.

Terá morrido satisfeita, dirão alguns. Outros provavelmente apontam os malefícios das gorduras, do colesterol, da falta de exercício. O extremismo daqueles que depois da barriga cheia balbuciam enquanto se agarram à pança: "é o que se leva desta vida!" e que mais tarde se lamentam na cama de um hospital respirando com a ajuda de tubos, ou dos fascistas da linha, que contam calorias e correm por essas ruas suados e com os bofes a sairem pela boca e chamam-lhe "jogging", ou então os médicos que aparecem na televisão que nos proíbem de fumar, beber, comer doces, dizendo-nos que este ou aquele hábito é a principal causa desta ou daquela doença. Recomendação principal? Se sabe bem, cuspa-se.

Parece que o corpo humano não foi feito para se adaptar às delicias inventadas pela humanidade. O tabaco provoca o cancro, o alcool a cirrose, o sal a hipertensão, os doces o diabetes e imaginem só o rol de doenças que se pode ir buscar de uma dieta à base de pargo no forno com batatas assadas ao almoço, ou uma perna de carneiro com puré de batata e molho de carne ao jantar? Isto bem regado com um branco ou verde, ou um tinto de eleição, respectivamente. Saudáveis seriam os homens das cavernas, que se deliciavam com uma perninha de estegossauro para as essenciais proteínas, e ervas e raízes todas cagadas de terra para as essenciais fibras.

Mas é claro que é preciso saber viver. Continuar a ser omnívoro, morder um pouco de cada espécie, não olvidar as couves, os bichos do mar, a fruta (não é aquela do Pinto da Costa, se bem que essa também faz falta) e depois de atestar o depósito é preciso gastar, gastar, gastar. O nosso corpo foi feito para consumir muito e gastar muito também. E se por acaso, fazendo valer a velha máxima, somos aquilo que comemos, hoje vou ser um Teppanyaki de carneiro. Bon appétit!

4 comentários:

Anónimo disse...

Em suma, a Fei Fei era uma porquinha sorridente. Mas a filha até que parece ser engraçada.

Leocardo disse...

É muito gira, não é? E quando digo isto, os meus colegas chineses dizem que ela "só se adapta ao gosto dos ocidentais". Que seja!

Anónimo disse...

Que seja, pois sim! Eu não me importava nada que ela só se adaptasse ao meu gosto!

Anónimo disse...

Que posta tão bem condimentada na crítica à radiografia dos comportamentos alimentares humanos.

Lusitano