domingo, 17 de setembro de 2017

Benfiquistas e "benfiqueiros"


O meu pai era benfiquista, assim como era o pai dele. Tínhamos uma relação que posso chamar de "mista", mas isso nada tinha a ver com o futebol. Como eu próprio sou adepto do FC Porto, e sempre que havia "derby" lá em casa, era uma grande animação, com "bocas" de parte a parte, mas no dia seguinte e nos dias restantes estava tudo bem. Era um jogo, e nada mais do que isso, e a vida continuava. O meu pai era um benfiquista, um "gentleman", um bom desportista. Não era um "benfiqueiro". E o que é um "benfiqueiro"?


É alguém como o Miguel Andrade, e com muita pena minha. Eu respeito o Miguel, uma pessoa que passou pelo território nos anos 80, onde trabalhou na Rádio Macau, e que apesar que ter regressado a Portugal antes de eu ter chegado em 1993, partilhamos imensas coisas em comum, incluíndo 131 amigos no Facebook. Ontem, e a propósito desta notícia, partilhada no mural do João Severino, o Miguel decidiu desamigar-me, acusando-me mais uma vez de "anti-benfiquismo" - seja lá o que isso for. Não foi a primeira vez que me acusa de tal coisa, e o "isto tem solução" a que ele se refere foi isso mesmo, desamigar-me. Típico de um benfiqueiro, não de um benfiquista. A coisa não me incomoda por aí além, mas deixa-me insultado. E quem me conhece sabe que não me fico por aí. Não levo desaforo para casa. 

A conversa descambou para a relação que o Benfica tem, ou teve, com algumas das suas glórias passadas. É verdade que o Benfica ostracizou Eusébio antes de o reabilitar, e de o tornar numa espécie de símbolo, é verdade que a direcção de Vale e Azevedo demitiu José Águas da posição de olheiro do clube, para depois a direcção de Manuel Vilarinho voltar a contratá-lo, e é verdade que José Torres, já padecendo da doença que o viria a vitimar, foi mal recebido no novo Estádio da Luz. Tudo isto é verdade, mas não faz do Benfica um clube de "más pessoas", mas antes de pessoas como outras quaisquer, que acertam e erram. Não é diferente das pessoas do FC Porto ou do Sporting. Para o Miguel, que é ateu e socialista, o Benfica é uma espécie de "Deus", infalível e incriticável.

O Benfica não é o meu "inimigo" - é o adversário. Tenho amigos benfiquistas que são óptimas pessoas (as minhas duas irmãs são benfiquistas), e nunca em circunstância alguma me aborreci com ninguém por motivo de tricas clubísticas. E claro que a nível interno, em competição directa, fico feliz quando o adversário perde. Os campeonatos não se decidem apenas pelos jogos entre os candidatos ao título, são uma prova onde conta a regularidade, e no fim ganha quem fizer mais pontos, e pouca interessa contra quem. Gosto quando o Benfica perde pontos contra outras equipas, da mesma forma como os adeptos do Sporting e o Benfica ficam contentes quando o FC Porto perde pontos. O contrário seria de admirar. Ninguém me viu aí a festejar a derrota do Benfica na terça-feira contra os russos do CSKA de Moscovo, e quem alegar que sim, exijo que apresente provas. Isso vai ser impossível, porque não as tem.

O Miguel Andrade é o benfiqueiro típico. Quando ganha "é desporto", e quando perde, o melhor é não lhe dirigir a palavra. Para ele o normal é o Benfica ganhar, o Benfica é o maior, e os outros "são uns invejosos", ou melhor dizendo, são "anti". Compreendo que ultimamente ande com uma grande cachola, mas é assim a vida. Se acha que os adversários do Benfica deviam fazer-lhe reverência, ou estenderem-lhe a passadeira, está muito desfasado da realidade. Ontem teve mais uma adenda à sua azia. Se com Rennie já não vai lá, tome um Kompensan que isso passa. Quanto à sua atitude, fez o que entendeu, e não lhe estou a pedir que reconsidere. Aliás, peço-lhe até que não o faça. Tenho pouca ou nenhuma paciência para fanáticos, e recentemente nesse particular tive uma experiência desagradável. Só lhe desejo que a sua amargura de benfiqueiro não se transmita para a sua vida pessoal, para bem de si e dos seus. Passe bem, ou pelo menos tente.


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