quarta-feira, 9 de junho de 2010

Do bloguista desconhecido


Fiquei positivamente surpreendido com o artigo de opinião publicado na edição de ontem do JTM, da autoria de João Guedes. No artigo em questão, o jornalista da TDM fala de dois mundos que me são caros: a blogosfera e o anonimato. João Guedes começa por referir o factor “conhecimento do autor” como forma de melhor debater as postagens no blogue, podendo usá-lo como “arma” ou depreender mais facilmente a razão de alguns pensamentos expressos no blogue.

Duvido muito que no meu caso isso resultasse, uma vez que me abstenho por completo de comentar matérias relacionadas com a minha vida profissional e mesmo privada. Pelo menos matérias que de algum modo permitam a minha identificação. João Guedes diz ainda que “existem muitas formas de saber quem são os autores dos blogues”, mas que não é um “hacker”. Curiosamente duvido que alguém saiba a minha verdadeira identidade, e isto apesar dos “ameaços”. Parece que são mais as vozes que as nozes.

Manter um blogue não requer muita técnica, e eu próprio me considero um leigo nessas coisas da informática. Basta ir à página da blogger, clicar em “começar um blogue”, e o resto é fácil. Não é muito diferente de escrever em wordsheet. É um exercício que apela muito à criatividade, personalizar o blogue. Uma criança de 10 anos consegue fazê-lo. Concordo quando diz que o jornalista sofrerá mais pressão, sujeita-se à censura pública e pratica a auto-censura. E é para isso que lhe pagam. Na mouche. Já disse aqui e volto a repetir: era o que faltava se quem vive do que escreve não precisasse de se identificar.

Confesso-lhe que eu próprio pratico muitas vezes também a auto-censura. É verdade que não tenho pressão nem me inibo de falar do que quer que seja ou dar a minha opinião sobre qualquer assunto, mas também não digo tudo o que penso. Na verdade, ninguém diz. Se o facto de ser anónimo é uma vantagem para abordar certos temas mais sensíveis, que seja. O Bairro do Oriente, por exemplo, é um lugar de ideias, e não tanto de pessoas. Um espaço virtual sem fins lucrativos, políticos ou quaisquer outros. Gosto que se debatam os temas, que se comentem as notícias, e para tal não é necessária a identificação dos autores dos comentários. Abri recentemente uma conta de Facebook onde tive oportunidade de conhecer a verdadeira identidade de alguns dos meus leitores, o que foi para mim uma grande alegria. Mas nunca me passa pela cabeça confrontá-los ou pedir-lhes satisfações por não concordarem com este ou aquele aspecto do conteúdo do blogue.

Quanto à alegoria que faz em relação ao facto de um blogue poder ser identificado e confrontado com o que escreveu, e no processo chegar a ser ameaçado, deixe-me dizer-lhe que esse é para o lado que me deito melhor. Nunca mencionei no blogue nenhum acontecimento ou fiz qualquer comentário, depreciativo ou outro, sobre a minha vida profissional, sobre o meu trabalho ou sobre qualquer colega de profissão. Não me passa sequer pela cabeça que alguém me possa encostar contra a parede e obrigar-me a fazer qualquer tipo de retracção ou pedido de desculpas. Não vai ser por aí que me apanham. Se um dia alguém descobrir a minha identidade e resolver deixar de falar comigo ou virar-me a cara na rua, respeito essa decisão. Problema dele/dela. O tempo dos quartéis e dos generais, em que as pessoas eram exiladas por delito de opinião, já acabou. Lamento muito, mas não existe por aí nenhum “amigalhaço” a quem possam apelar para me despedir, terminar o contrato ou instaurar um processo disciplinar.

“Conhecer um autor é a desilusão total”, diz João Guedes, e eu assino por baixo. Nem imagina a quantidade de pessoas que eu tinha em boa conta até os conhecer pessoalmente – e em Macau é muito fácil isso acontecer. Garanto aos meus leitores que o autor por detrás do pseudónimo está longe de ser uma pessoa fascinante e sem defeitos. Sou bonito como o caraças, sem dúvida, não sou gordo nem careca, nem gordo, nem zarolho, nem coxo, mas também não sou alguém que interesse conhecer ou ter na lista do telemóvel. Não tenho conhecimentos nem influências que possam servir à elite portuguesa de Macau, não tenho nada que possa ser vendido, explorado ou publicitado, enfim, não reuno as características que levam os elementos da nossa comunidade a ser entrevistados, conhecidos ou fotografados. O António (ou Antønio) nunca teria qualquer interesse em tirar uma fotografia minha para juntar ao seu álbum de VIPs, artistas e “beautiful people”. Lamento muito, mas o Leocas não tem qualquer interesse comercial.

Tiro o chapéu ao João Guedes pela sua frontalidade e pela sua opinião com que tanto me identifico. Fico contente por saber que há alguém cuja opinião diverge da bitola gasta e cansativa de que um blogger anónimo é um “sacana” e um “filho da puta” que urge ser identificado, apanhado e abatido. O João Guedes é um amante da liberdade que percebe que “blogar” (está correcto o neologismo) é um exercício de escrita sem restrições do tipo moral ou material, e é como “conversar com os amigos”. E é isso mesmo que eu faço todos os dias: conversar com os amigos aí desse lado. Mesmo os que não gostam de mim, que continuo a considerar amigos. Um grande bem haja para si, João Guedes.

12 comentários:

Anónimo disse...

Sinceramente não me interessa NADA saber quem é o leocardo ou outros que comentam aqui,eu venho apenas aqui para ver notícias da minha terra,MACAU.Moro em Portugal é sempre bom vir aqui saber coisas da minha terra.Leocardo que tal pores mais coisas sobre Macau e menos coisas sobre o resto do mundo no teu blogue?Cumprimentos.

Anónimo disse...

Oh Leocardo deixa de ser lambe-botas, tá? Fez bem o João Guedes em falar de ti sem mencionar o teu nome. Publicidade?

Anónimo disse...

O Leocardo é bem educado. Faz bem retribuir a publicidade gratuita. Mas o Guedes é boa gente. Homem de fibra. Abraço para ti Guedes. És dos meus!



AA

Anónimo disse...

O Guedes é boa gente, o artigo diz coisas interessantes e pertinentes. Mas porra, foi escrito com os pés... a quantidade de vírgulas mal postos, de frases mal partidas e por aí em diante é sintomático do quão mal se escrevia na altura em que estes jornalistas aprenderam o metier... e não me venham dizer que há trinta ou quarenta anos escevia-se bem escrevendo-se mal...

Anónimo disse...

Isso não digo de certeza, anónimo das 23:49. Aliás, hoje é que se escreve mal e porcamente, resultado do facilitismo que se instalou no ensino. Se calhar o João Guedes aderiu, para que o consigam perceber...

Anónimo disse...

Que raio de mania que tens, Leocardo, de achar que tudo o que se escreve sobre blogues é sobre ti! Caramba!, quem ler a tua posta pensa que o Guedes fez-te alguma homenagem! Não ponhas palavras na boca dos outros! Parou-te o relógio, pá!

Anónimo disse...

Este último anónimo tem uma procuração do João Guedes para falar por ele.

Leocardo disse...

O anónimo das 2:05 já voltou da sardinhada do 10 de Junho, e pelos vistos foi bem regada. Anda a ver elefantes cor-de-rosa e tudo. Onde, mas onde é que eu digo que era sobre mim? Em que parte exactamente? Estava a elogiar a atitude do João Guedes por reconhecer os blogues anónimos e ao mesmo tempo não se colocar do lado dos pidezinhos que pensam que toda a gente tem que ser identificada, rotulada e "responsabilizada". Essa de "pôr palavras na boca dos outros" só pode ser mesmo piada.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

"...quarenta anos escevia-se bem escrevendo-se mal...". "escevia-se"? O que é isto? Escrever bem?

Anónimo disse...

Ao anónimo das 23:49, que tanto critica a escrita do João Guedes: “a quantidade de vírgulas mal postos” – vírgulas mal POSTAS…

jose luciano disse...

Que importa se é menino ou menina?!Já nao passo é sem espreitar o blogue, diariamente, cerca das 2 da tarde em Portugal - hora a que normalmente o Leocardo o começa a actualizar...! E que continue ou, então, vá de profissionalizá-lo, porque não e assumi-lo como, talvez, o melhor espaço informativo em Lingua Portuguesa feito em Macau.

Anónimo disse...

Para mim João Guedes é só o jornalista em Macau que tem a maior bagagem cultural. Além disso é pessoa séria e cordial. Sempre me interoguei pela razão de ele deixar de ser director de informacao da TDM para ter um outro cargo airoso supostamente criado para não lhe tirar a face e o prestigio enquanto excelente profissional que é. Enfim...