quarta-feira, 23 de junho de 2010

Abutres


José Saramago morreu há poucos dias, e na Livraria Portuguesa de Macau os seus livros já estão esgotados. Terá sido assim um pouco por toda a parte em Portugal, também, com a bibliografia do escritor a vender melhor que cerveja geladinha no pique do Verão. Foi preciso o homem ter morrido para que crescesse a curiosidade sobre a sua obra. Não sei se isto tem alguma explicação que remeta para o foro da psicologia, ou se é apenas pimba, ou se se trata de algum caso de solidariedade bacoca, do tipo "comprar os livros para ajudar a família". Coitadinha.

Saramago morreu, portanto é "hot shit", e convém forrar os armários de casa com livros que caso contrário nunca comprariam. Não é preciso ser bruxo para adivinhar que a maioria destes livros nunca serão lidos, ou sequer desfolhados. Servem para "impressionar" as visitas que vão lá a casa. Já estou a imaginar o diálogo: -"Epá, tens o Saramago? Ele morreu, sabias?" - "Ya, ela era o maior" - "Podes crer. O maior, ouviste? E era português!". Creio mesmo que muitos dos compradores dos livros de Saramago diziam cobras e lagartos dele ainda há menos de uma semana.

Talvez este Verão vejamos nas praias um pouco por esse Portugal fora livros de Saramago abertos sobre as toalhas. Os mais recentes como "Ensaio sobre a Cegueira", "Todos os nomes" ou "A viagem do elefante" para a malta nova e actualizada, "Memorial do convento", "Levantado do Chão" ou a "Jangada de Pedra" para os mais maduros e eruditos, e "O Evangelho" ou "Caim" para os mais radicais, mais rebeldes. Ya, meu. "As intermitência da morte" parece-me a leitura ideal para um fim-de-semana no parque de campismo do INATEL da Costa da Caparica.

Já o ano passado quando morreu Michael Jackson foi uma correria às lojas para comprar os discos do cantor. Subitamente regressámos aos anos oitenta, com os "Beat It" e os "Billy Jean" a passarem em tudo o que era rádio e lojas de discos. Essas lojas fazem um negócio do caraças à custa da morte dos artistas, aproveitando-se da ingenuidade das pessoas. Aconteceu com s Nirvana de Kurt Cobain, aconteceu recentemente com o Beto, aconteceu muitas vezes no passado. Será que se Jim Morrison, Jimmy Hendrix e Janis Joplin fossem velhinhos vendiam tanto como se tivessem morrido aos 27? Abutres, são o que são...

23 comentários:

Anónimo disse...

Mas isso tem muito a ver com a própria mentalidade tuga que é de valorizar sempre os...mortos e desvalorizar os vivos.Quando estão vivos passam a vida a falar mal,mas quando morrem ui,já são grandes homens,bestiais blá blá blá.A conversa do costume.È por isso que o Cavaco Silva quando não foi ao funeral do Saramago surpreendeu toda a gente,os portugueses não costumam ser assim.O Cavaco sempre criticou o Saramago,chamando-lhe até de imbecil.E fez muito bem em não ir ao funeral,mostrou que não é hipócrita.

Anónimo disse...

Com isto tudo quem se lixa sou eu, que li todos os romances de Saramago menos "Levantado do Chão", que já tinha decidido que seria o próximo. Pelo que percebo do "post", parece que vou ter de esperar, que neste momento está esgotado.

Anónimo disse...

O homem sempre desafiou Deus para promover os seus livros. A receita continua a resultar. Agora temo-los frente a frente.

Anónimo disse...

Completamente de acordo. Este povo infelizmente é quase todo ele estúpido, só assim se explica a indignação verificada com a não ida do Cavaco ao funeral do homem e também do mal estar provocado pela notícia do Osservatore Romano, jornal do Vaticano, acerca do Saramago. Estavam as pessoas à espera que as pessoas que não gostavam do Saramago mudassem de opinião só porque ele morreu? Eu é que não gasto o meu dinheiro para comprar um só livro dele.

Anónimo disse...

O homem desafiou que Deus? Desafiou foi a vossa ideia absurda de Deus. Vossa não, que vos foi imposta. Mas pelo menos dizem uma coisa muito bem: "Este povo infelizmente é quase todo ele estúpido". Perfeitamente. Só assim se explica o mal estar provocado por alguém (que foi só um dos melhores escritores de todos os tempos) que tinha opiniões próprias sobre a hipocrisia da religião que lhe tentaram impor e ele nunca aceitou. Isto é que é aquilo a que se chama um espírito independente. O seu único dogma de que nunca se libertou foi o comunismo, talvez porque toda a gente precise de se agarrar a um dogma. O que, aliás, nem perspirava da sua obra.

Claro que vocês não sabem porque não leram, e se lessem não entendiam, mas Jesus é uma figura bem simpática no "Evangelho Segundo Jesus Cristo". Deus, pelo contrário, é a figura mais cruel que lá poderia aparecer, porque assim é o Deus que a hierarquia religiosa vos impôs. E é por causa do Deus inquestionável que vos conseguiram infiltrar no cérebro sob forma de água benta (vocês têm um problema de pele, que não tem a impermeabilidade das peles normais) que renegam a toda a hora os ensinamentos daquele sobre o qual se fundou a vossa seita religiosa: Jesus. E é o que os vossos cardeais bafientos fizeram uma vez mais ao escrever no seu pasquim após a morte de Saramago o que já escreviam quando ele era vivo, coisas que fariam o vosso suposto profeta corar de vergonha, pois não eram estes os seus métodos nem foram estes os seus ensinamentos.

Ironia das ironias, Jesus só é compreendido por aqueles que conseguiram fugir do fanatismo das seitas e construíram o seu pensamento próprio. Fosse ele vivo, e nunca permitiria que usassem o seu nome para construírem a instituição tenebrosa que construíram, chamando-lhe cristã, quando é precisamente cristã o que menos é.

Até os muçulmanos são muito mais coerentes, porque o seu profeta maior, tal como eles, era uma pessoa cheia de ódio. A vossa seita é muito mais hipócrita, pois tem tanto ódio pela condição humana como os islâmicos têm, mas apesar disso escondem-se atrás de um profeta, Jesus, cuja mensagem era feita de amor. Se alguém com sentido de justiça estiver lá em cima a fazer a triagem depois da morte, são vocês os que vão parar todos aos quintos dos infernos, onde se poderão reunir com os vossos amigos de turbante. Tudo bem conversadinho, chegarão à conclusão que foram feitos uns para os outros.

Anónimo disse...

Beto????

Anónimo disse...

Sobre o saramago noto alguns factos curiosos:
- O homem passou a vida a denunciar os crimes que a igreja cometeu à 500 anos, nunca se preocupou em denunciar os crimes que o comunismo cometeu à 50 anos, chegando mesmo a negá-los;
- Gosto de ler, costumo ler, mas apenas li O Memorial do Convento, que achei bom mas nada de genial. Tentei ler a Jangada de Pedra mas não gostei. Pois sou sistemáticamente acusado de dizer que não gosto de um autor que não leio (quantas vezes por pessoas que leiem ainda menos). É que se gostasse, se achasse que era bom, eu lia;
- Agora é que esgotam os seus livros, pelos vistos, ainda havia por aí muita gente que "lia" sem comprar...
- Apresentava-se como um arauto da liberdade de expressão, esquecendo-se dos saneamentos que perpetrou no Diário de Notícias;
- Nestas discussões, os comentários mais inflamados são sempre dos que querem deificar Saramago;
- Nas entrevistas à população que estava no seu funeral, a maioria não tinha lido nada do Saramago, existindo mesmo quem não soubesse ler;
- Os símbolos de luto no se funeral eram, sobretudo, cravos vermelhos.

Ludovico disse...

Acho absurdo, e injusto, questionar a legitimidade das crenças de uma pessoa. Penso que as ideias triunfam pelo que valem, em determinado contexto e época. Se são efectivamente valiosas, se contribuem para o consolo de muita gente, ganham dimensão pelo espaço e pelo tempo. E se muitas pessoas, ao longo dos tempos, acreditam em Deus, é porque há alguma bondade nessa ideia.
Parece-me óbvio que o marxismo é uma filosofia que encontrou eco em contextos sociais específicos; ultrapassados certos momentos, tornou-se inútil, a não ser para as minorias a quem os regimes totalitários concedem vantagens. Creio que o comunismo já não nos oferece a ponta de um corno.
Se o José Saramago professou o comunismo até morrer, não sei. Talvez sim, problema dele. Como escritor, acho que era hábil mas não me parece que tenha emprestado àquilo que escreveu a força, a revolta, a desilusão, enfim, a “condição humana” de, por exemplo, um Coetzee, também ele premiado com um Nobel da literatura.
Não penso que o povo português seja estúpido. Não só não estavam 10 milhões no funeral de Saramago como, mais importante, nenhum povo é estúpido: a inteligência é uma capacidade individual, e haver sociedades com niveis gerais de instrução e riqueza diferenciados é outra questão.
E não acredito no marxismo e não sei se Deus existe ou não. Por outro lado, estou certo de que o país campeão mundial de futebol será a Argentina.
Bom, mas isto é crença minha, pois o mundo é redondo e o homem é o homem e a sua circunstância.

Anónimo disse...

Parece-me a mim que há uma certa hipocrisia em alguns ramos da sociedade. A morte de José Saramago iniciou uma competição de louvores e levou uma extraordinária quantidade de sujeitos, notáveis e anónimos, a elogiar um homem que, evidentemente a título elogioso, todos acham "polémico". Aonde já se viu tal coisa? Vasculha--se a imprensa e, entre a excitação dos epitáfios, não se encontra uma voz dissonante. Saramago orgulhava-se de fomentar inimigos, mas, fora dos comentários sem rosto na Internet, aparentemente não há um com a decência de aparecer e proclamar que desprezava a obra ou que detestava o autor. O banana do Cavaco desta vez teve tomates! E dos grandes!


AA

Anónimo disse...

Pois claro que estavam muitos no funeral que nem ler sabiam. São aqueles a quem disseram que o comunismo é que é bom e, sabendo que o Saramago era comunista, lá foram prestar a última homenagem a um membro do partido. Exactamente iguais aos outros que classificam a obra de Saramago de medíocre sem nunca a terem lido. Alguém lhes disse que a religião é que era boa e, sabendo eles que Saramago tinha uma ideia diferente, não podem deixar de falar mal da sua obra. Tão imbecis uns como outros.

Anónimo disse...

A comuna da Pilar é que se deve estar a rir: livrou-se do velho, empocha uns milhões, muda-se pra Casa dos Bicos e ri-se dos parvos bem pensantes como os daqui. Enterrem o homem e a vida continua!

José Saramago disse...

Carago! Eu também não gosto do Mourinho... É má pessoa!

Anónimo disse...

Mandem mais uma Bíblia para África, que isso passa. Não sei que seria de Portugal sem Cruzados...

Anónimo disse...

oh anónimo das 02:35 eu não preciso de tomar drogas para saber que as drogas fazem mal a saude,com os livros de saramago é mesma coisa,nunca li os livros de saramago mas sei que são muito polemicos,porque atacam sempre a igreja e isso basta para eu saber que os livros de saramago são uma merda.a polémica vende.

Anónimo disse...

Caro Leocardo
O seu texto sobre o Saramago parece-me um texto mais ou menos igual aos que deram vazão aos rios de tinta que sobre o dito foram escritos nos últimos dias. Uns mais interessantes, outros menos, outros polémicos, outros panfletários e ainda outro insultuosos. O seu não sei onde o situar mas, desculpe que lhe diga não é brilhante. No entanto chamo a sua atenção para um texto brilhante que surge de onde menos se podia esperar. Nem mais, nem menos que de Vasco Graça Moura no Diário de Noticias. Depois de declarar que politicamente se encontra nos antípodas do falecido Graça Moura analisa de uma forma magistral não Saramago, mas o escritor. Por ele fica-se a saber coisas novas sobre o nosso Nóbel e também sobre percursos literários de um escritor que não era comum. Longe , bem longe disso. E uma interpretação muito original sobre a sua insistência (quase mono-mania)em atacar a Igreja católica Leia que vale a pena. Só me admira que um autor tão lúcido como Graça Moura não seja um homem de esquerda, mas enfim... Todas as pessoas têm as suas falhas.
Cumprimentos

Anónimo disse...

O texto de Graça Moura prova que é impossível que alguém que percebe e vive a literatura possa referir-se à obra de um Saramago como medíocre. Para isso temos os imbecis pseudo-católicos do costume, como o anónimo das 10:43.

Anónimo disse...

Raciocínio tipicamente intelectualóide estalinista: não é o Saramago que é bom porque assim o diz o Graça Moura, mas o Graça Moura é que é bom porque diz bem do Saramago! Ora, pevides!

Anónimo disse...

Ninguém disse que o Graça Moura era bom. Disse que percebe e vive a literatura. Lê mas é a tua Bíblia e tenta interpretá-la em vez de ires perguntar aos bafientos do Vaticano o que é que aquilo quer dizer. Só depois estarás em condições de interpretar outros livros, imbecil.

Anónimo disse...

Oh anónimo das 20:34, imbecil é a pu ta da tua mãe.

Anónimo disse...

O Anónimo das 14.26 enfiou o barrete e deve ser mesmo intelectualoide, e para mais vermelhusco primário pela abertura de espírito que demonstra. Pevides, seu palerma, livros há muitos... Já agora, dispenso o tratamento de tu porque não como nessa manjedoura...

Anónimo disse...

Abertura de espírito é falar daquilo que não se conhece? Isso não é abertura de espírito. Isso é religião, ó idiotas.

Anónimo disse...

Eh jumento! Cheira-te a palha!

Anónimo disse...

Não relinches, anónimo das 11:08. Enganaste-te no estábulo.