sexta-feira, 4 de junho de 2010

21 anos





Passam hoje 21 anos desde o massacre de 4 de Junho de 1989 na Praça Tiananmen, em Pequim. Um dia assinalado em Macau por uma vigília de cerca de 50 pessoas perto da Igreja de S. Domingos, e por mais de 40 mil pessoas no Victoria Park, em Hong Kong. Um dia em que sobretudo se lembram as vítimas desse fatídico dia, em que o exército chinês esmagou o movimento estudantil que agitou a Primavera de Pequim num ano em que o mundo assistia a transformações fabulosas, e a novos ventos de mudança que sopravam sobretudo no leste europeu. O massacre de 4 de Junho tem um significado especial, uma vez que a partir daí a China nunca mais foi a mesma. À censura internacional e ao medo que pairou nas regiões de Hong Kong e Macau, já "prometidas" à entrega à RPC em 1997 e 1999, respectivamente, seguiu-se um arregaçar de mangas, com o governo central a iniciar uma empreitada que hoje resultou na imagem da China que conhecemos como um potência económica firmada, um país onde apetece investir, que se quer visitar e conhecer.

Quando aconteceu Tiananmen eu tinha 16 anos, e estava no 11º ano. À distância foi um acto de violência atroz e injustificável. Na China foi um despertar, um começar do zero para convencer a comunidade internacional de que a China estava a mudar. Não se convence o mundo de que se estão a encetar reformas importantes que conduzam um país a ser um parceiro em ter em conta no plano internacional quando se responde com chumbo às reivindicações de jovens estudantes. A China muito pragmaticamente "deu a volta" ao incidente, catalogando-o como "problema interno", e assegurou que as reformas económicas e políticas iam mesmo para a frente, tranquilizando as hostes. A ala conservadora do PC chinês teve em Tiananmen uma oportunidade para ressurgir e aniquilar a tendência reformista, mas felizmente isso nunca aconteceu.

Passados 21 anos, só falta mesmo reconhecer o erro. Uma empreitada difícil, mas penso que as novas gerações darão uma resposta adequada. É cada vez mais complicado tapar o sol com uma peneira, e com cada vez mais milhões de chineses a sair das universidades, uma classe média cada vez maior e uma tomada de consciência cada vez mais significativa, há cada vez menos espaço para discursos revolucionários bacocos, dogmatismos fúteis, e outros contos da carochinha. O caminho é para a frente, sem nunca esquecer os que perderam a vida por um ideal, pelo sonho de uma vida melhor, de mais abertura democrática.

Podem ter passado mais de duas décadas, mas a memória ainda está fresca. Neste dia gosto de falar com pessoas que viveram o 4/6/89 em Macau, e falam-me de milhares de pessoas a gritar palavras de ordem contra o governo chinês, contra o primeiro-ministro de então, Li Peng, das manifestações à porta do jornal Ou Mun, que hesitou em dar as notícias do que realmente se tinha passado em Pequim. Os carros chegaram a buzinar em unissono em memória das vítimas, à semelhança do que aconteceu também há 2 anos por altura do terramoto de Sichuan. Para muitos foi um autêntico "ou vai, ou racha", e muitas figuras conhecidas ocorreram ao Largo do Senado de fita preta à volta da cabeça, gritando slogans.

Mas para alguns parece que a memória é curta. Leio hoje no Clarim afirmações do deputado Tong Io Cheng, alguém supostamente da "nova vaga" de políticos de Macau, que diz que na altura dos acontecimentos de Tiananmen "estava ocupado com os exames", e que "fazia desporto", e preocupava-se mais "com o andamento da sociedade de Macau", etc. Mais valia dizer que preferia não comentar o assunto. O deputado Leonel Alves estabeleceu um paralelo com a recente situação na Tailândia, e com os camisas vermelhas: "Houve uma presença de estudantes numa praça pública durante um longo período de tempo, o que implicava o retorno à normalidade, sob pena de se poder chegar a uma situação de ruptura com consequências imprevisíveis. Como se viu recentemente em Banguecoque, com os “camisas vermelhas” também as autoridades tailandesas tiveram de intervir para restabelecer a ordem pública". Ora aí está. Exactamente a mesma coisa, sem dúvida...

10 comentários:

Anónimo disse...

O Leonel Alves já se vendeu há muito tempo. Agora só quer saber do Benfica.

Anónimo disse...

Eu cá apoio o Governo da RPC pela actuação que teve em Tianamen. Os activistas foram avisados, não quiseram cumprir os avisos das autoridades, então foram e muito bem repreendidos. As lágrimas de crocodilo que alguns indivíduos soltam em Macau enoja os mais pudicos. Nem sei porque ainda se perde tempo a falar sobre isto. O Massacre de Santa Cruz, por exemplo, foi bem pior e já foi esquecido por todos.


AA

Anónimo disse...

Este AA é uma besta. A manifestação era pacífica. Os estudantes chineses não andaram pelas ruas a atacar ninguém nem a partir montras e carros.
Se os manifestantes que exigem mudanças num regime totalitário e corrupto têm que dispersar ao primeiro aviso, então a manifestação é inútil. Se todos agissem assim, o Muro de Berlim nunca teria caído, a Cortina de Ferro nunca teria desaparecido e continuávamos em plena guerra fria. E todos os ditadores do mundo continuariam no poder até morrerem, sendo sucedidos por outros iguais.

Anónimo disse...

O JTM também dá destaque ao massacre de Tianamen, apenas com uma breve na primeira página a dizer que o poder central não reconhece os acontecimentos do 4 de Junho de 1989. Enfim, desse pasquim já se esperava...

Anónimo disse...

CORRECÇÃO: A breve do JTM é sobre a rejeição da moção relativa a Tiananmen, por parte do LegCo de Hong Kong. Quanto aos mais de 40 mil manifestantes em Vitoria, Hong Kong, ou da transmissão para o Continente, por parte de um grupo de activistas, nem noticia no JTM. Ainda é pior que a TDM. lol

Anónimo disse...

Foram mais de 40 mil manifestantes.
Leiam os jornais, foram 150.000 mil!!!

Anónimo disse...

Não me diga que contaram um a um...


AA

Anónimo disse...

Oh anónimo das 03:46, 150 mil são mais de 40 mil!

Anónimo disse...

Parabens anonimo das 04:23, nao sabia que 150 mil sao mais de 40 mil.

Anónimo disse...

anónimo das 14:18, voce sabe a diferenca entre "150 mil sao mais de 40 mil" e 40 mil sao mais de 150 mil?" Se souber verá que tenho razao.