Considero que Macau é, apesar de tudo, uma cidade segura. Quando aqui cheguei nunca pensei ser possível andar sozinho à noite por becos, travessas e azinhagas sem correr o risco de ser assaltado, violado ou morto. Antes de vir para Macau vivia num arredor problemático de Lisboa (bem, aluguei lá um apê), e raramente saía de noite, mesmo ao fim-de-semana.
Quando cheguei a Macau vivia na Rua Manuel de Arriaga, não muito longe das tendinhas da Rua de Fernão Mendes Pinto e do Mercado Vermelho. Era uma zona um pouco assustadora à noite, e cheguei a ter de desviar-me de ratazanas quando voltava para casa de madrugada.
Nos primeiros tempos em Macau chegava a perder-me de noite de propósito, para aprender os caminhos. Uma vez fui parar às Portas do Cerco, uma visão enternecedora que fazia lembrar a Porta de Brandenburgo, em Berlim. Epá, assim mesmo, sem exagero.
Outra das vezes fui parar a um bar estranhamento povoado por tugas – uns dos primeiros que conheci – que frequentavam uma choldra qualquer chamada “China Pop”, numa zona que desconhecia por completo na altura. Saí de lá tão inebriado de lá essa noite, que apanhei um táxi para casa, e uma vez à porta voltei a perder-me.
Andei por sítios muito estranhos e interessantes: a Areia Preta, a famosa “Saída dos operários das fábricas da Av. Venceslau de Morais”, que apreciava sentado num café numa esquina onde é hoje mais um “restaurante” McDonald’s.
Andava pela Barra, pela Meia-Laranja, pela Av. Da República, fazia aquilo tudo à noite, e nunca, uma única vez fui perturbado ou incomodado por alguém. Sentia-me, aliás, bastante imperial, passeando-me por zonas que eram normalmente evitadas pelo resto da tugalhada.
E como sempre foi assim, passei completamente ao lado da “crise” de 1997/98, que culminou no famoso “processo das seitas”, onde passei a a saber pelos jornais aquilo que andei a perder. Pois, pois, haviam por aí uns tiros, mas não era nada comigo, e nem conhecia nenhum os envolvidos.
Chegava a conhecer ou a ser apresentado a fulano ou outrano que me diziam ser um famoso “malandro”, mas sinceramente nem me lembro dos nomes ou das caras, de tanta importância que tinham para mim ou para os meus afazeres. Quando soube da notícia que foi preso um indivíduo conhecido por “dente partido”, a minha reacção foi a mais natural do mundo: ri-me.
Sempre soube, como é natural, que existiam alguns problemas com drogas, prostituição, assaltos a residências e fraudes, mas não era nada comigo. A única vez que precisei de chamar os bombeiros foi para reportar um pequeno incêndio numa casa de um prédio ao lado do meu.
Fico surpreendido quando vejo que “o número de violações diminuiu de 19 para 17”, fico preocupado. Violações? Tanta chatice numa cidade onde o sexo se compra tão facilmente? Felizmente este tipo de violações são normalmente reportadas pelas próprias vítimas, e muitas vezes cometidas por conhecidos, ou em dramas entre vizinhos e familiares. É raro, senão inédito, ler notícias de violadores à espera nas esquinas com facas prontas a encostar aos pescoços tenrinhos das suas vítimas.
Por incrível que pareça, nunca fui assaltado, e já cheguei a andar com muito dinheiro na carteira em lugares meio estranhos e mal frequentados. Tenho um amigo que foi assaltado numa terça-feira na Taipa, por um ladrão ávido de apostar nas corridas de cavalos essa noite. Este tipo de crime, o furto, está normalmente ligado a dívidas ao jogo e outros delírios casineiros, e quando assim é, torna-se um problema inerente ao jogo, que como se sabe são “ossos do ofício”.
Felizmente andam por baixo crimes como difamação, injúria e outras palermices que só servem para entupir os tribunais, que já não têm mãos a medir com coisas muito mais sérias.
Mais preocupante, e a meu ver supérfluo, é a construção da nova “super-prisão” na ilha de Coloane. É certo que a actual precisa de ser substituída, e já é nem antiga, mas preparar um eventual aumento da criminalidade e das prisões? Não será isto um pouco pessimista? Quando se confia no segundo sistema e no “rule of law”, não se desconfia que vão haver mais pessoas descontentes que optem pela via do crime, ou um maior número de salteadores ou potenciais terroristas estrabgeiros a residir no território. É só isso que quero dizer.
11 comentários:
De facto, Macau é um lugar bastante seguro para viver. Lembro-me de ser pequenino e vaguear por toda a espécie de sítios, e os chineses (desconhecidos) achavam-me até graça e tratavam-me com simpatia e ternura. Nesse sentido, Macau é exemplarmente seguro e um bom ambiente para criar crianças pequenas, na minha opinião.
O problema, por outro lado, são os gangues. Em Macau, se formos por bem, não nos acontece nada, no entanto, se nos metermos com as pessoas erradas, ficamos com as nossas vidas em risco. E, nesse sentido, para um jovem adolescente, Macau já pode não ser tão seguro, caso ele se dê com más companhias. Ainda por cima, em Macau, é tudo muito fácil. A droga é muito fácil de encontrar.
Outra coisa com que os homens portugueses (ou estrangeiros) têm de ter bastante cuidado é com as meninas chinesas a quem se afeiçoam... Pois, esse é um dos principais motivos de grandes brigas. Há que ser cuidadoso!
O que vale é que agora há tanta gaja de tanta nacionalidade, que até se consegue dispensar as chinesas que não sejam de confiança.
E eu ando como o Leocardo andava há muitos anos: a perder-me constantemente à noite pelas ruas de Macau. Tenho de aproveitar enquanto não chego à idade do Leocardo, que depois só vou querer batidos e descanso.
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
F.P.
se as chinesas não são de confiança
as fili são mais la ver
Por "chinesas que não são de confiança" entenda-se "chinesas com amigos mafiosos". Esses gajos são muito ciumentos e é melhor evitá-los. Referia-me só a isso, porque de resto as chinesas são como as outras. Mas que com elas é preciso estar mais atento (pelos motivos que referi e que o Paulo39 já tinha também referido), lá isso é.
É como em tudo na vida. Também é aqui é preciso ter sorte.
AA
Estimado Amigo Leocardo,
É bem verdade tudo aquilo que narra neste seu artigo, Macau é assim, mas nem sempre foi.
Quem como eu vive em Macau quase à meio século, tem visto de tudo um pouco.
Na minha ex-profissão tive que lidar com todo o tipo de maralha, ladrões sempre os houve, até policias o eram rsrsrs.
Qaunto ao problema das seitas era assunto deles aos quais a população em geral estava a leste das coisas.
Nos dias que correm muitos ladrões, alguns até bem vestidos, vindos da RPC, fazem de Macau o seu palco de acção ganhando as carteiras da malta e fazendo trinta por um linha, desde controlando as miudas, até assaltando residencias.
Macau não é um paraíso para se viver nem sempre o foi, tenha cuidado, pois nunca se sabe o que irá acontecer.
Da Tailandia com amizade, um abraço amigo
Talvez este último anónimo gostasse de se identificar completamente para que possamos analisar cuidadosamente a sua vida privada, antes que ele comente a vida privada dos outros, que se identificam.
Cumprimentos.
Macau pode não ser um paraíso mas, se não o é, então o resto do mundo é um autêntico inferno.
Quando cheguei a Macau estive algum tempo num hotel. Depois, fui viver para os lados do KunIamTong. Q tempos fantásticos: Talker, Mondial...
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