quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A pensar (o esta-secagandismo no seu esplendor)


O director do Hoje Macau, Carlos Picassinos, assinou ontem um artigo no seu jornal intitulado Os escrivães do sistema onde avalia o estado da democratização progressiva do sistema, contemplado na Lei Básica, e de como certos expedientes só servem para atrasar a democracia e prolongar o status quo que mantem sempre os mesmos na cadeira do poder. No mesmo dia o director do JTM, José Rocha Dinis, assina um artigo onde se congratula pela "mansidão" com que os sectores democratas, moderados e radicais, encaram agora a eventual "progressização" do sistema. Já no JTM de hoje, JRD aproveita para disferir algumas farpas ao director do HM, bastante bem sustentadas por sinal, e mal posso esperar pela réplica de Picassinos.

Isto é tudo muito interessante e diverte-me um pouco, mas e quanto ao estado da democratização? Penso que nem sim, nem não: nim. É interessante que se discutam duas propostas tão diferenciadas sem se perguntar à população o que realmente deseja. Aqui tendes as vossas duas escolhas: ficamos como estamos, ou então é "sempre a abrir", com toda a gente a eleger tudo directamente, criando-se o perigo do voto ir parar a quem tem mais dinheiro, e não em quem é realmente competente. E o mais engraçado é que a população está-se nas tintas, venha o que vier. Isto é, se não lhes doer no bolso. Parece que ninguém consegue entender que a população anda indiferente e os seus representantes no tal estado de "esta-secagandismo" cunhado por Picassinos, porque essa população vive no melhor período económico de sempre.

A "classe média" de que Agnes Leong tanto fala não é mais que os trabalhadores que voltam a casa às vezes às 10 da noite, trabalham Sábados e às vezes Domingos e Feriados, e nem têm tempo de andar a ler opiniões tão construtivas da malta tuga cá do sítio, ou de politólogos que trabalham sentados em universidades o dia inteiro, que parecem saber muito da vida deles. Sabem da vida deles e sabem o que querem, também, e apresentam as duas escolhas como as únicas viáveis. Uma neutraliza a outra, uma vez que a população sempre gosta de ficar debaixo da asa de uma grande potência económica e militar que é a China, e por outro lado manter a sua identidade apoiando a "democracia". Daí o misto de patriotismo e descontentamento de que tanto se fala.

É claro que não convem a muitos que a AL, por exemplo, seja apenas composta por deputados eleitos pela via directa, pois aí fica aberto o caminho para a aprovação de um chorrilho de leis de carácter social que vão afectar os empresários que vivem da exploração do trabalho precário. É curioso observar a fatia da população que considera "trabalho precário" melhor que "nenhum trabalho", e daí que evitem fazer muitas ondas que arrisquem um queda no vazio. Daí que de quatro em quatro anos votem nos democratas, para mostrarem que não estão realmente chateados - como aliás demonstra a fraca adesão às manifestações - mas também que "estão vivos", ao mesmo tempo que acham que a integração completa no primeiro sistema é algo ainda "a pensar".

22 comentários:

Anónimo disse...

Não vejo em que é que estão bem sustentadas as farpas de Rocha Diniz. O que ele fez foi apenas o mesmo de sempre: quando alguém critica o poder, lá vem ele em sua defesa.
Sempre quero ver como é que vai reagir quando o governo achar que é altura de a imprensa portuguesa se auto-sustentar e acabar com os subsídios. Sem subsídio do GCS e sem anúncios judiciais, kaput, acabou-se.
Nessa altura, o Rocha Diniz vai tentar arranjar um tacho num gabinete qualquer da administração e vai levar água. Depois, vai tentar concorrer novamente a autarca na terrinha e vai levar mais água. No fim, quando ficar sem nada, vai começar a dizer mal deste "seu" governo.

Anónimo disse...

Continuando, foi mais ou menos isso que ele fez em relação à Associação dos Jornalista de Língua Portuguesa e Inglesa de Macau. Como queria o lugar de presidente da direcção e levou água, decidiu ficar de fora e deixar os jornalistas do JTM todos de fora.
Passemos adiante. Não vale a pena perder tempo a debater coisas sérias com pessoas destas.

Anónimo disse...

Eleger todos os deputados por via directa não é sinónimo de acabar com o trabalho precário. Eu bem vejo o que está a acontecer em muitos países com "democracias-modelo", em que o trabalho é cada vez mais precário. Nalguns, bem mais precário até do que em Macau. Não que o que se passa aqui seja bom, mas o que vem das tais democracias plenas também deixa cada vez mais a desejar. Hoje, não há nada nem ninguém que defenda os trabalhadores, nem nas democracias nem fora delas.

Anónimo disse...

Julgo que O Rocha Dinis tem no Hoje uma adoração especial. Como ele gosta muito de entrar em polémicas, de quando em vez, com os seus colegas de profissão, o melhor que o Picassinos teria a fazer era, simplesmente, dar o que o Rocha Dinis merece, ou seja, ignorá-lo. Tenho a certeza que o Rocha Dinis iria esfumar pelas orelhas e pelo nariz por haver alguém inteligente que não lhe deu troco. Acima de tudo, o tal "complexo de édipo" até se aplica ao Rocha, visto ele estar sempre a chamar à atenção.

Anónimo disse...

Epah, nao batam mais no Rocha Dinis, deixem o homem viver a vontade. Pelo menos ele revela bem quem é, ao contrário de muito fdp que parece uma coisa, mas é uma pessoa totalmente diferente. Nisso, tempos que tirar o chapeú ao ROcha, porque não disfarça nada quem é! Abraço grande amigo Rocha Dinis.

Assinado,
Zétráquio das Neves

Anónimo disse...

A resposta saiu já saiu, e esperava mais do Carlos Picassinos. A resposta revela uma tremenda falta de classe. Mostrar que conhece determinados filosofos e rebaixar o colega de profissão que, concordemos ou não com as suas posições, já leva muitos mais anos de carreira que ele não lhe ficou nada bem. Sou um leitor assiduo do HM, gosto da linha editorial, mas a resposta foi deveras arrogante e, volto a repetir, sem classe.

Já agora, e isto dirigido aos dois: cresçam, meninos. Parecem crianças da escola a discutir. Já cá só falta a típica resposta "Foi ele que começou"!

Anónimo disse...

Foi ele que começou.

Anónimo disse...

Em Macau não existe classe! Ninguém em Macau tem classe...são todos um papalvos com a mania...

Anónimo disse...

Este braço de ferro merece a minha apreciação. Afinal em Macau, terra em que nada acontece, este tipo que bulhas são muito bem-vindas. O homem modesto tem tudo a ganhar e o orgulhoso tudo a perder: é que a modéstia tem sempre a ver com a generosidade e o orgulho com a inveja e isto é válido para os dois. Espero que o braço de ferro continue a alimentar as páginas dos dois jornais. A malta gosta de fofoca e gosta disto. Hoje já vou ouvir o programa da Rádio Macau. Ou foi ontem?Sim, aquele em que o Gilberto se senta à mesa com 3 eruditos da imprensa macaense.

AA

Anónimo disse...

O Picassinos fez muito bem em ser arrogante, expecialmente por que não respeita a opinião de um colega de profissao e vem para a praça pública dar lições de moral, quando de moral pouca essa pessoa tem. Quanto a mim, não é por o Rocha ter muitos anos de profissão que os seus colegas tem que aturar as suas faltas de cha. Picassinos, fez muito bem em responder (e com alto nivel, diga-se de passagem).

Anónimo disse...

Errata - O Picassinos fez muito bem em ser arrogante, expecialmente por queM não respeita a opinião de um colega de profissao e vem para a praça pública dar lições de moral, quando de moral pouca essa pessoa tem. Quanto a mim, não é por o Rocha ter muitos anos de profissão que os seus colegas tem que aturar as suas faltas de cha. Picassinos, fez muito bem em responder (e com alto nivel, diga-se de passagem).

Anónimo disse...

Então o Rocha não apareceu no programa da Radio do Gilberto com os 3 eruditos cá da terra? Será que teve medo de um confronto directo aos microfones da Rádio Macau? Isto começa a ganhar motivos de interesse.

AA

Anónimo disse...

Isto de protestar pelo sufragio universal, e muito lindo mas pouco pratico.
Porque e que em vez disso as pesoas nao protestam pra correrem daqui para fora com as grandes agencias imobiliarias que parasitam a vida das pessoas?
Ou pelo preco dos produtos alimentares que aqui ao lado no Zhuhai sao muito mais baratos?
Nao acham que e mais eficaz?

Anónimo disse...

Não, não acham, anónimo da 1:36. A maioria das pessoas não se importa de ter uma vida de merda, desde que seja em democracia. Enfiaram-lhes na cabeça que a democracia é a mãe de todas as virtudes e não se importam absolutamente nada que andem uns chulos a roubá-los legalmente, desde que esses chulos sejam eleitos por aqueles que são roubados. É esquisito, mas é assim.

Anónimo disse...

O anónimo anterior acha que a imperfeição das democracias justifica as ditaduras? Serão estas mais perfeitas?

Anónimo disse...

Anonimo das 13:22:

As ditaduras surgem quando as democracias se tornam decadentes, quando a sua pratica se resume a um somatorio de folclores desligados da vida quotidiana das pessoas.

Anónimo disse...

É frequente assim ser, ainda que nem sempre. Mas isso não significa que a ditadura que substitui a democracia seja melhor do que ela. A História está cheia de exemplos desses. Déspotas que usam o argumento da democracia decadente para impor ditaduras longas e sanguinárias. Não, obrigado!

Anónimo das 06:03 disse...

Não, não acho que a imperfeição das democracias justifique ditaduras sanguinárias. Acho, sim, que uma democracia plena, de momento, não resolveria problema nenhum em Macau, e era disso que falava. Em Macau não há nenhuma ditadura sanguinária, e conheço muitas democracias em que os cidadãos são muito mais desrespeitados do que na RAEM.

Anónimo disse...

Uma democracia ocidental implementada em Macau era o fim da macacada.

AA

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o AA: era o fim da macacada! Só que às vezes até parece que não se pode dizer isso. Temos de ser politicamente correctos, e tal, de contrário somos logo acusados de fascistas e coiso...

Hoje em dia, os defensores a todo o custo da democracia plena em todo o mundo e, por consequência, supostos defensores da liberdade de expressão, são os primeiros a querer calar quem não concorda com eles.

Anónimo disse...

E dificil ser jornalista.
Por um lado, temos os povos oprimidos, e Abu Ghraib,e os direitos humanos do traficante de droga com passaporte portugues, e toda uma serie de causas humanistas.
Por outro lado, temos outras "causas", tais como fazer publicidade paga, perdao, entrevistas aos agentes imobiliarios, em que estes dizem invariavelmente que os precos vao subir trinta por cento( mas que raio!Nao e que sobem sempre!), e que se as pessoas nao tiverem dinheiro, podem ir morar para o Zhuhai.

Anónimo disse...

Anónimo das 13:58, depois há aquele tipo de jornalista lambe-botas, autêntico réptil da profissão e sabujo de primeira que faz uso da Imprensa para se promover ou ficar bem-visto junto dos "seus amigos"!