terça-feira, 14 de abril de 2009

Saravá mermão


A comunidade brasileira em Macau resolveu finalmente organizar-se. E ainda bem. Os nossos amigos brasileiros - provavelmente o povo mais fantástico do mundo - dão um sabor especial a qualquer terra por onde passam, mesmo num enclave cinzento e deprimido como é Macau. Quando falamos de Brasil vem-nos à ideia o samba, o futebol, a praia, as novelas, os dentistas e todos esses estereotipos. Claro que o Brasil é tudo isso, e muito, muito mais. O Brasil é, como disse o professor Agostinho da Silva, "Portugal à solta".

São o apanhado do nosso lado bom, espirituoso, divertido, musical. São os nossos alunos que um dia passaram a mestres. Onde há brasileiros há cor, festa, alegria e diversão. Nem preciso falar da comida brasileira, outro exercício de imaginação, e de que temos uma ligeira amostra no Restaurante "Yes Brasil" (Travessa de S. Paulo, a caminho das ruínas), da Maria, a incansável brasileira que todos conhecem a adoram, ou o Churrascão, na Taipa, herdeiro do Boi na Brasa, onde se serve o divinal rodízio.

Onde chegam, os brasileiros fazem questão de trazer o que é seu e com isso contribuir para melhorar o local que os recebe. E fazem-no sem que seja preciso pedir. E ainda bem. Só lhes podemos retribuir com muito amor e carinho. Os brasileiros são o primeiro povo deste planeta movido a energia solar. Para um brasileiro está sempre tudo bem, desde que haja sol. Pode ser aqui na China, em Portugal, na Rússia ou na Gronelândia, o brasileiro mexe com as coisas, dá calor e dá vida.

Nem devia ser necessário passaporte ou um visto onde há brasileiros. Devia-se encorajar a sua vinda, e só eles sabem como é viver longe do seu Brasil. Não estão aqui ou em lado nenhum para chatear ninguém. Vêm trazer um pouco do seu Brasil, e como nós agradecemos. Enoja-me a forma como ainda recebemos os brasileiros em Portugal, como se fossem piratas, malandros e ladrões. No mínimo devíamos estender-lhes uma passadeira vermelha e agradecer-lhes a sua vinda. Não é assim que se recebe um irmão.

Nunca vi um povo tão aberto, tão fácil de lidar, tão comunicativo. Um povo que respeita para ser respeitado, inteligente, que aprende facilmente os costumes do seu local de acolhimento para, só se pode explicar assim, ter mais amigos, socializar melhor. Sendo o Brasil um país com tantos recursos, é natural que com um povo que aprendeu com os seus erros e soube usar isso para se tornar melhor e mais forte, seja uma das economias com maior potencial do mundo. É só normal que muitos estrangeiros queiram aprender português não por amor a Camões ou Pessoa, mas para abrir a porta desse verdadeiro universo que é o Brasil. E digo tudo isto sem qualquer tipo de paternalismo ou fascínio bacoco pelas "bundas" brasileiras que é apanágio do nosso imaginário lusitano.

Hoje não sei quantos brasileiros vivem em Macau, mas conhecia-os quase todos quando cheguei há 17 anos. Enquanto a nossa comunidade era (e continua a ser) praticamente impenetrável, muito devido a esse maldito elitismo e mania da superioridade, os brasileiros estavam aí de peito aberto sempre prontos a receber mais um estranho, mais um amigo. Eram homens e mulheres de fé, futebolistas, bailarinas, senhoras que chegavam com os maridos macaenses, que regressavam do Brasil depois da onda emigracional que se deu nos anos 70 no território. Hoje são ainda músicos, jornalistas, pilotos de avião, empresários, professores, todos preparados para nos dar o seu melhor. Nunca vi um brasileiro falar mal de Macau, e nem sempre foram aqui bem tratados, ou tiveram sorte.

Jane Martins, Roberval Teixeira e Carla Fellini Martinelli, todos gente simpática e sorridente, deram agora o grande passo que antes tinha sido dado timidamente por outros brasileiros nos anos 90, e fundaram a Casa do Brasil em Macau. Que nos tragam tudo o que o Brasil tem de melhor para dar: caipirinhas, churrascos, samba, capoeira, futebóis, tucanos, índios, tudo. Queremos tudo. Precisamos da sua "frescura" para os dias mais quentes e húmidos, e do seu calor para os dias mais frios e secos. Bem hajam. Saravá!

9 comentários:

Paulo39 disse...

Uma gralha: não é devia-mos, mas sim devíamos

Leocardo disse...

Tem razão, obrigado.

Anónimo disse...

Em Portugal ultimamente têm contribuido imenso, mas nos homicidios e assaltos á mão armada, deve ser das caipirinhas.

Leocardo disse...

É essa a lógica saloia do tuga. Se calhar se não houvessem brasileiros em Portugal não haviam homicídios nem assaltos à mão armada. Era o paraíso.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

O anónimo das 21:24

Deve ser um daqueles rapazes que constam nesta notícia

www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentid=9CAB64C0-D683-46DD-9742-B96733060080&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010

Leocardo disse...

Boa malha, anónimo.

Anónimo disse...

houvessem, haviam... escreve-se bem por aqui

Anónimo disse...

Acho que você captou muito bem o espírito de nós, brasileiros, com colocações até bastante generosas!
Uma coisa que você disse e eu posso garantir que está certo é que os brasileiros adoram Macau. Eu estive aí em maio de 2007, e apesar do calor gostei muito e pretendo voltar. Ainda se percebe a alma de Portugal, outro lugar que eu gosto muito, de tudo, inclusive, daqueles que não gostam de nós.
Abraços

Renaut Alencar disse...

Parabens, pelas palavras generosas aos brasileiros. Trabalhei em Macau de 1992 a 1999, minhas filhas tem esta terra no coração, estudaram no Liceu e Santa Rosa.
Fui muito bem tratado pelos macaenses.
Ja retornei outras vezes para rever a terra amada.
Nos nos consideramos embaixadores de Macau no Brasil.
Renaut Alencar