As afirmações de Jackie Chan no passado fim-de-semana durante o fórum económico em Hainão causaram uma vaga de indignação que foi muito para além dos “alvos” que o actor quis (sem querer?) atingir: Taiwan e Hong Kong. A imprensa estrangeira deu importância ao assunto, e não é para menos. Jackie Chan é o ídolo de miúdos e graúdos no mundo inteiro. Ao dizer que os chineses “devem ser controlados” e que “a liberdade a mais faz mal”, o actor mata dois coelhos de uma cajadada só. Em Hong Kong e Taiwan, sociedades ditas “livres” no contexto da grande China, e que Chan considera “caóticas” por esse mesmo motivo, e na grande China, onde se dá a entender que Chan pensa “vocês levam porrada e gostam”.
O mais irónico de tudo isto é o facto de Chan falar sem conhecimento de causa. Não é propriamente alguém que pode dizer: “Eu sempre vivi em liberdade e olhem, não recomendo. É uma merda.” Aos 55 anos o actor teve uma carreira invejável no cinema, primeiro em Hong Kong, depois em Hollywood. Nunca faltaram os dólares, ora de HK ou americanos. Encontrou na América condições que muitos actores da sua geração nunca sonharam sequer. Mas Jackie Chan tem uma desculpa: quando falou em frente a uma plateia de empresários da RPC faltava lá o roteirista, o realizador e um monte gajos maus para dar porrada. Assim podia ser que tivesse saído qualquer coisa de jeito.
Para o bom do JC, que não tem estudos e começou desde muito novo a ter que fazer pela vida, não se pode dizer que um fórum sobre economia onde não tenha a companhia de Chris Tucker ou Owen Wilson, e onde não havia ninjas a saltar das janelas para roubar um medalhão ou um selo sagrado fosse o ambiente ideal para atirar pérolas de sabedoria. Depois quando se tentou justificar, fez lembrar a história do homem que estava enterrado até aos joelhos na areia movediça e decidiu usar as mãos para puxar as pernas, e enterrou-se ainda mais. Com que então referia-se à “indústria do entretenimento”. Então queria dizer que o cinema em Hong Kong e em Taiwan é que são caóticos. Quando disse em tempos que as eleições em Taiwan eram “a maior anedota do mundo”, referia-se certamente a uma qualquer eleição de estúdio de cinema.
O que se passa é que Jackie Chan é conhecido pelos seus filmes, e não pelas suas declarações. A TV e a imprensa de HK têm trazido à memória nos últimos dias numerosas gaffes cometidas pelo actor ao longo dos anos. Trata-se de um homem simples sem o dom da oratória, e com uma capacidade muito limitada de pensar por si mesmo. É preciso não esquecer também que Jackie Chan tem agora muitos dos seus negócios na China continental. O que tentou fazer - muito à sua maneira - foi tentar agradar os seus novos patrões, dizendo-lhes aquilo que pensava que queriam ouvir. Até nisso se espalhou ao comprido. Não passa pela cabeça de ninguém que o valor da liberdade, o mais prezado e genuíno da natureza humana, seja "perigoso", mesmo em demasia.
O que o pessoal aqui deste lado queria era que Jackie Chan fosse humilde, reconhecesse que errou, e pedisse desculpa. No fundo, que admitisse que na sua simplicidade que achava que era isto que aquela plateia queria ouvir, habituado que está a tentar agradar e entreter. Mas não se pense que Jackie Chan é o único. Durante os últimos dias tenho ouvido comentários diversos apoiando as afirmações de Jackie Chan, felizmente menos dos que o condenam. Sinceramente as declarações do actor valem o que valem: nada. Ficava muito mais preocupado se tivessem vindo de alguém inteligente, com influência no panorama jurídico-legal da região. É preciso dar um desconto a estas pessoas. É dos pobres, o reino dos Céus. E também dos pobres de espírito...
2 comentários:
É de condenar as declarações do JC, mas concordo que se deve dar um desconto ao homem, que em quase toda a vida usou e usa os pés e mãos para pensar em vez da cabeça.
Não é a primeira vez que diz disparates!!
Este parolo faz filmes? Não insulte os filmes, se faz favor.
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