Discute-se, debate-se, mexem-se os cordelinhos. O que fazer? Chegou a internet e os seus problemas. E surprise, surprise! A legislação está desactualizada. Todos aqueles anos de IRC (lembra-se do canal #macau?), de ICQ, de Napster, de Kazaa, eram só uma brincadeira. Agora a internet, essa coisa nova, proporciona pornografia, pirataria, vícios sem fim. É altura de dizer basta. É o fim da era do "São 10 horas. Sabe onde estão os seus filhos?" e o início da era "O que está o seu filho a ver na internet?".
A internet, ao contrário do tabagismo, tem mais vantagens que desvantagens. É uma festa cada dia que chego a casa e vejo os miúdos a fazer os trabalhos de casa usando a net para "dissipar" qualquer dúvida (até já sinto que não sirvo para nada). Ao mesmo tempo que o fazem, conversam com os amigos no MSN, mexem-se no mundo virtual com uma agilidade incrível, e tudo o que tenho que fazer (além do jantar) é deitar uma vista de olhos de vez em quando.
Antes do evento da internet, já existia pornografia, já existiam predadores sexuais, já existia pirataria. Penso que ainda não é plausível comprar heroína no eBay, e mesmo que fosse os putos ainda não têm cartão de crédito. Se a internet trouxe uma vantagem, foi a dos miúdos quererem ficar em casa sem se aborrecerem por ter que aturar os velhos. Outra vantagem é prepará-los para o futuro; digam o que disserem, a internet chegou para ficar. E dá-me imenso gozo vê-los com aquele ar sério a ver futebol ou a ouvir música no YouTube, ou a forma como já escrevem sem olhar para o teclado. Parecem uns pequenos génios.
Os mais velhos são cépticos quanto às maravilhas da internet. Para eles qualquer coisa que saibam que já não podem usufruir durante muito mais tempo é má. Provavelmente tiveram a mesma reação da primeira vez que viram um telemóvel ou um semáforo. Fazem mal. Se há uma coisa em que o Governo devia investir é em cursos gratuitos de internet para os velhinhos. As possibilidades são imensas: podem combinar o horário do
tai chi por e-mail ou MSN, podem procurar medicamentos para a demência e para a artrite, podem fazer um blogue sobre chás medicinais, podem conhecer outros velhinhos! E assim já não morrem estúpidos. Nos meus tempos de ICQ uma das pessoas com que eu mais gostava de falar era uma velhiha de 70 anos, da Florida.
Infelizmente é fácil convencer os velhinhos, analfabetos e sopeiras de que a internet é má. Que leva os filhos e os netos à ruína, às más companhias e ao vício. Pudera, com as histórias que se contam por aí. Ora é a do jovem de 14 anos que marcou um encontro com uma namoradinha virtual na RPC e desapareceu, ou a daquele palerma que transferiu 400 mil patacas em dois anos ao "amor da sua vida" que conheceu na internet e afinal era uma burlona de quarenta e poucos anos. O pior é que há quem se aproveite disso, e proponha a sanear a internet. Os velhos, analfabetos e sopeiras também votam, e são mais do que se pensa.
E pelo que passa esse saneamento, exactamente? Bloquear conteúdos? Limitar o acesso a certos sites considerados "inapropriados"? Quem decide isso? Acho bem que se combata a pirataria e a subtração de dados pessoais e confidenciais, aquilo a que chamam "crime informático". Têm todo o meu apoio. Mas a internet deve continuar livre. A responsabilidade do que os mais jovens fazem e vêem (tanto na internet como noutro sítio) é da inteira responsabilidade dos paizinhos. Sei que é a minha, como também é de evitar que os meus filhos frequentem maus ambientes, que sejam bem alimentados e se mantenham longe das drogas.
Sei que têm havido problemas. Chegámos a ter uma ameaça de bomba, uma ameaça de roubo de um objecto que estava protegido por fortes medidas de segurança, tudo pela internet. Na sequência de tudo isto, uma frase foi cunhada para a posteridade: "as pessoas têm de ser tão responsáveis no mundo real como no mundo virtual". Enquanto ainda me decido sobre que mundo é este afinal, fico a pensar que estas ameaças podiam ter sido produzidas na mesma, sem que a internet existisse sequer. Bastava pintá-las numa parede ou afixá-las na porta de um prédio. A coitadinha da internet não tem a culpa que hajam malucos a usá-la, da mesma forma que as facas e os machados não são responsáveis pelos actos de Jack o Estripador, ou de OJ Simpson.
Quando ponderamos uma solução que passa por sanear algo que é bom e útil só porque tem alguns pequenos "mas", em que direcção estamos a dar o passo? Para trás. Para isso acabávamos com os automóveis e motociclos de modo a evitar a sinistralidade rodoviária, ou com as fronteiras de modo a prevenir o tráfico de estupefacientes. A saída mais fácil nem sempre é a mais indicada. Impedir que as pessoas vejam ou façam algo não lhes vai matar a curiosidade, vai sim atiçá-la, torná-la mais obsessiva e agressiva. É já tempo de abraçar a modernidade e tomar as devidas precauções para que possamos todos usufruir das maravilhas da ciência com o menor prejuízo possível.
12 comentários:
Essa do concordar com o combate à pirataria e de ter todo o seu apoio tem imensa piada.
Não seja hipócrita. Você não corcorda com o combate coisa nenhuma.
Se por exemplo acabassem (como você defende) com a pouca vergonha que grassa em Zhuhai, onde se podem encontrar todos os tipos de CDs, DVDs, VCDs, SDVDs, jogos e sei lá quanta outra tralha pirateada, tudo às claras e sem qualquer preocupação ou problema, onde é que você iria passar os seus fins de semana para abastecer o seu stock multimedia para depois vir comentar os filmes para o blog?
Ah, a não ser que defenda apenas o combate à pirataria informática.
Pois é, desde que não lhe toque a si, está tudo bem.
Er...sim, foi isso que eu quis dizer. Além disso só um pequeno aparte: eu não vou a Zhuhai comparar CDs piratas. É tão raro que nem me lembro da última vez. Existem outras formas de ver os filmes, sabia? Portanto, fale por si.
E agora, está mais calmo?
Cá por mim fazem muita falta estes saltos a Zhuhai para comprar discos!
Portanto deixem lá as coisas estar como estão hehe.
Se acabassem com isso, morriamos todos de tédio nesta cidade adormecida.
Para vossa informação existe uma lei, ou uma norma, que quem for apanhado com material pirateado, no caso contrecto de CD ou Dvd, fica sujeito a uma multa de 500 patacas por cada Cd encontrado.
Quanto aos relógios falsificados esses dão direito a prisão na RPC.
Porém as leis tanto em Chi Hoi como em qualquer parte da Ásia e não só, é só posta em prática quando as autoridades o desejarem ou forem precionadas a fazê-lo.
Esta a realidade nua e crua, e Macau não é uma cidade adormecida, antes pelo contrário, bem vivinha da Costa !...
Já lá os tempos em que os residentes de Macau o único escape que tinham era Hong-Kong, as viagens essas eram morosas e os funcionários públicos para lá se deslocarem necessário era solicitar a devida autorização para lá se deslocarem, outros tempos bem mais calmos onde ainda se podia ver as pessoas dormindos nas ruas e com as portas de casa abertas.
Cumprimentos de um alentejano com 45 anos de Macau.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1364916
Anda aí um anónimo armado em esperto que gosta de pegar em tudo o que o Leocardo escreve e trocar-lhe as voltas. Já sugeri por mais que uma vez que o Leocardo accionasse a moderação dos comentários, e assim poupava-nos aos habituais flamers que só sabem insultar e escrever disparates. Tenho a certeza que quem tivesse qualquer coisa de interessante ou relacionado com o tópico para dizer não ia ser censurado. Só uma sugestão.
Vai censurar mas é a tua mãe, rapaz!
Qual é o problema de escrever um comentário menos positivo ao que o Leocardo disse? E se não tiver a ver com o tema principal, qual é o drama?
Se acha que chamar hipócrita a alguém é um insulto e dá direito a censura, aconselho que ligue o canal Parlamento da TVCabo (se estiver em Portugal) e veja o que se diz por lá.
Sou visitante deste blog há muito tempo, e o Leocardo já demonstrou que tem estofo para aguentar estas críticas e muito mais. Aliás acho que ele até acha piada a estes comentadores inflamados.
Sempre dá mais vida a este espaço (já por si bastante vivaço), não acha?
500 patacas por DVD, António Cambeta? Apre, que se me tivessem apanhado da última vez tinha pago 11.500 patacas...
Viva a pirataria, que é sinónimo de cultura. Graças a ela estou a par do cinema actual e da música. E viva o Zhuhai e os downloads na Internet. Quem não gostar que não faça e que se preocupe menos com os outros.
Assino por baixo. A pirataria deixa os pobres (o que não é o caso, penso eu) ter acesso à cultura. Quando eu disse "que combatam a pirataria" não quis dizer que se devem pagar multas astronómicas ou que se prendam as pessoas. Não defendi que acabassem as lojas em Zhuhai, apenas o crime informático de subtração de dados pessoais ou software.
Anónimo das 5:19: não há necesidade de moderar nada; sou defensor da plena liberdade de expressão, mesmo que isso implique insultos (dentro dos limites do razoável) ou flaming. Quem insulta é apenas por falta de argumentos.
Cumprimentos.
Bom post Leocardo!
Já agora, o canal #macau foi reaberto por mim na PTnet há coisa de 1 ano.
Estão todos convidados a voltar a usar o velhinho IRC :þ
Concordo consigo, Leocardo, e não foi a si que me referi quando disse "quem não gosta não faça e deixe os outros em paz". O recado era para uns certos arautos da legalidade que me fazem lembrar aquelas senhoras portuguesas muito católicas que votaram contra no referendo do aborto, mas que não se coibiram de ir fazer o seu abortozinho ao estrangeiro. Mas depois chamam-lhe hipócrita a si.
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