segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sexo! Agora que tenho a vossa atenção...


Quando estava no final do 9º ano a psicóloga da nossa escola, a Dra. Isabel, teve a ingrata tarefa de dar uma aula tipo conferência sobre “Educação Sexual”. Não sei o que passou pela cabeça do Prof. Mendes, o nosso director, que também lá estava presente, bem como alguns alunos do ensino complementar e outros professores. A Dra. Isabel fez uma apresentação bastante sucinta da matéria, que passava por explicar, da forma menos elaborada possível, de que o sexo era uma coisa normal, e a explicação para muitas das hormonas que saltam como pipocas naquela idade, da importância do uso do preservativo, das doenças sexualmente transmissíveis, da contracepção.

Foram duas horas bem passadas. O pior foram os inergúmenos que riam a bandeiras despregadas cada vez que se ouvia as palavras testículos, orgasmo, vagina ou espermatozóide. A Educação Sexual não devia estar ao alcance de todos, sinceramente. Devia ser feita uma selecção, baseada num simples teste de QI, outro de equilíbrio e ainda outro do balão. Os que passassem iam ter a oportunidade de aprender de uma forma científica aspectos do funcionamento dessa maravilhosa máquina que é o corpo humano. Os outros ficavam com um daqueles livros intitulados “O meu primeiro livro de sexo”, destinado a jovens dos 8 aos 12 anos, que fala dos passarinhos e chama aos orgãos sexuais “pilinha” e “pipi”. Os casos mais graves podiam ficar na lezíria a observar os bois e os cavalos, e podia ser que aprendessem alguma coisa, assim como assim, estão perdidos e para eles não se pode augurar nada de bom.

Já chamei aqui a atenção mais que uma vez para a necessidade do ensino da Educação Sexual em Macau. Os nossos jovens estão cada vez mais espertos, crescem cada vez mais depressa e são cada vez mais curiosos. Claro que quando uma criança de 7 ou 8 anos pergunta “de onde vêm os bebés”, a resposta não pode ser dada de forma científica e pragmática. Eu por exemplo optei pela rábula da semente na barriga da mamã, que é tosca, confesso, mas não fica muito longe da verdade. Menos sorte tive quando fiz essa mesma pergunta, e a minha avó se deu ao trabalho de me levar ao sotão e mostrar a alcofa donde eu tinha chegado de Paris, trazido pela cegonha.

Mas num lugar exíguo como Macau, onde as escolas convivem a paredes meias com casinos, casas de penhores e bordéis, onde se encontra alguma da mais variada fauna de prostituição de rua do mundo, a educação sexual é uma prioridade. Já falei disto antes, sim, já sei. E não, não estou a concorrer a um lugar de professor ou qualquer outra forma de piadola tosca que se possa fazer a respeito da minha insistência. É que ao contrário do que muito boa gente pensa, a Educação Sexual não ensina as crianças a ter relações sexuais.

Curiosamente há coisas que, aprendendo a tempo e horas, os inibirá de iniciarem a sua vida sexual tão cedo (blergh, que nojo). E não é “a função dos pais”. Que lógica tem pais que não tiveram essa educação, que cresceram num ambiente ainda mais conservador, ministrarem esses ensinamentos? Podem falar do básico, até devem, mas faltam-lhes conhecimentos técnicos. Em Macau os jovens vão para a escola, são massacrados com caracteres chineses desde tenra idade, aprendem as continhas, que é o mais importante, e a versão recalcada da História que ensinam esses estabelecimentos. A pouca cultura geral que têm adquirem na televisão (os poucos que não vêm só novelas e concursos), e falar de sexo, nem pensar. E quem fale nisso é imediatamente considerado um pervertido ou um marginal.

Os adultos dão o mau exemplo, tratam o sexo fora do casamento como um objecto de luxúria, um exercício de poder, ou uma necessidade fisiológica. Ensinam que os homens procuram o sexo e as mulheres dão o sexo, na maioria das vezes “por algo em troca”. Nunca o contrário, ou desinteressadamente. Alguns entram na idade adulta sem saber o que vai com o quê, têm profundos problemas de relacionamento com o sexo oposto, e depois são entregues à bicharada. Isto é, quando a bicharada não chega lá primeira, na forma daquelas revistinhas asquerosas da cultura manga e hentai japonesa, ou na forma de escândalos do tipo Edison Chen e as suas meninas “naif”. E depois há pais irresponsáveis que falam como se a culpa fosse da internet, que no fundo só está a fazer mal aquilo que eles deviam ter feito bem.

Depois admiram-se que aumentem os casos de gravidez precoce (e respectivos abortos, de que em Macau não existem números precisos), as agressões sexuais e outras barbaridades. Quando se fala de Educação Sexual, deve-se dar enfâse à palavra Educação, que é isso que se trata, e a Educação nunca é demais. Mas fica apenas a esperança, que com escolas monossexuais geridas pelo clero, e as outras da nomenklatura, não há meio da Educação Sexual arrancar. E se lhes perguntam se acham se “sexo é tabu”, eles respondem com outra pergunta: “porque diz que essa coisa é isso?”

4 comentários:

Anónimo disse...

Como educadora dou-lhe os parabens. Abordou o tema de forma inteligente e tocou pontos nevralgicos fundamentais.

Anónimo disse...

pela IP o leo ve que sou o dito critico...mas este post nao esta mal e foi um tema que eu saiba nao foi abordado ainda neste blog os meus parabens!lembra bem se o leo so eliminou um comentario ate agora, e que eu me lembro tambem de mais um...

Anónimo disse...

afinal foi enganado, este tema foi abordado pelo Leo em 5 de maio sob o titulo "A educação sexual nas escolas ". comprendo que o leo fica um bocado chateado com as minhas criticas...mas muitas vezes ate nas mehlores revistas no readers digest aparecem artigos chatos e sem interresse e tendo em conta que este e um post cujo o administrador e unitario ainda mais, espero que o leo nao leva a mal...talvez sugiro que post giro, uma especie de concurso publico sobre o tema onde esta o vitnho...talvez podera chamar a atencao de mais leitores..

Leocardo disse...

Obrigado à sra. educadora e obrigado ao crítico atento. De facto já escrevi sobre o assunto no dia 5 de Maio, mas numa abordagem diferente. Se apaguei outro comentário, não me lembro, recordo-me de um que se fazia passar por mim, mas é bem possível.

Cumprimentos