terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Atirou o pau ao cão (ou não...)



Este é o vídeo que está a chocar o Brasil. Ou melhor dizendo, esta é parte do vídeo que está a chocar parte do Brasil. Nele vemos uma cadela a agonizar de dor depois de ter sido alegadamente agredida na cabeça à paulada por uma menina de dez anos, e tirando isso pouco mais se sabe. No vídeo ouvimos alguém que aparentemente será a mãe da jovem, lamentando-se até às lágrimas da sorte da cadela, ao mesmo tempo que assiste o animal enquanto este definha. Não sei quem teve a ideia de fazer este vídeo, que vou avisando desde já que contém imagens fortes, e não imagino qual a finalidade de o partilhar pela internet. Seja como for, o tribunal da inquisição dos Direitos dos Animais do Brasil já tem o verdicto.


E aí está, a habitual justiça de talião entregue pelo Facebook pelos amigos dos animais, que como sempre defendem que aos autores da crueldade, se deve aplicar uma crueldade maior ainda. Entre as visíveis ameaças que me levam a acreditar que seriam efectivamente concretizadas caso lhes fosse dada a oportunidade, as pragas que são rogadas ao agressor e todo o resto religiosamente regado com um ódio visceral e pontuado com obscenidades, eis que Cleidi Maciel Chaves faz uma sugestão interessante: que se desactive a conta do Facebook da autora da maldade. E talvez fosse boa ideia, e já vamos ver porquê.


E aqui está a alegada agressora, uma tal Vitória Bento, e isso é apenas o que sei, e no vídeo ouve-se uma mulher adulta (que dizem ser a mãe da jovem) a dizer que "a Vitória bateu na cadela com um pau". Mais nada. Não tive tempo de saber mais, ou de confirmar se a agressora é realmente esta Vitória, e tenho a certeza que não sou o único que tem mais que fazer. Mas isso não deteve os sequiosos justiceiros dos Direitos dos Animais de retirar as suas conclusões pessoais, e qual a pior...


Estes comentários levam a questionar se no Brasil existe a figura da "presunção da inocência" - e existe mesmo, mas esta gente é simplesmente louca, e potencialmente perigosa. De baixo para cima vemos um tal Luiz Barbosaf completamente transtornado, a falar em denunciar o caso à empresa onde as alegadas intérpretes da maldade trabalham, ao juízado da infância, e tudo mais, mas perde qualquer razão que pudesse ter com a quantidade de pragas que roga à mãe e à filha, ou com o que diz que fazia com elas, caso tivesse a chance - ainda bem que não tem. O mesmo para  Jorge Luiz, outro adepto da lei de talião, mas eu chamava a atenção para as entradas um pouco mais em cima.  Dizem que existe um vídeo onde se vê a jovem a bater no animal, mas não o encontrei em parte alguma, e duvido muito que exista - nem fazia qualquer sentido. Imaginem o que seria o sistema judicial deixado nas mãos da Samanta Rosales, que não estando certa se a cadela morreu ou não (por misericórdia e humanidade, espero que sim...) mas "leu noutras postagens que morreu". Aí está, pronto, não preciso de provas, ouvi dizer que sim a para mim isso chega. Ponto final. Melhor ainda faz Lili de Abreu Neves, que "não viu o vídeo", mas "pelos comentários" é como se tivesse assistido a tudo ao vivo, e vaticina que a Vitória "é uma forte candidata a vir a tornar-se numa psicopata". E não é a única.


E aqui está, pronto, a Lorena Souza resolveu o caso, com uma lista de criminosos e psicopatas famosos que na infância ou na adolescência maltratavam animais. A lista é muito mais extensa que este bocado que aqui deixei, e nem é possível verificar quase tudo o que ali consta, mas para estes defensores da cachorrada, esta é uma prova mais que evidente que a pequena Vitória vai ser um híbrido entre Hitler e Estaline quando atingir a idade adulta.


 

Aqui vemos uma fotografia editada da Vitória Bento, onde se lê em baixo "ASSASSINA", e mais em baixo ainda também "Que sorriso lindo, minha filha", que só posso entender como tendo um propósito irónico. Uma tal Adriana Scalabrini, que terá publicado ou partilhado esta fotografia diz-se indignada com o facto de alguém ter denunciado esse facto. Epá, juro por tudo o que é sagrado que uma das razões que me levam a tirar o cu da cama todos os dias é de viver num mundo onde não é permitido fazer uma coisa destas. Livra! 

Pode parecer que estou aqui a fazer de advogado do diabo, ou a desvalorizar um acto hediondo cometido contra um ser vivo, mas nada disso - considero esta violência para lá de reprovável, mas não posso aceitar este tipo de julgamentos na praça pública, feitos com base em acusações mal fundamentadas, com provas que de concreto têm muito pouco, ou nada. Tivesse eu a intenção de tornar a vida de alguém num inferno, e bastava fazer o mesmo: pegava numa fotografia editada com uma acusação monstruosa e um filme do mesmo calibre, e mandava para uma destas páginas, frequentadas por fanáticos que em menos de nada deixavam o mundo saber que fulano ou fulana são o pior verme que rasteja à face do planeta, e uma morte lenta e agonizante repetida duzentas vezes seria um castigo brando para ele.  Ainda para mais, e ao contrário de Macau, onde ainda se está em vias de legislar nesse sentido, no Brasil existem leis que penalizam os maus tratos cometidos contra animais - basta pegar em PROVAS, atenção, PROVAS. Não chega só "ouvir dizer", ou "achar que foi". Vá lá, somos gente civilizada ou quê?

Desta forma, com estas demonstrações de raiva que sugerem um desequilíbrio emocional, só se está a prejudicar o trabalho de associações e outra gente bem intencionada que pretende um mundo onde as criaturas que nele habitam não se agridam por maldade ou por prazer. Que mensagem estão estes auto-proclamados "justiceiros" a passar para o mundo, senão a de que "dois errados dão um certo", e já agora fazer do segundo pior que o primeiro. Não sei se a tal Vitória Bento agrediu a sua própria cadela desta forma tão barbárica, mas talvez não esteja consciente da dimensão que esta acusação que vai pendendo sobre ela pode vir a ter. Um conselho que lhe daria é o seguinte: se te cruzares com um destes paladinos dos animais, corre. Corre como nunca correste na tua vida, moça.

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