O Vaticano está desde ontem em estado de “sede vacantis”. O Papa Bento XVI renunciou e abandonou o cargo no dia 27, e o concílio vai agora escolher um novo líder, tarefa que deverá ficar complete até antes da Páscoa. A Igreja Católica assegura que a escolha do novo Papa será célere, e na verdade candidatos não faltam. A dúvida recai sobre a origem do novo sumo-pontífice, e há quem preveja que pela primeira vez a escolha recaía sobre um não-europeu. Faria todo o sentido, uma vez que é nos países em desenvolvimento que a Igreja Católica vai resistindo à crise que se vem acentuando nos últimos anos no Ocidente.
Muito se especula sobre as razões da renúncia de Bento XVI, que volta agora a ser conhecido apenas por Cardeal Ratzinger. Depois da justificação inicial do “cansaço”, apesar de quase inédita, ter sido mais ou menos bem recebida pelos fiéis, fala-se de jogos de poder dentro do próprio Vaticano e de outras razões menos “católicas”. Durante o seu pontificado Ratzinger foi o porta-voz do perdão às vítimas dos crimes de pedofilia cometidos pela Igreja, e durante tantos anos silenciados. Um acto de contrição que nenhum Papa gostaria de sujeitar, apesar da nobreza e coragem do acto. O problema é que se sucedem os escândalos esta natureza, que segundo o próprio Ratzinger “envergonham a Igreja”, e aparentemente é preciso fazer muito mais do que um simples pedido de desculpas.
Desde que Bento XVI anunciou a renúncia, em meados de Fevereiro, tenho visto uma série de responsáveis do clero a remar contra a maré, considerando a decisão do Papa alemão “um acto de coragem”. Ora “coragem”, a bem dizer, não é desistir, mas ficar até ao fim, dê por onde der. Os próprios católicos ficaram sem entender muito bem como um Papa aparentemente consciente e válido desce do trono de Pedro, enquanto o seu antecessor permaneceu até ao fim, mesmo que visivelmente diminuído, numa agonia crescente. Papa que é Papa, morre Papa. As verdadeiras motivações de Ratzinger nunca nos serão dadas a conhecer. É um daqueles segredos cuja resposta será guardada e calada por poucos. Podemos especular, mas nunca vamos saber ao certo.
O que mais me impressionou das imagens da última homilia de Bento XVI na última quinta-feira foi o amor incondicional dos fiéis presentes na Praça de S. Pedro. Ratzinger deixa o Vaticano da mesma forma quando chegou: acarinhado e venerado. Não há dúvidas ou omissões que abalem a fé dos crentes. Como vi um clérico dizer num programa da RTPi sobre a História dos santos da Igreja Católica: “Os milagres não carecem de explicação científica: são uma questão de fé. Ou se acredita, ou não se acredita”. O mesmo se pode aplicar ao caso do Papa que desceu da cruz de Cristo. Quem não acredita, que fique a questionar. Só não espere é encontrar respostas.
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