quarta-feira, 8 de junho de 2011

Yao Jiaxin: um exemplo prático


Yao Jiaxin, pouco antes da sua execução.

Um jovem de 21 anos foi executado na China devido ao homicídio de uma camponesa que atropelou acidentalmente na estrada, e depois esfaqueou-a oito vezes só para ter a certeza que ela “não chateava”. Dei essa notícia aqui no Bairro do Oriente no dia 1 de Dezembro do ano passado, e lá podemos verificar alguns factos que ajudam a perceber melhor a onda de choque que agora se levantou devido a este caso, que poderá ser até objecto de um estudo social mais aprofundado.

Tudo aconteceu a 20 de Outubro de 2010, quando Yao Jiaxin, um estudante de música de 21 anos, de boas famílias, atropelou Zhang Miao, uma camponesa que vinha de bicicleta. Em vez de lhe dar mil renminbis, que certamente fariam a alegria da pobre senhora, Yao fez um julgamento estranho da situação, e em desespero resolveu matar Zhang Miao com oito facadas. Quando foi detido, disse que matou a mulher porque tinha receio que ela lhe viesse a “causar problemas”. Sendo Zhang Miao uma jovem mãe operária, os patriotas chineses da internet exigiram a pena de morte para Yao, e esta foi-lhes servida ontem de bandeja.

Há quem considere a morte de Yao “um desperdício”, uma vez que se tratava de um “jovem inteligente”, e “promissor”, e pode-se mesmo questionar mais uma vez a aplicação da pena capital na China. Mas este desfecho não é mais que a consequência dos actos de Yao, e se deixarmos alguém como ele incólume, é possível que um dia o seu julgamento distorcido venha a causar uma tragédia ainda maior. Por muito "betinho" que Yao Jiaxi fosse, era um indivíduo desequilibrado e perigoso. Um perigo para a sociedade. Concordo que se calhar a prisão perpétua serviria bem, mas com esta decisão a justiça chinesa está a passar uma mensagem importante: vejam o que vos acontece se fizerem o mesmo.


Zhang Miao, jovem mãe operária, deixou marido e filho.

Existe um grande confronto de gerações na China moderna. Os jovens das grandes cidades nascidos a partir dos anos 80, já durante as reformas económicas encetadas por Deng Xiaoping, não têm ideia do que é ser pobre ou passar fome. Alguns são filhos de funcionários corruptos, patos-bravos, especuladores ou caciques e sempre tiveram do bom e do melhor, e para estes todos os outros são os peões no seu jogo. Não há forma de lhes abrir a cabeça e explicar-lhes que a vida humana de um pobre ou de um camponês tem tanto valor quanto a sua.

Olhando para isto aqui de Macau, não nos parece assim uma realidade tão estranha. Os oumunyan e os honconguenses olham para isto como uma coisa normal, acrescentando que os “gajos lá da China são mesmo assim”. É um espécie de bairrismo acentuado. Mesmo aqui à mão de semear temos exemplos da nova classe chic (assim com “c” na ponta), nos novos casinos e lojas caras, gastando o dinheiro que é melhor nem sabermos de onde vem. E ganhamos todos com isto, claro, menos as Zhang Miaos desta vida e outros espertalhões como o Yao Jiaxin que só por terem um pai rico ou importante não são castigados por episódios semelhantes a este.

Era bom educar a juventude chinesa – e falo em geral, que em Macau também temos problemas ocasionais – no sentido de os fazer distinguir o certo do errado, e o errado do desumano. O certo é estudar, trabalhar, lavar os dentes e ser um bom menino, sem dúvida. O errado é ser ganancioso, mesquinho, corruptível e manipulável, tornando-se um cancro para uma sociedade que se quer mais equilibrada e justa. E desumano é fazer o que Yao Jiaxin fez. Não podemos “apagar” as pessoas, nem tirá-las da nossa frente à pazada. Têm muito que aprender, e até lá submeter-se a grandes castigos.

13 comentários:

Anónimo disse...

Os chineses são pessoas muito práticas e simples.Para eles não há malucos,e por isso muitos criminosos são condenados a morte.Eu acho muito bem.Pena que Portugal não tem pena de morte,se tivesse Portugal seria um país muito mais evoluído e justo.

Francisco Torrinha disse...

des+equilíbrio=desequilíbrio e não *desiquilíbrio. Mr. Leocardo isto é erro de palmatória

Anónimo disse...

Espera-se agora os protestos dos paladinos ocidentais dos direitos desumanos, que preferem ter os assassinos bem gordinhos a comerem na cadeia à custa dos contribuintes e não gostam dos números da pena de morte na China. Por mim (e suponho que pela própria China), podem meter as estatísticas pelo cu acima, que condenações à morte por casos destes nunca são de mais.

Anónimo disse...

Numa cultura em que a vida vale tão pouco são comuns os assassinatos por motivos fúteis.
Tanto a pena de morte como a frequência deste tipo de crimes são as duas faces da mesma moeda.

Anónimo disse...

Ora aqui está um defensor dos direitos desumanos...

Anónimo disse...

O anónimo das 21:38 tem toda a razão. Lembro-me de outro caso ainda mais chocante, ocorrido há uns anos também na China, em que dois ou três fulanos assaltaram um banco, matando a caixa, que não ofereceu qualquer resistência. Fugiram num táxi e também mataram o taxista. Depois mataram mais umas quantas pessoas de forma fútil.
Quando, finalmente, a polícia os apanhou, declararam que tinham matado todas essas pessoas porque o assalto ao banco já era um crime punido com a pen de morte. Logo, como já estava garantida a sua condenação à morte caso fossem apanhados, optaram por matar todas as pessoas que pudessem dar pistas para a sua captura. Afinal de contas, isso em nada prejudicaria o seu destino perante a lei.

Anónimo disse...

deveria existir pena de morte em todos os paises principalmente em Portugal, aquela merda mudava logo

Anónimo disse...

O Leocardo que escreve sobre tudo, não comenta o problema da habitação social? Não acha que esperar 16 anos para se poder vender um casa social é muito? É partir do pressuposto que as pessoas não podem aumentar de rendimento, ter uma vida melhor e quererem mudar de casa...

Anónimo disse...

A pena de morte deve continuar a aplicar-se na China para casos extremos como estes. Afinal a Dona que foi atropelada não morreu do atropelamento mas sim de uma acção premeditada após o acidente. A vida humana vale o que vale mas tem que existir respeito e tolerância para que esse valor seja apreciado. Amén!

Os oumunyan e os honconguenses olham para isto como uma coisa normal porque como atadinhos que são não fazem ideia nenhuma do que é a Chian continental, a pátria mãe!


AA

Anónimo disse...

Pois, aqui são muito mais justos... Lembram-se do Luis Amorim? Sim, aquele "camponês" em Macau?

Anónimo disse...

E ninguém comenta os capacetes dos polícias? Muito à frente estes gajos

Anónimo disse...

"declararam que tinham matado todas essas pessoas porque o assalto ao banco já era um crime punido com a pen de morte"

Tem a certeza que assaltar um banco sem fazer vítimas dá pena de morte? Não acredito muito... O que me parece é que é um argumento enormemente falacioso, uma espécie de desculpa para o indesculpável. Provavelmente já levariam pena de morte, mas porque mataram o caixa. Ora, se mataram os outros porque a pena já não seria mais agravada, qual a desculpa para matarem o caixa? Para mim é muito simples: a vida de assassinos deve valer tanto para a lei como vale a vida das vítimas para esses mesmos assassinos: nada! Portanto, sou completamente a favor da pena de morte para assassinos.

Anónimo disse...

È por isso que tantos ladrões aldeões da china continental vão para Macau e Hong Kong cometer crimes,porque não há pena de morte nem prisão perpetua em macau e hong kong.Ainda na semana passada uns chulos foram detidos num hotel em macau por traficar putas chinesas em hoteis em macau.Se fosse na china eram todos condenados a morte.