Queixas? Antes pelo contrário!

Macau voltou a bater o recorde das receitas do jogo no mês de Maio, e um especialista da Universidade do Nevada diz que o maná do jogo no território é "interminável". Isto para mim é a notícia do ano! Parece que o crescimento da classe média na China torna as pessoas mais endinheiradas, com mais vontade de viajar, gastar, jogar, e Macau tem beneficiado muito com isto.

Isto significa que no futuro próximo as já de si muito recheadas receitas cambiais vão inchar ainda mais, e a única coisa que nos pode parar é a tal política de vistos individuias da China. Não parecendo que a China queira Macau ficar mal, pelo menos desde que os nossos governantes se portem bem, a torneira vai continuar aberta. Claro que isto não será eterno, mas com a chegada do novo-riquismo à República Popular, duvido que as próximas duas ou três gerações da China aprendam a não ganhar rios de dinheiro e deitar algum fora.

Macau arrisca-se a tornar-se um emirado onde ninguém trabalha e toda a gente tem um BMW, na melhor das hipóteses, ou apenas mais uma cidade rica da China, onde 2% da população controla 50% da riqueza. Isto acarreta riscos, como o aumento da inflação, do preço do imobiliário, todos esses problemas que continuam a existir apesar das notícias dos recordes nos impostos sobre a jogatina.

Em Macau vigora a teoria do "if you build it they will come", o que quer dizer que basta construir resorts, casinos ou empreendimentos habitacionais de luxo, que há sempre alguém que queira gastar. É difícil imaginar construir a tal habitação social em locais onde se podem construir apartamentos a dez milhões cada, ou mais um hotel-casino qualquer, que por muito que se oiça que "não vão haver mais", continuam a brotar como cogumelos. Só resta saber quais serão as próximas novidades.

Mas com toda esta entrada de capital, pelo menos podemos ficar tranquilos. Quem se preocupa arranjar emprego agora, se pode mergulhar num mar de subsídios sem fim? Protestos? Querem o quê? Tomem lá mais cheques e calem-se só um bocadinho. Estão doentes, o hospital não serve? Tomem lá mais vales de saúde, subsídios para a velhice, autocarros e arroz de borla. Diversificar a economia? Sois parvos ou quê? What’s the point?. Está aí uma mina de ouro que nem Singapura, Taiwan ou outro sítio qualquer podem parar.

Fazendo um (inevitável) parelelo com Portugal, que vai a eleições no próximo Domingo para eleger o próximo carrasco, começo a pensar nos portugueses que estiveram em Macau e são ainda residentes da RAEHK. Será que estão a fazer as malas? Reina um grande optimismo aqui no reino da pacata, o que se poderá caracterizar no futuro por uma grande dose de laxismo provocado pela mosca do jogo. Mas não pensem que me estou a queixar, antes pelo contrário.