Macau, 10 de Junho de 2011

Aqueles sós direi que aventuraram
Por seu Deus, por seu Rei, a amada vida.

Os Lusíadas, canto VII

Hoje comemora-se um pouco por todo o mundo o Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Um nome demasiado pomposo, fiquemos apenas por Dia de Portugal, ou na sua vertente internacional, "Portugal Day". É típico de um povo como o nosso celebrar o seu dia nacional numa data trágica, do desaparecimento do seu maior poeta e da perda da independência para Castela. Seria mais sugestivo festejar assim num dia em que se tivesse obtido ou restaurado a independência, ou no dia das aparições de N. Sra. de Fátima, ou no Natal, ou na Páscoa. Será que Camões também morreu pelos nossos pecados?

Todos os anos cerca de 200 mil portugueses-canadianos festejam o Dia de Portugal durante uma semana em Toronto, culminando numa parada arraçada de festa popular junina que termina no distrito de Little Portugal naquela cidade canadiana. No Domingo, dia 12, o Dia de Portugal vai ser comemorado por milhares de luso-britânicos no Kennington Park, em Londres. O programa, que podem ver aqui, abre com missa, é apresentado por Carlos Alberto Moniz e conta com a presença de artistas como Adelaide Ferreira, Ruth Marlene, Lena D'Agua e Miguel Angelo, ranchos folclóricos, comezaina, tudo do melhor que há. É isto mesmo que acontece na estranja, meus amigos. o Dia de Portugal é muito importante.

Se eu fosse mesmo bom cantor, embebedava-me e cantava um fado vadio neste dia, mas como precisei de trabalhar não consegui cumprir o programa completo das festas em Macau. Não quero nem imaginar como estava na romagem à Gruta de Camões, tal era o calor que fazia. Pelo menos não choveu. Depois há a recepção no Hotel Bela Vista, os habituais salamaleques, o costumeiro e o nada original. Mais uma vez este ano não tivemos um grupo musical, uma entidade em representação do Governo da República (que anda agora em "mudanças", enfim, como referiu o sr. Cônsulm que fez as honras da casa), mas ninguém se chateou muito com isso. Em suma, aqui não temos paradas nem petiscadas ou arraiais como os nossos camaradas expatriados nas Américas. Somos apenas um bocadinho mais simpáticos uns para os outros neste dia.

Gostava de desejar a todos os portugueses espalhados pelo mundo um dia, fim-de-semana ou semana em que comemoram o Dia de Portugal muito felizes e cheio de alegria. Apesar da qualidade dúbia do evento a comemorar (morte do poeta, fim do domínio mundial, perda da independência, etc.), vamos tentar ignorar isso e a actual crise, e no fundo tentar perceber que se calhar esta é afinal a grande motivação da nossa raça lusitana: dar a volta por cima, desenrascar-se como pode. Eu também sou assim muito pessimista, e depois qualquer coisinha que vier de bom é motivo de alegria. Enfim, sou português também.